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Mesmo com taxação do wet blue, exportações de couro aumentam

O crescimento das exportações brasileiras de couro não tem sido suficiente para encerrar uma antiga disputa que insiste em dividir o setor: a taxa aplicada sobre as vendas ao exterior do couro wet blue. Entre 2001 e 2003, a tarifa sobre os embarques ficou em 9%, como queriam os curtumes que exportam semi-acabados ou acabados e usam o wet blue como matéria-prima. Em 2004, a taxa caiu para 7%, favorecendo as empresas que exportam o material.

Independentemente do impasse, que será tema de duas reuniões envolvendo governo e iniciativa privada neste mês, as exportações do país estão em alta. No primeiro semestre, os embarques totais renderam US$ 630,1 milhões, 24% mais que em igual intervalo do ano passado. Em volume, o salto foi de 31% na mesma comparação, para 164,1 mil toneladas.

No caso específico do wet blue, o crescimento das exportações em valor entre janeiro e junho foi de 20%, para US$ 234,8 milhões, em volume a alta foi de 34%, para 8,5 milhões de “couros”. Em média, a unidade do couro nacional, extraída de um único animal, tem 4,5 metros quadrados.

Já os embarques de couro semi-acabado (crust) renderam US$ 82,1 milhões no primeiro semestre de 2004, 6% menos que entre janeiro e junho de 2003, em volume a retração acumulada foi de 4%, para 1,2 milhão de couros.

No caso dos produtos acabados, finalmente, as vendas externas brasileiras cresceram 37% em valor (US$ 293,3 milhões) e 45% em volume (3,8 milhões de couros), sempre de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

O presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Amadeu Pedrosa Fernandes, afirma que a taxação do wet blue é necessária para equiparar a competitividade das empresas nacionais com concorrentes de países como China, Itália e Argentina, que restringem os embarques de wet blue em prol do valor agregado. “E mesmo as exportações brasileiras de produtos acabados, que estão em alta, sofrerão no longo prazo com a escassez de couro”, diz.

Segundo Fernandes, que também é vice-presidente do Conselho Internacional dos Curtumes (ICT, na sigla em inglês), as exportações brasileiras totais poderiam ser entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões maiores caso os embarques de wet blue fossem inibidos. Em 2003, os embarques de couro somaram US$ 1 bilhão, ante os US$ 930,2 milhões do ano anterior. Também conforme o CICB, investimentos de pelo menos US$ 1 bilhão não estão sendo realizados por conta da atual taxação.

Fernandes é diretor da Arthur Lange, com sede em Turuçu (RS), e afirma que o curtume tem engavetado, por conta da taxação, um projeto de US$ 10 milhões para ampliar em 50% sua produção de couros acabados e para a construção de uma nova fábrica de estofados de couro, que hoje absorvem 60% da produção nacional. “A maior parte desses investimentos represados é de grupos estrangeiros, entre os quais italianos e até chineses”, diz o executivo.

Os frigoríficos que fornecem couro verde para os curtumes querem a isenção de imposto nas exportações de wet blue porque acreditam que o aumento da taxação pode represar o produto no mercado interno, pressionando assim os preços da matéria-prima. Uma fonte de um grande frigorífico, que prefere o anonimato, diz que a maior taxação vai diminuir as exportações do wet blue, beneficiando “alguns poucos curtumes que fazem couro semi-acabado”.

O analista Alcides Torres, da Scot Consultoria, afirma que a taxação do wet blue desagrada também o pecuarista. O motivo é que um eventual aumento da oferta do produto no mercado interno pressionaria o couro verde, vendido pelo frigorífico. Dessa forma, os preços do boi também seriam afetados. “O couro equivale a 12% do preço do animal”, observa Torres. Hoje o quilo do couro verde pago aos frigoríficos está em R$ 2,30 por quilo em São Paulo, estável desde 26 de maio, de acordo com a Scot.

Torres lembra ainda que um fator que estimula as importações de wet blue pelos países é que o processo de transformação do couro verde em wet blue é poluente. Comprando o produto do Brasil, esses países evitam essa fase poluente do beneficiamento do couro.

Segundo a assessoria de comunicação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a taxação das exportações do couro wet blue está em análise, conforme havia prometido o ministro Luiz Fernando Furlan. Será tema de duas reuniões este mês: a do Grupo de Trabalho de Comércio Exterior, no âmbito do ministério, e do Fórum de Competitividade da Cadeia Couro-calçadista, que inclui governo e iniciativa privada.

Fonte: Valor OnLine (por Fernando Lopes e Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint

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