O plano A da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para garantir o abastecimento de fertilizantes no Brasil é buscar novas alternativas de fornecedores ao redor do mundo e se precaver de eventuais interrupções nas exportações de potássio e ureia da Rússia. É o que todos os países importadores desses insumos estão fazendo por causa dos reflexos da guerra no mercado de adubos – e não existe plano B.
O governo também fala em retirar entraves logísticos nos portos para facilitar o recebimento de fertilizantes nos próximos meses e confia nas orientações técnicas da Embrapa para os produtores reduzirem a adubação sem perder rendimento.
A ministra vai ao Canadá na próxima semana para uma conversa “mais firme” com empresários do segmento de adubos do país, com os quais já se reuniu por videoconferência recentemente para tentar ampliar as vendas de potássio ao Brasil. O Canadá é o maior produtor mundial do nutriente e cogita reativar minas hibernadas para suprir parte do déficit que pode surgir com os entraves no Leste Europeu.
Há grande ceticismo no mercado quanto à disponibilidade de volumes adicionais de potássio no mundo a curto prazo. Fontes do segmento também teceram duras críticas à declaração da ministra de que há um grande estoque de passagem no Brasil, capaz de garantir a adubação das lavouras até outubro. “Nossos estoques vão durar três meses”, afirmou um executivo. “Entendo que a declaração ocorreu no sentido de tranquilizar o mercado, mas ela é preocupante porque pode dar uma tranquilidade que não existe”.
Em coletiva de imprensa, a ministra afirmou hoje que buscará diálogo também com o Chile para a importação de potássio. Ela quer ainda ampliar as conversas com países do Oriente Médio, como Arábia Saudita e Catar, que são produtores de petróleo e ureia — outro insumo essencial na agricultura brasileira e que o Brasil importa em grande quantidade da Rússia.
A outra preocupação é logística. “Os portos que têm que estar preparados para a chegada de fertilizantes. Já estamos conversando com o Ministério da Infraestrutura e com a Receita Federal para, daqui a dois ou três meses, termos um fluxo mais rápido na chegada dos fertilizantes nos portos, uma prioridade, abrirmos um canal verde”, afirmou.
A ministra disse, ainda, que o mercado mundial de fertilizantes “travou” e que há muita desinformação sobre o assunto. Ela ressaltou que não existem proibições oficiais para exportações de Belarus e Rússia ao Brasil, mas admitiu que as sanções financeiras aos dois países, com a remoção de bancos do sistema Swift e a resistência das seguradoras em proteger as cargas, dificultam as negociações.
Sobre a mesa da ministra repousa, por fim, o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), que será anunciado até o fim deste mês, poucos dias antes de ela deixar o cargo. Sem dar detalhes, Tereza Cristina lembrou que a política terá incentivos tributários e recursos para investimentos no ramo, além de maior agilidade na concessão das licenças ambientais, mas sem precarizar o controle da atividade. “Não tem solução mágica”, resumiu. Especialistas lembram que as fontes de produção disponíveis no Brasil também são mais limitadas do que sugere o plano.
Assim, o plano não só não vai resolver os problemas imediatos e emergenciais como tem chances de não prosperar. Além de limitadas, as fontes de exploração de fertilizantes no Brasil enfrentam forte resistência de ambientalistas. Muitas das jazidas identificadas estão próximas ou dentro de reservas indígenas, e outras têm baixos teores de nutrientes.
Em nota, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) disse que faltam políticas públicas de apoio ao setor mineral e investimento em pesquisa geológica no país. Além disso, há desafios tributários, como a isonomia de cobrança de ICMS sobre o insumo importado — que atualmente tem vantagem — e o produzido no país.
“O déficit na balança comercial brasileira de fertilizantes é reflexo não apenas da demanda aquecida do setor agrícola, mas também da estrutura de produção e da deficiência de insumos domésticos”, disse o Ibram.
Fonte: Valor Econômico.