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Mercosul: um mercado entre a ALCA e a União Européia

Alexandre Foroni e Gabriel de Toledo

O Brasil, nas décadas de 70 e 80, era um país de economia fechada, onde a tecnologia de ponta chegava com enorme defasagem e produtos que hoje são comuns nos supermercados chegavam com preços muito elevados. Naquele período, seria difícil imaginar que chegaríamos na década de 90 como a oitava economia do mundo, e teríamos constituído um mercado comum regional – o MERCOSUL. Imaginemos, agora, uma proposta de, nesta primeira década do século XXI, passarmos a integrar uma economia para a qual se espera um movimento de 8 trilhões de dólares sobre uma população de 1 bilhão de pessoas e que, para a geração deste montante, não existirá qualquer subsídio ou outra barreira condicionada às exportações entre os países envolvidos neste grande mercado. Essa é a proposta dos EUA para a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).

Uma proposta que parece simples mas não é. O que os EUA estão propondo é uma área de livre comércio, mas sem a inclusão do agrobusiness, ou seja, sem qualquer tipo de subsídios ou barreiras para produtos, como celulares e computadores, mas na qual continuariam a ser aplicadas todas as barreiras e subsídios para produtos da agroindústria.

Hoje, ocorrem taxações que variam de 50 a 350% sobre produtos estratégicos do agrobusiness brasileiro, como o fumo e o suco de laranja e o governo americano oferece aos produtores de soja, por exemplo, subsídios que são da ordem de 3 bilhões de dólares. Para evitar que o Brasil se torne competitivo no mercado agropecuário americano, é constante a pressão para que antecipemos o início da ALCA para 2003. Por enquanto, conseguimos manter o calendário para 2005.

Em uma atitude mais ofensiva, os EUA se aproximam dos países latinos americanos, começando pelo Chile, com quem já estão em negociações adiantadas para firmar acordos comerciais unilaterais. A Argentina, que há alguns meses defendia o fortalecimento do MERCOSUL, mudou de posição e hoje defende abertamente a idéia de estabelecer negociações unilaterias com os EUA e acelerar a concretização da ALCA. Para o economista argentino, Adolfo Sturzenegger, “o MERCOSUL é um time de sexta divisão, e para estar em uma economia globalizada deve se jogar em time de primeira”. No caso, a ALCA é este time. O que ele não diz é que, na situação em que certos países do MERCOSUL se encontram, como o Brasil e a própria Argentina, eles até poderão entrar neste time da primeira divisão, só que nunca vão conseguir pisar no gramado. De um modo mais brando, o primeiro-ministro argentino, Domingo Cavalo, já manifestou claramente que é a favor da criação da ALCA. Este deveria estar mais preocupado em honrar os acordos firmados com relação ao MERCOSUL, no entanto, abriu o mercado argentino para produtos vindos dos EUA, União Européia (UE) e Ásia, provocando uma enorme concorrência para os produtos brasileiros.

Se observarmos mais atentamente as decisões tomadas pelo ministro argentino, iremos ver que na verdade ele busca o socorro dos americanos para sair da crise que assola o país, e como contra partida, precisa forçar o Brasil a aceitar a aceleração da ALCA, em detrimento do MERCOSUL. Essas atitudes só enfraquecem o poder de barganha do bloco do Cone Sul perante os EUA.

O Brasil, no papel de líder nato do MERCOSUL, já começa a se articular e estuda outros acordos comerciais. O mais provável seria com a União Européia (UE), que está ameaçada pela própria concretização da ALCA e pelos constantes surtos de doenças que estão atingindo seus rebanhos. Assim a UE, obrigada a repensar o protecionismo agropecuário que vem praticando, resolveu agir e deve estar fazendo uma proposta de negociação para uma área de livre comércio com MERCOSUL, na 5ª Reunião do Comitê de Negociação Bilateral, em Montevidéu, que ocorre neste mês de julho.Com esta proposta, o MERCOSUL estará estudando a melhor oportunidade de firmar um acordo comercial entre blocos, tanto com relação a ALCA quanto no caso de uma maior aproximação com a UE, e poderá fugir dos acordos unilaterais, como está acontecendo com o Chile e os EUA, o que acaba diminuindo o poder de barganha dos países latinos americanos, perante potências econômicas como os EUA e a União Européia.

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Alexandre Foroni e Gabriel de Toledo são graduandos em Zootecnia pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo – Núcleo de Estudos do Agronegócio – NEAGRO/FZEA/USP.

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