A indústria quer se manter na Amazônia como fonte de renda e desenvolvimento para a região. Mas não pode ser mais conivente nem com o desmatamento e nem com a invasão de áreas públicas. Não do ponto de vista legal, não do ponto de vista comercial e nem do ponto de vista ético.
Há frigoríficos na Amazônia? Sim. E porquê? Porque há bois na Amazônia. Na região Norte o rebanho que em 1974 representava 2,4% do rebanho nacional representa hoje quase 20%. E porquê há bois na Amazônia? Porque durante décadas a fio o governo brasileiro investiu em obras de infra-estrutura, projetos de colonização e subsídios para atrair gente e promover a ocupação de uma imensa parcela do território parcamente povoada. E conseguiu, hoje cerca de 25 milhões de pessoas vivem na Amazônia.
Com o novo paradigma da preservação ambiental, tenta-se hoje reverter este movimento de ocupação. Mas é preciso lembrar que aqueles 25 milhões de habitantes precisam de uma fonte de renda para sobreviver.
A pecuária e a indústria da carne são fontes de recursos essenciais em certos municípios da Amazônia. Está claro que banir estas atividades só iria piorar a situação ambiental desses lugares uma vez que as únicas fontes de renda alternativas nessa fronteira são a madeira e o carvão, e talvez o tráfico de animais silvestres. Artesanato e venda de copaíba para shampoo não são capazes de sustentar 25 milhões de pessoas.
Não obstante, em junho do ano passado, a publicação do relatório A Farra do Boi na Amazônia, pela ONG Greenpeace foi o estopim de uma série de pressões contra a indústria da carne atuante no Bioma.
O relatório desencadeou o Termo de Ajuste de Conduta assinado entre o Ministério Público Federal e os frigoríficos no Pará, e posteriormente no Mato Grosso, e novas exigências de garantias de origem por parte de clientes nacionais e internacionais dos frigoríficos. Mais do que isso, a questão do desmatamento vem sendo usada por países concorrentes do Brasil no mercado de carne internacional como uma arma de propaganda contra a carne brasileira.
A indústria tornou-se pró-ativa no controle da cadeia, e encontrou no geoprocessamento uma ferramenta a mais para monitorar o fornecimento de matéria prima, além das que já eram usadas como a lista de áreas embargadas do IBAMA e a lista suja do Ministério do Trabalho.
A ABIEC desenvolveu com uma empresa de geoprocessamento uma ferramenta para auxiliar as empresas Associadas atuantes no Bioma a selecionar seus fornecedores.
Como funciona?
Os dados geográficos dos fornecedores são cruzados com os polígonos vetoriais de Terras Indígenas e Unidades de Conservação demarcadas e com dados de desmatamento disponibilizados pelo INPE.
Com isso são identificadas:
• Propriedades com limites conflitantes com fronteiras de TI’s e UC’s;
• Propriedades com alertas e ou com polígonos de desmatamento coincidentes com sua área de abrangência;
• Zonas de risco, com maior intensidade de conflitos e ou desmatamentos;
Obviamente quanto melhor a qualidade da informação geográfica disponível, mais preciso é o resultado do monitoramento. Um ponto de GPS de navegação não confere a mesma qualidade de análise do que um perímetro georreferenciado com certificação da propriedade.
Por isso uma propriedade suspensa por ter um ou mais dos critérios acima detectados na análise espacial, poderá sempre fornecer uma melhor informação geográfica para que uma nova análise confirme ou não o resultado.
A indústria quer se manter na Amazônia como fonte de renda e desenvolvimento para a região. Mas não pode ser mais conivente nem com o desmatamento e nem com a invasão de áreas públicas. Não do ponto de vista legal, não do ponto de vista comercial e nem do ponto de vista ético.
Do projeto da ABIEC participam as empresas Minerva, Marfrig, Frigol e Independência. Outras em breve virão engrossar o coro das indústrias que atuam de forma responsável no Bioma. O resultado do esforço, até o próprio Greenpeace reconhece: “A apresentação desses números é uma clara e bem-vinda sinalização de que o setor está de olho nas novas exigências do consumidor preocupado com o meio ambiente em todo o mundo…Também vamos cobrar daqueles que ainda não assumiram nenhum compromisso com a floresta. Os consumidores precisam saber quem ainda não está se mexendo para tirar o desmatamento de seu negócio.”
Estamos à disposição para esclarecer dúvidas dos leitores sobre esse processo.
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Apreciei o artigo, principalmente o que está referido no primeiro parágrafo que é uma das justíssimas razões que sempre os agricultores, pecuaristas e associações, ligadas à atividades agropastoris, levam à mesa de discussão. Estas e outras razões, para não delongar,são rechaçadas pelos ambientalistas de gabinete ou românticos que não priorizam o homem, que é a razão de ser de toda a criação/natureza. No entanto, é claro que somos a favor do cuidado ao meio-ambiente. Obg.
Boa tarde Fenrnando Sampaio,
A amazonia tem uma população de 25 milhoes de habitantes?
Em qual município da Amazonia existe industria de carne essencial para renda?
Por acaso, neste momento, estou em Manaus, mas sou do Rio de Janeiro.
Att.
Pedro
Pedro,
Você deveria saber, já que a empresa onde você trabalha JBS/Bertin é a que mais plantas frigoríficas tem no Bioma.
Um abraço,
Fernando pelo jeito o pedro ainda nao conhece o que e o continente amazonia e os 25 milhoes de pessoas que aqui vivem mas em minha regiao o jbs tem duas plantas arrendadas do falidoquatro marcos e o jbs veio a gerar mais de 650 empregos diretos na regiao e garantir uma certa competividade no preco do boi na regiao. quanto a nos que estamos na amazonia e bom que todos os brasileiros saibam que somos nos que damos a garantia de soberania neste imenso territorio que guarda imensas riquezas naturais para o futuro do nosso querido brasil, precizamos de mais apoio e compreensao e somos sabedores e responsaveis para produzir com qualidade e com resposabilidade ambiental estou a mais de 30 anos em alta floresta, amazonia matogrossense sou vice presedente do sindicato rural do qual fui presidente e realizamos 4 feiras agropecuarias expoalta com gande destaque para a pecuari de corte e os leiloes e rankin do nelore portanto a todos os brasileiros olhem com carinho para os irmaos brasileiros que integram este imenso territorio ao brasilll obrigado.
Na época em trabalhei no Maranhão,tive a oportunidade de sobrevoar,num monomotor, parte do Maranhão e parte do Pará,o frigorífico em trabalhei tem plantas nos dois estados.
Era de cortar o coração o desmatamento desenfreado,bem como as queimadas realizadas por lá na época.
Acho que o companheiro Celso Crespim Bevilaqua,esta correto,quando fala em soberania,também é muito importante,realmente,que as indústrias frigoríficas estejam presentes no bioma,há de se gerar renda com dignidade.
A pergunta do Pedro me remete a outra:Quantos vendedores de carne sabem realmente o que e como estão vendendo?
Pedro,lhe aconselho estudar mais sobre o setor ao qual você esta fazendo parte.
É lastimável ver a renovação pregada pelas indústrias do setor,em relação a mão de obra,falo exclusivamente da mão de obra comercial.É certo que todos merecem a oportunidade de aprender,mas é deprimente concluirmos que a única coisa que estas empresas,bem como os níveis intermediários estão pregando,é troca exclusivamente por salários inferiores.
Como podemos pensar em encaminhar o setor a decommoditização,as vezes chego a desanimar.
Saudações,
EVÁNDRO D. SÀMTOS.
Fernando Sampaio,
Boa tarde!
Eu e meu marido estamos investindo em Rondônia desde 1987. Nesta época não existia qualquer infra-estruturas na cidades. A população sofria demais. Imagine os filmes de bang bang italiano! Esta foi a imagem que ficou gravada em minha mente. Vi jovens com aspecto envelhecido, pele queimada pelo sol intenso, crianças com vermes, falta de saúde pública e educação, falta de instrumento de comunicação (telefone, telex, fax). Estes benefícios´, comum no SUL do País, faltam ainda em Rondônia. Por outro lado, nossos jovens que vivem em áreas mais desenvolvidas, onde as facilidades estão ao alcance de suas mãos, jamais vai conseguir entender, absorver o que foi e o que esta sendo a vida dos colonizadores da Amazônia. Por isto, os comentários com certo desdém que fazem sobre a região e seus moradores e, de certo modo até incriminando-os pelos prblemas ambientais hoje existentes, que a meu ver é originário na Revolução Industrial e no consumo exacerba dos que dispõem de “grana” p/ tal.
Fernando Sampaio, precisamos mostrar a Amazônia para essas “crianças” que pensão que carne dá em árvore ou surge com um toque de mágica na gondola do supermercado.
Parabéns.
Meus caros,
Eu sou um admirador do meu amigo Fernando. Trata-se de pessoa de conhecimento profundo, respeitado, que estuda e conhece o setor. Infelizmente não temos tantos “Fernandos” no Brasil como deveríamos.
O seu conhecimento é vasto. Seu interesse e vontade de fazer o bem maiores ainda! Sou uma pessoa privilegiada em ter conhecido e trabalhado com profissional de tamanho gabarito e inteligência.
Uma pena que nem todos, como o desinformado Pedro, tenham tido a oportunidade de conhecer o Fernando e com ele muito aprender.
Fernando, seu trabalho é admirado e reconhecido. Você, no pouco tempo que está na ABIEC, já ajudou muito o País. Meu obrigado sincero.
Um abraço a todos do,
Otávio Cançado
Fernando…
Só espero que seu software não seja um tiro no pé do pecuarista.
Veja o que ocorre hoje já no Mato Grosso. Produtores pressionados pelos frigoríficos, sem saber se aderem ao MTLegal ou se esperam a reforma do código florestal.
A Famato está de olho e a ABIEC deveria vir engrossar o coro para fazer ouvir a voz do produtor.
Ninguém quer ser ilegal. Mas custa muito ser legal ($).
Entendo que compradores tem o direito de eleger seus fornecedores baseados em critérios que julguem importantes. Da mesma forma fornecedores tem o direito de eleger clientes para os quais deseja fornecer baseados em critérios que julguem importantes. Assim são as relações comerciais.
Uma construtora, por exemplo, pode exigir de seus empreiteiros a comprovação do cumprimento de aspectos trabalhistas e previdênciários como condição contratual. E faz isto não porque deseja substituir o papel de fiscalização dos órgãos competentes e sim para resguardar seus próprios interesses, pois pode ser responsabilizada pelas eventuais faltas de seus contratados.
Mas, ainda no exemplo dado, se alguma construtora exigir de seus fornecedores mais que a média exigida pelo mercado provavelmente reduzirá o numero de empresas interessadas em prestar serviços para ela e provavelmente acabará pagando um pouco mais pelos serviços contratados.
No meu entender a cadeia da carne se encontra no meio de um processo de busca de um novo equilíbrio. Os grandes frigoríficos estão sendo mais pressionados por bancos, ONGs e pelo MP a respeito de aspectos ambientais e sociais do processo e por isto estão exigindo mais de seus fornecedores.
Não vejo como combater este movimento de exigências crescentes. Ele sempre existiu. Apenas não avança linearmente e sim por pulos. E o pulo agora esta mais alto que o usual. Mas importante que simplesmente se opor a este fato seria nossos representantes contribuirem para melhor direcionar estas mudanças.
Att,
Caro Marcelo Debastiani ,
Não sei o que acontece aí no Mato Grosso, aqui no Pará os frigoríficos não pressionam nada nem ninguém.
O TAC do Pará foi criado a partir de ato unilateral do ministério Público Federal do Pará como alternativa para o não fechamento das mais de 20 indústrias frigoríficas.
Antes da assinatura do TAC foram enviados ofícios à 65 compradores, nacionais e internacionais, proibindo-os de comprar de qualquer frigorífico do Pará.
O TAC foi assinado pela Federação da Agricultura e Pecuária, pelos frigoríficos e Governo do Estado.
A partir da assinatura do TAC os frigoríficos foram proibidos de comprar de pecuaristas que não cumprissem o determinado no Termo de Ajuste de Conduta”
O TAc do Pará pode ser resumido em uma frase: – “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
Os prazos estabelecidos no TAC são quase “números mágicos” dificílimos de ser cumpridos, apesar da flexibilização criada pelo “bom senso do atual Secretário de Meio Ambiente”, entretanto o grande o obstáculo não são as autoridades ambientais e sim se deve ao grande número de pecuarista no Estado (são 110.000), ao valor a ser desembolsado por eles e a limitação tecnológica da Secretaria de Meio Ambiente que está se adequando à nova realidade e a demora se deve ao prazo necessário para a ampliação do sistema.