A definição de métricas claras de redução das emissões de poluentes e a mensuração mais precisa dos impactos da criação de gado sobre o aumento da temperatura global são dois dos elementos centrais para o combate às mudanças climáticas, de acordo com um estudo produzido por Sara Place, diretora de sustentabilidade da empresa de saúde animal Elanco, e por Frank Mitloehner, professor e diretor do CLEAR Center, da Universidade da Califórnia. No artigo, que utilizou dados sobre a pecuária dos Estados Unidos, os autores dizem que, até 2050, com a diminuição das emissões de metano em 18% a 32%, seria possível produzir gado de corte e leiteiro no país sem que a atividade contribua para as mudanças climáticas.
O estudo, que foi tema de um dos painéis da reunião anual da Mesa Redonda Canadense de 2021 para Carne Bovina Sustentável, realizada em setembro, avaliou as emissões de poluentes nas pecuárias de corte e bovina nos EUA no intervalo entre 1990 e 2019 e as particularidades sobre os gases que essas atividades geram. Um exemplo que ilustra essas diferenças é a comparação entre as emissões de metano nesses dois ramos da pecuária americana: na de corte, este gás representou 93% dos gases de efeitos estufa em 2019; na leiteira, a fatia foi de 54%.
Essa diferença deve-se a fatores como o tipo de alimento que os animais consomem em cada atividade e também aos diferentes sistema de manejo do esterco. “Ao contrário do que ocorre na produção de gado leiteiro, existem muito poucos sistemas de gerenciamento de rejeito líquido na indústria de carne bovina dos EUA”, explica a dupla de autores.
Diferentemente do dióxido de carbono, o metano é um gás de vida curta. Assim, controlar as emissões desse poluente pode ter um impacto mais imediato na temperatura. “Em outras palavras”, afirmam no artigo, “é preciso quantificar as emissões a partir de seu impacto sobre a temperatura ao longo do tempo”.
Os sistemas agroalimentares respondem por até 37% das emissões de gases de efeito estufa, de acordo com pesquisa que o Centro de Investimentos da Agência da ONU para a Agricultura e Alimentação (FAO) e o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) apresentaram no início deste mês na COP26 em Glasgow, na Escócia – e, nesse universo, a pecuária é uma das maiores emissoras. Mas o tipo ou o volume de poluente que a criação de gado lança na atmosfera não é uniforme nem mesmo quando se compara o rebanho bovino de um mesmo país, como demonstra o artigo.
Destrinchar essas informações é essencial para que se alcance o objetivo de limitar o aumento da temperatura global em até 2°C (mas preferencialmente em 1,5°C), em comparação com os níveis pré-industriais, segundo prevê o Acordo de Paris. É com base nesse detalhamento sobre as emissões de poluentes na pecuária que se pode avançar em outras frentes propostas no artigo, como inovações em nutrição animal e modelos de produção.
Sobre o manejo, Sara Place e Frank Mitloehner lembram que o gado criado em pastagens emite muito mais metano que os animais em confinamento. Isso indica a necessidade de mais pesquisa para que seja possível reduzir as emissões na pecuária a pasto.
Fonte: Valor Econômico.
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O homem e a mata existente
Por Celso de Almeida Gaudencio , Engenheiro Agrônomo em Londrina
No Paraná e em outros estados brasileiros, o homem, como principal componente da ecologia, se mantém graças à atividade rural em áreas consolidadas que estão situadas, na
quase totalidade, no Domínio Ecológico Florestas e Campos Meridionais.
Nesse Domínio, os solos apresentam aptidão para agropecuária e essências florestais, onde são usadas espécies vegetais diversificadas como: anuais, semiperenes e perenes. Essas atividades apresentam potencial de rendimentos crescentes pelo ganho genético vegetal-animal, adoção de sistemas com cobertura vegetal renovável o ano todo, em especial com gramíneas, em sequências de cultivos anuais, na integração agropecuária e no sistema misto lavoura pecuária, associada ou não às florestas. Os sistemas rurais utilizam, na implantação das lavouras, a prática conservacionista do Plantio Direto.
Dessa forma, na elaboração do novo Código Florestal Brasileiro, a chamada Reserva Legal deve ser substituída pelo dispositivo Reserva de Mata Existente.
Depois de demarcada, a Reserva de Mata Existente, sem exigência de área mínima e em qualquer estágio de desenvolvimento, não poderá ser aberta para novos empreendimentos agropecuários. Exceto para projetos de exploração racional dos recursos renováveis ou programas ambientais ou ainda para o cultivo de espécies perenes sombreadas; ou então substituída por essências florestais, para produção de energia e/ou para fins indústrias.
A instituição da Reserva de Mata Existente oferece principalmente segurança jurídica ao produtor rural, sem caracterizar confisco ou quebra do direito constitucional de propriedade. Com isso, a eficiência do uso da terra é aumentada sem que haja ameaças punitivas e, principalmente, sem restrições à liberdade de produzir de forma racional usando o solo, a água e os recursos renováveis disponíveis na propriedade com regras preestabelecidas, como as do Código Florestal Brasileiro. O mesmo dispositivo poderá ser utilizado em outros Domínios Ecológicos, com ou sem exigências mínimas de ocupação da Reserva de Mata Existente.
Espera-se que áreas de aptidão agropecuária ou que estão prontas para a produção de alimentos, não sejam ocupadas, em hipótese alguma, com a chamada Reserva Legal, transferindo essa obrigação de preservação da biodiversidade aos Parques Nacionais, Terras Indígenas e Concessões de Florestas Públicas. Excetuam-se, é claro, o Pantanal, os igarapés, as várzeas irrigadas, os mangues, os brejos férteis, os banhados e outras formações ecológicas especiais, onde deverá haver legislação específica.
Exemplificando: as várzeas irrigadas não necessitarão de Área de Preservação Permanente- APP, exceto nas fontes d’água; e a Reserva de Mata Existente dependerá do Domínio Ecológico onde a atividade estiver estabelecida.
Assim, as áreas consolidadas pela agropecuária e com aptidão dos solos para atividades rurais, continuarão produtivas e sem criar transtorno à produção de alimentos e outros bens de consumo. É óbvio que tudo isso apenas será alcançado pela adoção de sistemas adequados e de boas práticas rurais, preservando as matas e garantindo a existência do homem. 13/04/2012
http://beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/espaco-aberto/o-homem-e-a-mata-existente/