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Mike Nidd, da Nova Zelândia, apresenta recomendações para melhorar frigoríficos da Bahia

Conheça Michael Nidd, especialista neozelandês em frigoríficos, que veio ao Brasil prestar consultoria a frigoríficos na Bahia. Saiba quais são suas recomendações para aumentar a produtividade, eficiência e qualidade sanitária da carne bovina produzida no Brasil.

Em Julho de 2011, a Associação de Frigoríficos do Nordeste- AFIN esteve na Nova Zelândia (NZ) para conhecer o setor frigorífico do país e foi recepcionada pelo neozelandês Michael J. Nidd (Mike), consultor especialista em indústrias frigoríficas pelo mundo.

O BeefPoint conheceu Mike por meio do Alex Bastos, Diretor Executivo da AFIN, e preparou uma entrevista para conhecer mais o sistema de frigoríficos defendido por Mike.

Mike é Engenheiro Industrial, tem mais de 40 anos de experiência com indústrias frigoríficas, é Diretor da Proand, empresa responsável por novos projetos de indústrias já consolidadas e em instalação em várias partes do mundo, como Arábia Saudita, Chile, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Islândia, Rússia, México e recentemente no Brasil.

Sua experiência começou como operador na linha de abate enquanto era estudante. Passou a fiscal do governo de qualidade e higiene em plantas frigoríficas até ter a oportunidade de entrar em uma empresa inglesa de processamento de carne bovina e ovina com quatro plantas na Nova Zelândia. Mike diz que o trabalho foi interessante, pois ficou envolvido com desenvolvimento de novos sistemas e visitava inúmeras plantas buscando aperfeiçoamento de processos, ficando responsável também pelo treinamento das pessoas após as modificações implantadas.

Em 1984, Mike saiu da empresa e junto com um sócio fundou a Proand, especializada em consultoria técnica e design exclusivos para indústria de carne vermelha.

Nos anos 80 e 90, muitas das plantas da NZ já tinham sido desenhadas pela Proand, que tem como significado produção, análise e design. A partir daí foram convidados para montar plantas na Austrália e seguiram conquistando clientes. “Nós acreditamos que o que temos a oferecer é único no mundo”, diz Mike.

Além de projetar novas plantas, a adaptação de plantas existentes é o principal foco de negócio da Proand, sendo esse o motivo de sua visita ao Brasil em novembro/2011, a convite da AFIN para conhecer e analisar plantas frigoríficas de bovinos e ovinos na Bahia.

Nidd defende uma operação nas plantas com velocidade de 30 a 50 animais abatidos/hora, diferente das plantas brasileiras e americanas que tem capacidade de abater de 70 a 100 animais/hora. O método implantado pela Proand otimiza o processo interno da indústria reduzindo necessidade de mão-de-obra, melhorando o controle da higiene e diminuindo as chances de contaminação das carcaças.

Mike diz: “esse é o principal ponto do sistema neozelandês, linhas mais curtas, de 35 animais/hora com 17 a 20 pessoas na planta. Enquanto 100 animais/hora são necessárias por volta de 80 pessoas…”. Ele completa dizendo que na NZ “as plantas trabalham de 6 a 7 dias por semana, as plantas são menores só que com turnos de 16 ou 20 horas de trabalho”.

Outros dois pontos importantes citados por Mike responsáveis por garantir a qualidade final da carne são a lavagem completa dos animais antes de entrarem na linha de abate, diminuindo assim a entrada de contaminantes na indústria; o segundo ponto é a limpeza dos equipamentos e mãos dos funcionários, sendo a lavagem e esterilização constantes. Este segundo ponto depende de muito treinamento até se tornar “automático”, comenta Mike, enfatizando que o treinamento é um ponto chave para o bom funcionamento da linha de produção.

O grande benefício do controle da higiene na indústria é manter a boa qualidade da carne. Segundo Mike, a vida de prateleira da carne neozelandesa é de 16 semanas, o que é necessário ao país devido ao seu mercado consumidor ser praticamente todo no exterior. Quanto maior for a vida de prateleira da carne, menores serão os prejuízos causados pelo tempo de viagem até seu destino.

Questionado sobre o que reparou em sua visita às plantas da Bahia, Mike disse que alguns equipamentos não estavam esterilizados adequadamente, e que na NZ seriam casos de paralisação da planta até sua regulamentação. Como solução, o treinamento dos funcionários seria a melhor opção no caso brasileiro.

Continuando a conversa, o principal ponto negativo observado por Mike no Brasil foi a tecnologia antiquada dos equipamentos utilizados no país em comparação com os equipamentos da NZ, tanto nas plantas para bovinos quanto para ovinos. E são nestes casos que foram levantadas as maiores oportunidades de melhoria, disse Mike, “para tornar as plantas mais eficazes, reduzindo o tempo do processo, custos e mão-de-obra“, com equipamentos que demandam menos pessoas em diversos passos no processo de abate e limpeza da carcaça.

Já os pontos positivos levantados pelo consultor foi a qualidade da carcaça dos animais abatidos, “a conformação da carcaça é fantástica, os animais são maravilhosos”, disse. A receptividade dos brasileiros em começar a implementar as mudanças sugeridas também o surpreendeu positivamente. Principalmente com os objetivos de aumentar a higiene e a vida de prateleira da carne produzida.

Os maiores benefícios a serem alcançados pelas plantas brasileiras após implementarem as mudanças sugeridas são a melhor qualidade da carne, melhor higiene, redução da mão-de-obra, sempre com o objetivo de otimizar a utilização das instalações da planta, permitindo melhor resultado financeiro. Mike incentiva visitas à NZ para verificar o uso dessas tecnologias e ver que é possível implementá-las. Durante toda a conversa ele foca em transferência de tecnologia, dizendo que a utilizada na NZ é aplicável em qualquer outra planta no mundo.

Sobre a redução da velocidade de abate proposta, questionamos se os frigoríficos brasileiros não perderiam em produtividade e Mike respondeu que “não, queremos abater com o maior retorno financeiro possível. Se modificarmos as plantas brasileiras aumentando a eficiência (qualidade e rendimento), abatendo menos animais por hora, fazendo dois turnos de trabalho de 8 ou de 10 horas como na NZ e trabalhando de 6 a 7 dias/semana (no Brasil são 5 ou 5,5), podemos aumentar o número de abate anual com menor necessidade de mão-de-obra e consequentemente maior lucratividade para a planta.”

Sobre o padrão das indústrias frigoríficas pelo mundo, Mike explica que a Austrália tem um alto nível tecnológico, já que o país segue o padrão neozelandês. Explicando o que seria esse alto nível tecnológico, Mike diz que na NZ todas as plantas são preparadas para vender (ou exportar) para qualquer mercado, porque praticamente toda carne produzida é exportada, o mercado consumidor interno é muito pequeno. Por exemplo, todas plantas fazem o abate halal, mesmo que ainda não exportem para países muçulmanos. Mike diz que é preciso se antecipar para aproveitar futuras oportunidades de abertura de mercado. Além disso, todas plantas da NZ são autorizadas à exportar para a UE, aprovadas pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) e também para a China, mercado bastante restrito quanto aos pré-requisitos para importação. Outro ponto favorável à NZ para o mercado internacional é a ausência do vírus de aftosa no país, o que facilita as exportações.

Mike também explica que na NZ “qualquer um pode construir um frigorífico”, e que a fiscalização governamental é feita após a planta estar pronta. Desta forma ele diz que “são livres para desenvolver novas tecnologias por nossa conta, o que é uma dificuldade vista no Brasil, onde não há essa oportunidade. O Governo limita a criação de novas tecnologias”, se referindo ao sistema brasileiro de fiscalização e autorização, que limita o uso só para determinados equipamentos e a burocracia necessária para criação de novas estruturas e/ou equipamentos.

Uma das tecnologias desenvolvidas que Mike descreveu foi um sistema que mede o rendimento da desossa durante o processo e não pelo peso bruto no final da desossa. Nesse sistema, as peças de carne são pesadas assim que desossadas e seu peso é comparado a um banco de dados, indicando qualquer falha no processo caso o peso real estiver acima ou abaixo da média prevista. Dessa maneira é possível identificar a carcaça em questão e a pessoa responsável pelo corte, identificando o erro antes do final da desossa e melhorando seu rendimento. “Acompanhamento de resultados em tempo real, esse é o futuro para o Brasil”, comenta Mike, que pode ser considerado como o futuro da indústria frigorífica para qualquer outro país.

Proand – Michael Nidd

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Matéria escrita por Marcelo Whately, analista do BeefPoint, por meio de entrevista com Michael Nidd e informações de Alex Bastos.

8 Comments

  1. Juliano de Faria Santos disse:

    muito boa a entrevista, tenho uma duvida. Ele considera 17 a 20 operarios para fazer abate de 35 animais/Hora. Ele esta considerando apenas os operarios da linha de abate ou tambem os da secao de miudos, triparia , bucharia , graxaria , currais?’ Obrigado.

    • Marcelo Alcantara Whately disse:

      Obrigado Juliano.
      Vamos enviar a pergunta ao Mike e respondemos por aqui. Ok?
      Um abraço,
      Marcelo Whately

    • Marcelo Alcantara Whately disse:

      Juliano,
      Segundo o Mike, esse número de operários é para a linha de abate: do atordoamento do animal até a pesagem final da carcaça antes da câmara fria.
      Um abraço,
      Marcelo

  2. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Não sou do setor frigorífico e portanto não posso avaliar com segurança, mas vejo sentido na argumentação. Plantas frigoríficas para abates superiores a 1.000 animais/dia tem pouca flexibilidade em situações de oferta de animais restrita, pois possuem custos fixos altos. Estas plantas além de demandarem maior investimento de instalação operam com raios de atuação maiores, implicando ainda na elevação dos custos com frete dos animais. Melhor operar com a possibilidade de 3 turnos uma planta menor. Se a conjuntura é favorável ótimo. Caso contrário basta reduzir o nº de turnos. Com férias coletivas podemos atravessar 3 meses. Se estes 3 meses não forem suficientes é sempre melhor dispensar uma parcela dos funcionários e continuar operando com resultado do que seguir no vermelho uma planta grande até comprometer a saúde financeira da empresa e ser obrigado a paralisar tudo de uma vez. O que interessa não é o faturamento mas sim o resultado gerado pela operação.

  3. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Muito interessante!

    Olha sobre uma das coisas que mais o impressionou: a falta ou pouca assepsia dos equipamentos,bem como na simples lavagem das mãos dos funcionários da indústria.

    Outra coisa que é bastante interessante,por meio de uma tecnologia mas apropriada,com melhoramento de métodos e processos,muito além de se ter menos funcionários por turno,o mais fundamental shelf life,em apenas o dobro em relação ao nosso.

    A padronização e melhoramento dos rendimentos das desossas,além de muito interessante,muito importante!

    Outra coisa bastante interessante,os elogios aos animais.tendo em vista conformação e cobertura.

    A COISA do demasiado e ineficaz intrometimento do estado nas coisas particulares (que nos acorrentam ao século 19.E desta forma alguns empresários do setor ainda pensam também,lamentavelmente!),melhor nem comentar,ou por outra apenas um comentário: Brasil!

    O momento da visita deste senhor não podia ser melhor,que legal!

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÁMTOS.

  4. Miguel Angel disse:

    Muy buena la entrevista, el futuro es con plantas pequeñas optimas en rendimiento y en la mejor calidad del producto final.
    Me gustaria saber para ovinos una planta que hace entre 100 y 120 animales horas cuantas personas trabajan en la linea de faena y en el desosado

  5. Juliano de Faria Santos disse:

    Obrigado marcelo
    Qual seria os pontos do abate que sao automatizados?? A Noria seria mecanizada? Em instalacoes pequenas aqui se utiliza noria manual, e talvez seja a maior fonte de contaminacao que menciona o Sr. michael. seria interesante ter aceso a fotos da etapas de abate de algum frigorifico que le melhorou. Obrigado

  6. rodrigo martins giansante ribeiro disse:

    Isso e pra voces verem como os frigorificos do brasil sao atrasados em tecnologia. Tudo isso causa um numero maior de contaminacao das carcacas. Nao se pode abater 100, 120, 130, 140, 160, 180 animais/hora sem que hajam muitas falhas e muita contaminacao por consequencia. Para uma planta que hoje no Brasil tenha uma mao-de-obra muito bem treinada, muito bem treinada mesmo, seria o ideal, rodar a norea a velocidades por volta de 60 a 80 animais/hora. Infelizmente nao e isso que vemos !!! Ao inves disso os gerentes industriais querem acabar a matanca logo e achando que com isso teem melhor rendimento.
    O que Mike quiz dizer e justamente o contrario, pois se os animais forem abatidos na velocidade correta da norea, de acordo com o numero de funcionarios, inclusive de acordo com o numero de funcionarios abstinentes no dia, alem da qualidade do produto final, tem-se um maior rendimento no peso das carcacas, ou um maior rendimento nos miudos, carne de sangria, carne de cabeca, couro, etc. Alem de que os outros setores, como miudos, bucharia, triparia e graxaria tambem precisariam de menos funcionarios, pois dificilmente ficariam sobrecarregados de pecas.
    A desossa seguiria sua rotina tranquilamente e faria pecas de acordo com a quantidade de funcionarios e velocidade da norea, lembrando sempre que quanto menor a velocidade da norea, maior o rendimento das pecas e maior a qualidade do produto final.
    Um grande problema hoje nas plantas frigorificas e o resfriamento das carcacas em plantas que ainda nao fazem maturacao sanitaria das carcacas por 24h, pois sempre na desossa entram as carcacas do abate do dia anterior e por isso tem-se a necessidade de abater os animais em menor tempo possivel para que no dia seguinte os animais sejam liberados pelo SIF com temperatura adequada para serem desossados.
    Ou uma solucao simples para isso seria construir mais camaras frigorificas e deixar ocorrer a maturacao sanitaria. O duro e convencer o gerente industrial e os donos dos frigorificos a continuarem com a mesma capacidade de abate diaria.