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7 de fevereiro de 2012
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Módulo de produção de bovinos em confinamento

A análise econômica na atividade pecuária é indispensável para o bom rendimento da atividade. Planejar é a palavra chave para se obter sucesso na produção de carne e o confinamento de bovinos é lucrativo se os pecuaristas detiverem os conhecimentos necessários para implementar uma gestão produtiva. Artigo escrito por Erika Tagima Marcelo (Graduanda em Zootecnia – FMVZ/UNESP/Botucatu/SP), Marco Aurélio Factori (Zootecnista, Pós - Doutorando – FMVZ/UNESP/DMNA/Botucatu/SP) e Rodrigo Dias Lauritano Pacheco (Zootecnista, Dr. em Zootecnia)

Sendo o Brasil um grande produtor de carne é fundamental que o produto final (boi gordo) tenha qualidade para atender as exigências de mercado. Para isso, os sistemas de produção devem se adequar, no entanto necessitam de manejo que proporcione animais bem acabados, ou seja, de maior qualidade e a medida do possível, com menor custo.

Em confinamento são mais comuns as fases de engorda e terminação, ou seja, peso ideal para abate com espessura mínima de gordura, entretanto, atualmente é utilizado também para as categorias como, bezerros desmamados, novilhos e novilhas, e vacas de descarte até atingirem peso de abate.

Segundo Moreira et al. (2009), no Brasil, o confinamento de gado de corte se tornou expressivo a partir de 1980, com o fornecimento de alimentação, água e suplementos aos animais nos meses de inverno (junho a setembro) em função da estacionalidade de produção de forragem (entressafra). Cabe ressaltar que o sistema de produção intensiva de bovinos confinados é crescente e apresenta maior densidade na região Centro Oeste devido a logística de produção de alimentos, menor custo da terra e oferta de mão de obra mais acessível. Assim, ressaltam Peixoto et al. (1989) algumas vantagens da prática de confinamento que dentre elas estão o alívio da pressão de pastejo, abates programados, liberação de áreas de pastagens para utilização do plantio de outras culturas, redução na idade de abate, maior qualidade de carne (melhor acabamento de carcaça), além, dentre outros, de permitir a produção de esterco que pode gerar mais uma renda ao produtor.

Todavia, a análise econômica na atividade pecuária, atualmente, é indispensável para o bom rendimento da atividade. Planejar é a palavra chave para se obter sucesso na produção de carne. A engorda em pasto, ainda é responsável por grande parte da produção pecuária no país que contribui com 90 % dos animais abatidos, porém o confinamento de bovinos é lucrativo se os pecuaristas detiverem os conhecimentos necessários para implementar uma gestão produtiva, desde que esta atividade seja desenvolvida em módulos adequados, ou ainda, dentro da escala de produção em virtude das menores rentabilidades quando comparados com sistemas em pastagem. Os fatores de produção (insumos, mão de obra e alimentação) são usados como variáveis importantes no planejamento de custos e despesas da propriedade (Lopes e Magalhães, 2005).

Segundo Moreira et al. (2009), o controle no sistema do confinamento permite conhecer com profundidade os custos e despesas fazendo uma análise econômica acerca dos fatores mais dispendiosos da propriedade localizando assim, os gargalos da produção animal.

Um dos maiores custos dentro do confinamento é com certeza a alimentação. Segundo a literatura, cerca de 70% dos custos estão relacionados com o manejo alimentar (Cervieri et al. 2009).A partir deste fato, a utilização de resíduos da indústria, como a polpa cítrica e ainda da indústria alcooleira (bagaço de cana) dentre outros, torna-se fundamental para reduzir custos e viabilizar o sistema. Muitas vezes, em função da reduzida margem de lucro em alguns sistemas produtivos e da região que estes se encontram, utilizar-se de um subproduto é uma opção para se obter lucro, porém, em algumas regiões a melhor opção ainda seria o milho e soja.

O objetivo deste artigo é avaliar economicamente de forma simplificada os custos de investimentos iniciais para produzir em confinamento levando-se em consideração os custos com instalações, maquinário, alimentação, mão de obra e animais, bem como a venda destes somada ao esterco oriundo do sistema.

Para esta análise devemos considerar que o sistema será desenvolvido em locais que permitam a facilidade para compra e venda dos animais terminados (centro de consumo) e acesso fácil para aquisição e/ou produção de alimentos (centros produtivos), sendo estes os principais requisitos para se começar a atividade. A área destinada ao confinamento deverá ser distante de rodovias para se evitar contaminações, estresse nos animais e eventuais furtos.

Para cálculo dos custos (Tabela 1), serão levados em consideração um centro de manejo dos animais (com brete de contenção e balança de pesagem), preparo de alimento para os animais (vagão forrageiro), conservação e armazenamento (galpão para sacaria) dos alimentos, área para os currais de engorda, galpões de máquinas e equipamentos e instalações de gerência.

No confinamento em questão será utilizado o sistema de recria e engorda, ou seja, utilização do animal após a desmama sendo abatido com aproximadamente 17 arrobas de carcaça. As raças utilizadas serão a nelore e meio sangue (módulo para 500 animais), sendo por volta de 80% machos e 20 fêmeas, para alcançar o objetivo de ganho de peso médio diário de 1,3 kg por animal (ganho este variável de acordo coma dieta e potencial genético do animal) com aproximadamente 100 dias de confinamento, o qual também varia de acordo com o ganho de peso.

A alimentação será toda comprada sendo feito na propriedade apenas a mistura do volumoso e concentrado, bagaço de cana e ração farelada, respectivamente. Serão utilizados para efeito de cálculo por volta de 2,3 kg de massa seca de bagaço de cana por animal e 4,2 kg de ração, com relação de volumoso e concentrado de 30:70. Serão considerados dois tratos diários, por volta das 8 e 16 horas. Os animais chegarão ao confinamento com por volta de 300kg de peso vivo e serão abatidos com 470-490 kg ou 17 arrobas de carcaça exigidas para qualidade e acabamento. A água utilizada no sistema será de fonte natural que chegará até os bebedouros dos animais por gravidade.

Para efeito de diluição de custos de implantação, na Tabela 2 estão dispostos os custos iniciais diluídos para 10 anos de utilização e pagamento. Os custos fixos, como ração, mão de obra, impostos e telefones não foram diluídos e sim apresentados integralmente para custeio anual do projeto. A mão de obra empregada será de 2 funcionários e os encargos já estão inclusos nos custos dispostos.

Para a receita dos animais, foi considerado que a arroba do boi está a R$ 93,00 (preço que variável de acordo com a região e inflação) e a venda do esterco (considerada em quase todos os sistemas de confinamento) será de R$0,01 o kg ou R$ 10,00 a tonelada para ser retirado na propriedade. Assim, na Tabela 3, estão dispostos a renda do sistema para a venda anual de 500 bois com 17 arrobas de carcaça ou aproximadamente 470 kg de peso vivo.

Para balanço geral da propriedade observa-se na Tabela 3 que ao considerarmos os custos e venda de 500 animais obtivemos lucro mensal de R$ 3800,52. No entanto, se utilizarmos 331 animais o sistema encontra-se com lucro de R$ 18,00 que podemos considerar o mínimo para que a propriedade não entre em prejuízo.

Desta maneira, os sistemas que se utilizam do confinamento com estratégia de produção devem estar bem planejados e dinamizados a fim de obterem lucros consideráveis. Todavia, estes sistemas devem trabalhar com o número ajustado de animais para se obter maior produtividade e lucratividade. Este número está relacionado com a posição geográfica da propriedade, disponibilidade de ingredientes para formulação da ração associando logística e destino final do produto.

Artigo escrito por Erika Tagima Marcelo (Graduanda em Zootecnia – FMVZ/UNESP/Botucatu/SP), Marco Aurélio Factori (Zootecnista, Pós – Doutorando – FMVZ/UNESP/DMNA/Botucatu/SP) e Rodrigo Dias Lauritano Pacheco (Zootecnista, Dr. em Zootecnia)

 

Referências Bibliográficas

CERVIERI, R. C.; CARVALHO, J. C. F.; MARTINS, C. L. Evolução do Manejo Nutricional nos Confinamentos Brasileiros: Importância da Utilização de Subprodutos da Agroindústria em Dietas de Maior Inclusão de Concentrado. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE NUTRIÇÃO DE RUMINANTES, 2., 2009, Botucatu. Recentes avanços na nutrição de bovinos confinados: Anais… Botucatu: UNESP, Faculdade de Ciênicas Agronômicas, 2009. p.2-22.

LOPES, M. A.; MAGALHÃES, G.P. Análise da rentabilidade da terminação de bovinos de corte em condições de confinamento: um estudo de caso. Arquivo Brasileiro Medicina Veterinária Zootecnia, Lavras, v. 57, n. 3, p. 374-379, 2005.

MOREIRA, S. A; THOMÉ, K. M; FERREIRA, P. DA S; BOTELHO FILHO, F. B. Análise econômica da terminação de gado de corte em confinamento dentro da dinâmica de uma propriedade agrícola. Custos e Agronegócio on line – v. 5, n. 3, p. 132 – 152 – Set/Dez – 2009.

PEIXOTO, A. M.; HADDAD, C. M.; BOIN, C. BOSE, M. L. V. O confinamento de bois. 4. ed. São Paulo: Globo, 1989.

 

 

3 Comments

  1. André Mendes Jorge disse:

    Érika e equipe, parabéns pelo artigo e abordagem econômica. André Jorge

  2. Éberson de Castilho Barnabé disse:

    parabens!

  3. Daniele Salomão disse:

    Muito bom!