Menos de um ano após vender diversas marcas e unidades de produção para a Marfrig, condição que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica impôs para que autorizasse a sua criação, a BRF já recuperou fatia considerável do mercado ‘cedido’ à concorrente. O movimento frustra a intenção do órgão antitruste, que pretendia criar um rival de peso para competir com a BRF.
Além de não ter conseguido ganhar mercado, a Marfrig já se desfez de plantas e marcas que pertenciam à BRF. Os ativos foram incluídos na operação de venda da Seara Brasil (sua divisão de aves, suínos e alimentos processados) para a JBS, anunciada mês passado.
O segmento de margarinas é um caso emblemático. A meta do órgão antitruste era que a BRF ficasse com apenas 38% do mercado após repassar a tradicional marca Doriana para a concorrente. Contudo, a fatia da BRF (dona da marca Qualy) chegou a 57% no primeiro bimestre, próxima dos 63% anteriores à venda.
Uma das grandes preocupações do Cade durante o julgamento da incorporação da Sadia pela Perdigão, a área de alimentos processados (salsichas, linguiças, entre outros) também viu a BRF recuperar boa parte do terreno perdido. A empresa detinha 59% desse mercado antes da transferência dos ativos para a Marfrig, fatia que deveria cair para 42%, segundo as projeções do órgão antitruste. Entretanto, já no primeiro bimestre, essa participação alcançou 53%.
Bem vista pelos acionistas da BRF, a rápida recuperação da empresa pode ser desconfortável para o Cade, especialmente num momento em que a alta nos preços dos alimentos emerge como uma das grandes preocupações do governo federal.
No mercado, o desempenho da BRF é atribuído tanto à forte estrutura de distribuição da companhia como às dificuldades financeiras enfrentadas pela Marfrig. Um exemplo das dificuldades enfrentadas é que, no quarto trimestre de 2012, de cada 100 encomendas feitas à Seara Brasil, 35 deixaram de ser entregues por ineficiências na área logística.
Os dados que demonstram a rápida recuperação de mercado da BRF podem ser um impulso para que o Cade aprove a compra da Seara pela JBS. Essa pode ser a chance de, finalmente, criar um concorrente para a BRF.
Fonte: jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.