O momento favorável para a exportação de carne bovina e o resultado positivo da política de hedge cambial turbinaram a Minerva Foods no segundo trimestre. O grupo brasileiro, que divulgou o balanço ontem à noite, reportou um lucro líquido de R$ 253,4 milhões no período. Foi o melhor segundo trimestre da história da empresa que, no mesmo intervalo do ano passado, teve prejuízo de R$ 113,3 milhões.
A jornalistas, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, afirmou que o resultado positivo aproxima a empresa de um índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) abaixo de 2,5 vezes, o que permitirá distribuir aos acionistas mais dividendos que o mínimo legal. Conforme política aprovada pelo conselho de administração no início do ano, a Minerva distribuirá 50% do lucro, e não os 25% da lei, caso o indicador de endividamento fique abaixo de 2,5 vezes.
De acordo com Ticle, isso só está ocorrendo porque a companhia se protegeu do impacto negativo que a valorização do dólar causa no endividamento em reais. “Em função da política de hedge e da geração de caixa, a dívida ficou praticamente estável”, destacou o executivo.
Não fossem os instrumentos para proteção cambial, a dívida líquida teria crescido mais de R$ 400 milhões, segundo Ticle. No fim de junho, a dívida líquida do grupo somava R$ 5,4 bilhões, valor próximo do registrado em 31 de março.
Como o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) cresceu expressivamente — neste caso, a alta do dólar beneficia a receita com as exportações ) —, a alavancagem vem caindo. Em junho, o índice estava em 2,6 vezes. Um ano antes, esse indicador estava em 3,8 vezes. Também houve queda em relação ao primeiro trimestre, quando a alavancagem alcançava 2,9 vezes.
Além de permitir o processo de desalavancagem, cumprindo promessa feita aos investidores quando fez um aumento de capital privado em 2018 — e também na oferta subsequente de ações (follow on) realizada no começo do ano —, a política de hedge contribuiu com a geração de caixa da Minerva. O vencimento de parte dos contratos de derivativos de balcão com os quais o grupo faz o hedge cambial representaram o ingresso de cerca de R$ 215 milhões no segundo trimestre no caixa da empresa.
Do ponto de vista operacional, o resultado também foi positivo, de acordo com o presidente da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz. O Ebitda somou R$ 590,2 milhões no segundo trimestre, incremento de 62% na comparação anual. A margem Ebitda foi de 13,4%, nível poucas vezes visto, sobretudo em um segundo trimestre. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a margem subiu 4,4 pontos.
A valorização do dólar perante o real também ajudou a sustentar o aumento do faturamento da companhia. Entre abril e junho, a receita bruta no mercado externo atingiu R$ 3,3 bilhões, avanço de 16,1% na comparação anual. No mercado interno, porém, a receita caiu 7,7%, somando R$ 1,3 bilhão. Com isso, a receita líquida da Minerva cresceu 9,3%, para R$ 4,4 bilhões.
De acordo com Galletti, a resultado alcançado pela Minerva foi obtido mesmo diante dos impactos da covid-19 sobre a economia. Segundo ele, o comportamento do mercado foi muito mais “volátil” no segundo trimestre, o que exigiu agilidade dos executivos do grupo. Além disso, acrescentou o executivo, a Minerva trabalha com capacidade reduzida a cerca de 70% como uma das medida de proteção aos funcionários contra a coronavírus.
Enquanto navega em meio às incertezas da pandemia, a Minerva busca avançar na área de inovação, com três braços: uma área de análise avançada de dados, um fundo de venture capital e a criação de uma plataforma de comércio eletrônico e marketplace destinada para as compras de clientes — especialmente de pequeno e médio varejo.
Em entrevista ao Valor, Ticle disse que o fundo de venture capital anunciado na semana passada pela Minerva contará com US$ 30 milhões para investir em startups. “O primeiro investimento está na fase final de negociação. Acho que será concluído nos próximos 45 dias”, disse. A primeira investida deve ser em uma startup do Vale do Silício — o executivo não revelou o nome. A ideia do fundo é investir em cerca de dez startups, disse Ticle.
Fonte: Valor Econômico.