Bovinos de corte criados a pasto estão sujeitos a deficiências minerais, sendo necessária a suplementação mineral para que sejam atendidas as exigências dos animais. O desempenho animal é controlado basicamente pela capacidade genética de ganho e pelo plano nutricional ao qual estão submetidos. Quanto maior o ganho de peso esperado no sistema de produção utilizado, maiores serão as exigências minerais dos bovinos nesse sistema.
A avaliação das deficiências minerais na propriedade pode ser feita através da avaliação do ambiente onde se origina a dieta dos animais. Avaliação das forragens, solo e plantas, são as mais utilizadas para determinação das deficiências minerais. A avaliação da forragem é preferível em relação a análise de solo para determinação das concentrações minerais, sendo as análises de fluidos e tecidos animais mais apropriadas para a representação do ambiente dietético.
O levantamento das deficiências minerais nas pastagens é um importante guia na formulação de misturas minerais para bovinos, porém o ajuste final deverá ser feito baseado também em dados de desempenho dos animais. Nas análises das concentrações de elementos minerais, deve-se levar em conta não somente as concentrações do elemento mineral, mas também a biodisponibilidade do elemento, que se refere as formas pelas quais os minerais podem ser absorvidos e utilizados pelas células e tecidos animais. A presença do elemento mineral na planta forrageira não garante a utilização dele pelo organismo animal.
Vários fatores vão influir na utilização dos minerais pelos bovinos, dentre eles podemos citar o clima, tipo de solo, espécie forrageira, nível nutricional, idade, presença ou ausência de outros minerais, proteínas e carboidratos.
Diferentes níveis de produção vão apresentar diferentes exigências em minerais. A utilização de minerais quelatados na suplementação de bovinos, têm como objetivo garantir máxima absorção do mineral no trato digestivo dos animais, evitando a competição iônica na mucosa intestinal, devido a maiores concentrações de outros minerais.
Produção de minerais quelatados
A palavra quelato vem do grego “chele” que significa garra. São denominados minerais quelatados, compostos formados por íons metálicos ligados (envolvidos) por aminoácidos, peptídeos ou complexos polissacarídeos que proporcionam a esses íons alta biodisponibilidade biológica, estabilidade e solubilidade.
Podem ser utilizadas várias moléculas, que tenham função específica no metabolismo, como ligantes para formação dos minerais quelatados. Essas moléculas devem ter baixo peso molecular e alta capacidade oxidativa (ligante), o que vai depender do tamanho da molécula e da presença de radicais carboxílicos. As principais moléculas utilizadas são os ácidos ascórbico, aminado, cítrico, glucônico e etilenodiaminotetracético. Normalmente um cátion polivalente (mineral) pode se ligar a uma, duas ou várias moléculas para formar um composto mineral organicamente ligado ou quelato.
Segundo a Association of American Feed Control Officials, produtos minerais orgânicos são definidos como:
– Complexos aminoácido-metal: é um produto resultante da complexação de um sal metálico solúvel com um ou mais aminoácidos.
– Quelato metal-aminoácido: é um produto resultante da reação de um sal metálico solúvel com aminoácidos na proporção molar, isto é, um mol do metal para um a três moles de aminoácidos na forma de ligação covalente coordenada. O peso molecular médio dos aminoácidos deve ser de aproximadamente 150 dáltons, sendo que a molécula de quelato não deve exceder 800 dáltons.
– Metal proteinado: é o produto resultante da quelação de um sal solúvel com uma proteína parcialmente hidrolisada.
– Complexo metal polissacarídeo: é o produto resultante da complexação de um sal solúvel com polissacarídeo.
Biodisponibilidade dos quelatos
Biodisponibilidade é considerada uma medida da habilidade de um mineral em sustentar processos biológicos que ocorrem nos animais. A biodisponibilidade de um nutriente é um termo relativo, sempre se referindo ao valor de outro produto usado como padrão (Rosa, et al., 1985). Estudos recentes tem desenvolvido compostos orgânicos semelhantes àquelas moléculas responsáveis pelo transporte de minerais no organismo animal. Sendo assim, a biodisponibilidade do metal na forma quelatada é dependente de três condições básicas na estrutura do composto:
– Forma de ligação com o metal – nos quelatos formados com dois ou três aminoácidos, o íon metálico fica inerte na molécula, entrando com facilidade nas vias metabólicas, pois assume a característica da molécula orgânica.
– Peso molecular da forma quelatada – o baixo peso molecular é a chave para absorção como uma molécula intacta. Se o peso molecular de um quelato for maior do que 800 dáltons, certamente sofrerá prévia hidrólise na luz do trato digestivo e a absorção pela mucosa não será garantida.
– Constante de estabilização do quelato – deve ser constituído de dois ou três anéis de aminoácidos quelantes para serem estáveis. Se a constante de estabilização dos aminoácidos é grande, estes irão resistir à ação das peptidases que quebram as ligações peptídicas internas, liberando o átomo de metal na molécula (Ashmead (1993) citado por Moraes, (2001)).
Absorção dos quelatos
Minerais na forma inorgânica são geralmente ionizados no estômago e posteriormente absorvidos no duodeno, onde o pH ácido determina a solubilidade. Nesse local se ligam a proteínas e posteriormente são incorporados pela membrana das células da mucosa intestinal. A passagem para o interior das células poderá ocorrer por difusão passiva ou transporte ativo. Nessas condições podem ocorrer perdas através da formação de compostos como colóides insolúveis ou competição pelos sítios de absorção entre os elementos minerais, com interações antagônicas que inibem a absorção.
Nos minerais quelatados, o elemento mineral metálico na molécula é quimicamente inerte, por causa da forma de ligação, não sendo afetado por íons livres. Os minerais quelatados são absorvidos diretamente no jejuno, passando diretamente para o plasma. A separação do íon metálico e da molécula ligante ocorrerá somente no local onde o elemento mineral for utilizado.
Geralmente os minerais quelatados apresentam maior biodisponibilidade que as formas inorgânicas, porém esse fato não garante obrigatoriamente melhores desempenhos. Maior biodisponibilidade siginifica que há maior eficiência de absorção. A utilização de minerais quelatados apresentam alguns resultados promissores, porém aumentam consideravelmente o custo do sal mineral, e muitas vezes não apresentam resposta diferente do fornecimento das formas inorgânicas em maiores concentrações.
Referências bibliográficas
Association of American Feed Control Official (AAFCO). Official Publication. Atlanta, 1997.
MORAES, S. S. Novos Microelementos minerais e minerais quelatados na nutrição de bovinos. Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, 2001.
ROSA, I.V. Técnicas de avaliação de suplementos minerais. In: Simpósio sobre nutrição de bovinos , 3., Piracicaba. Minerais para ruminantes. FEALQ, p. 99-112, 1985.