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A ‘moda’ brasileira da micotoxina no ambiente zootécnico

Micotoxinas são substâncias produzidas por fungos (mofos) que podem estar presentes nas silagens e em outros ingredientes da ração (milho; caroço de algodão; polpa cítrica) e que podem afetar a saúde animal e, até humana, pois a aflatoxina (tipo de micotoxina) pode ser excretada no leite e causar-nos câncer.

Em 2006, eu utilizei este espaço pela primeira vez para falar sobre a presença de micotoxinas nas silagens e uma possível contaminação do leite. A intenção naquele momento era única: Alertar o governo e a indústria que teríamos que pensar nisso no futuro. Por quê? Porque desde os anos 90 a comunidade europeia e norte americana vinham apontando essa possível interferência negativa no leite e então vinham criando regras rígidas.

Como estamos num mundo globalizado e exportamos produtos lácteos é natural que algum dia alguém iria exigir regras internas que acompanhassem as internacionais. Daquele período para cá se passaram oito anos e durante esse período o governo brasileiro, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, criou em 2011 a RDC-7 estabelecendo limites de micotoxinas em alguns alimentos destinados a alimentação humana, inclusive o leite. Especificamente para o leite e produtos lácteos os limites são iguais aos americanos, os quais são mais permissivos que o europeu.

Somado a isso, muitos pesquisadores começaram a criar linhas de pesquisa sobre a presença de micotoxinas na ração animal e os seus efeitos sobre a saúde animal e contaminação do leite. Muitos deles posicionaram estes estudos como principais e tem divulgado isso de forma intensa. Bem, aquelas pesquisas que relacionam as micotoxinas com os possíveis efeitos sobre a saúde e reprodução animal eu entendo que devem ser tratadas como prioridade, pois respostas estão buscadas para resolver problemas que afetam a rotina das fazendas.

Contudo, a relação em presença de aflatoxina na ração e a excreção no leite é um assunto que deve ser tratado com cautela. Por quê? Porque grande parte do nosso leite ainda é vendida de forma não fiscalizada (informal). O leite fiscalizado ainda sofre para se adaptar as regras básicas. Ou seja, presença de aflatoxina no nosso leite e punição é algo para um futuro. Não temos laboratórios e pessoal treinado para tal. A análise de aflatoxina é muito complexa e somente pouquíssimos laboratórios no nosso País são capazes de realiza-la.

Portanto, temos que resolver os problemas básicos e, posteriormente, investir pesado em micotoxina. De nada adianta seguirmos a tendência europeia e norte americana. Eles são países de primeiro mundo e com um sistema de produção de leite diferente do nosso. Pesquisa não pode seguir ‘moda’. Pesquisa precisa ser tratada com seriedade e investimentos precisam ser dados aos problemas que os produtores enfrentam no dia a dia.

Outra preocupação é que falar de contaminação de leite neste momento pode criar um pânico na população. Pessoas podem parar de ingerir leite porque vão pensar que leite causa câncer. É que o chamamos de ‘tiro no pé’. As pesquisas neste País precisam ser mais organizadas e discutidas. Governo, indústria, academia e produtor precisam se reunir e tratar os assuntos de forma mais profissional.

Um pesquisador que posiciona, neste momento, o efeito da aflatoxina sobre a composição e produção do leite está deixando de estudar outros assuntos que são mais relevantes para os produtores. Vamos deixar a Europa e a América do Norte estudar isso, pelo menos, por enquanto. Vamos focar nas respostas que os produtores estão ávidos para receber. Pensem nisso!

Por Thiago Fernandes Bernardes.

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