Rastreabilidade: ainda não está claro aonde queremos chegar
21 de novembro de 2003
Sisbov divulga lista de animais incluídos por estado e certificadora
25 de novembro de 2003

Minas Gerais lucra menos do que poderia com carne bovina

O Brasil assume pela primeira vez na história a liderança mundial nas exportações de carne bovina em 2003. Minas Gerais ficará de fora da festa, apesar de contar com o segundo maior e melhor rebanho em termos de qualidade sanitária do País. Só este ano, o Estado está deixando de ganhar R$ 10,9 bilhões por não contar mais com uma rede de frigoríficos equipados para o abate no padrão internacional. Pelo menos 11 deles foram fechados na última década e, atualmente, apenas três estão habilitados para disputar o mercado estrangeiro.

Das 4,1 milhões de cabeças do gado de corte do rebanho mineiro, 68% atravessam a fronteira em pé. Elas são abatidas em outros estados. Depois, voltam diretamente para as prateleiras dos supermercados, transformadas em cortes especiais de carne, já desossadas e empacotadas a vácuo, sendo comercializadas pelo dobro do preço.

Pelos cálculos da própria Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, se a industrialização fosse feita no Estado seriam gerados R$ 3,6 bilhões só com o processamento da carne. Com o aproveitamento do couro, seriam acrescentados mais R$ 2,1 bilhões. Caso esse mesmo couro fosse trabalhado em calçados, bolsas e estofados, seriam outros R$ 5,2 bilhões, totalizando perto de R$ 11 bilhões ao ano.

“Minas está tomando providências para recuperar o tempo perdido”, garantiu o secretário Odelmo Leão. Ele citou como um primeiro sinal de boa vontade a reabertura, em outubro, do Kaiowa, frigorífico de cortes especiais de Janaúba, no norte do Estado. Desativado há nove anos, o estabelecimento retomou as atividades ajudado por incentivos governamentais.

Na prática, entretanto, especialistas do setor alertam que é preciso um pouco mais de “músculo” para entrar na briga pelas exportações de carne. “É a lei de mercado. Os frigoríficos vão se instalar onde estiver o melhor mix”, resumiu o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antônio Camardelli.

Pesa na balança, segundo ele, o fato de que, nos últimos anos, outros estados brasileiros vieram investindo maciçamente em redenção fiscal, melhoria das condições sanitárias e incentivos para a instalação de grandes criatórios e curtumes.

Cada vez mais o gado está migrando para o Centro Oeste, com destaque para o Mato Grosso do Sul, primeiro rebanho brasileiro, com 22,6 milhões de cabeças, seguido de perto por Mato Grosso com 19,4 milhões de cabeças e Goiás com 16,7 milhões. Um caso à parte é São Paulo, que possui o sexto rebanho, mas detém 72% de toda a carne exportada no País.

Menor preço

A pecuária de corte cresce cada vez mais em Minas, enquanto a indústria de carne está quebrando. O contra-senso é explicado pelo diretor de operações da Braspelco, Carlos Gilberto Obregon: “os frigoríficos mineiros pagam menos do que os dos outros estados”.

Pela última tabela de preços, divulgada em 27 de maio deste ano, a arroba do boi gordo em Minas Gerais estava valendo R$ 52 para o macho e R$ 44 para a fêmea. Na mesma época, o mercado estava pagando R$ 60,6 em média, o equivalente a 15% a mais no preço.

Obregon reconhece que a qualidade do rebanho mineiro, especialmente o gado zebu, não deixa nada a dever aos concorrentes. “Basta dizer que 2,8 milhões de cabeças estão indo para outros estados. Esse boi não vai morrer de velhice, ele será abatido e vai gerar riqueza lá fora”, reforçou.

Além de pagar melhor, os estados que estão no páreo da produção de carne no País ainda oferecem incentivos fiscais. Um exemplo disso é São Paulo, que devolve aos frigoríficos paulistas os 12% que eles pagam para comprar a matéria-prima em outros estados. Com isso, consegue anular a taxação de 12% cobrada pelo governo mineiro para a saída do boi em pé.

Comparação

Para nortear a decisão de começar a investir no negócio da carne, o grupo canadense Brascan encomendou um estudo comparativo entre o Triângulo Mineiro e o oeste paulista, regiões onde a multinacional detém propriedades rurais. “Mesmo pagando R$ 1 a mais de frete por arroba e percorrendo até 600 quilômetros de estrada com o gado, ainda vale mais a pena ir para São Paulo”, afirmou Renato Cavalini, responsável pelo braço agropecuário da empresa.

O levantamento apontou que, além de sofrer com a defasagem no preço da arroba e a falta de incentivos fiscais, os frigoríficos mineiros também perdem em qualidade para exportação. Só o oeste paulista apresenta 40 frigoríficos, sendo 17 autorizados a exportar para a Comunidade Européia. Minas tem apenas três aptos a vender ao mercado externo.

Outro fator complicador detectado pelo Brascan é que o rebanho mineiro encontra-se pulverizado em pequenas propriedades rurais, com 600 hectares em média. Isso dificultaria as operações de um frigorífico de grande porte que precisasse abater, por exemplo, de dois mil a três mil animais por dia. “A verdade é que, enquanto todos os outros estados passaram a atrair a agroindústria para se instalar em seus territórios, Minas descuidou da estratégia”, alfinetou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Gilman Viana Rodrigues.

Fonte: Superávit/Estaminas, adaptado por Equipe BeefPoint

Os comentários estão encerrados.