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Mortes de bois por hipotermia passam de 2.700 em Mato Grosso do Sul

As mortes de bovinos por hipotermia no Mato Grosso do Sul chegaram a 2.725 casos notificados em 92 propriedades rurais do Estado, até 19 de junho.

Nova Andradina, na região sudeste, é a cidade com o maior número de óbitos por hipotermia. A cidade registrou 601 mortes, distribuídas em 32 propriedades rurais.

O dado faz parte de nota técnica divulgada no início da noite de hoje (20/06) pela Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro), Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação e Governo do Mato Grosso do Sul.

Batayporã, no leste do Estado, foi a segunda cidade com o maior número de casos de morte, com 396 em 21 propriedades, seguida por Aquidauana, com 386 mortes em uma única propriedade, e Rio Verde de Mato Grosso, na região do Pantanal, com 368 mortes também em uma propriedade.

Medidas de prevenção

Outra nota técnica, elaborada pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (Famez/UFMS) em parceria com a Iagro, por meio do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, chama atenção ainda para medidas de prevenção, uma vez que a expectativa é que as condições adversas do clima se prolonguem.

“É importante adotar as medidas preventivas, a fim de proteger os animais que permanecem expostos e evitar novas mortes”, ressalta Ricardo Amaral de Lemos, professor da Famez/UFMS.

Entre as medidas de prevenção para evitar a morte de bois por hipotermia estão manter os bovinos em áreas de abrigos artificiais, naturais ou que estejam cercados por barreiras, a fim de reduzir as correntes de vento, como reservas arbóreas; possibilitar acesso à pastagem de qualidade, mesmo durante a seca; aplicar suplementação alimentar, com orientação de um veterinário; e monitorar o estado de saúde do rebanho, incluindo a aferição da temperatura corporal dos bovinos.

No caso de períodos com previsão de frio, os especialistas alertam para que os bovinos sejam agrupados em um local com lonas no solo. Fogueiras e feno são alternativas paliativas, mas que podem ajudar a aumentar a temperatura corporal dos animais.

Prejuízos financeiros

A Iagro ainda não calculou as perdas financeiras com base no número de casos atualizados. Até esta segunda-feira (19/06), a agência registrava um prejuízo estimado em R$ 5 milhões.

O frio dos últimos dias em Mato Grosso do Sul, com temperaturas entre 5º a 9º, somado a ventos e chuvas, foram a causa para os casos de hipotermia. O desenvolvimento da doença está relacionado ainda às condições corporais e nutricionais do gado, assim como à falta de abrigos e áreas de reserva arbórea, entre outros aspectos.

A hipotermia é diagnosticada clinicamente em bovinos quando a temperatura retal é menor que 37º C. Os especialistas explicam que, bovinos magros, por não terem gordura, apresentam pouco isolamento térmico. Por isso, são os mais suscetíveis a morrer de hipotermia.

“Neste ano, porém, vários animais em bom estado corporal morreram”, comenta Lemos, ressaltando que as outras causas devem ser consideradas nesse caso.

Quanto ao estado nutricional do animal, além da alimentação, também contribuem para o quadro geral do bovino e à possível suscetibilidade à hipotermia, quadros de deficiências minerais e parasitismo por vermes gastrointestinais.

O tratamento para reversão da doença depende do estágio e da gravidade do quadro clínico do bovino. Alguns animais no estágio inicial, neste ano — segundo os especialistas —, foram salvos com a adoção de medidas como isolamento em regiões cercadas, cobertos com feno e fogueiras ao redor.

A administração de glicose por via intravenosa pode ser descrita exclusivamente por um médico veterinário.

Destinação de carcaças

A orientação dos especialistas em relação às carcaças dos animais mortos por hipotermia é a cremação ou o enterro, sendo que de forma alguma elas devem ser comercializadas. Lemos adverte que a situação pode representar riscos como a geração de casos subsequentes de botulismo no gado.

“No caso de enterrio, devem ser evitadas regiões próximas de nascentes e de lençóis freáticos”, enfatiza o veterinário Fábio Shiroma de Araújo, coordenador do Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros e outras encefalopatias da Iagro.

Ele orienta que deve ser aberto um buraco no chão, com retroescavadeira ou trator de esteira, no qual devem ser depositadas as carcaças. Em seguida, deve ser feita a queima para posterior enterro dos restos.

Araújo alerta que não enterrar ou deixar mal enterrado é um risco maior para o botulismo. “Em anos anteriores de casos de morte de gado por hipotermia, houve casos subsequentes de botulismo, que atinge o gado e gera um impacto muito rápido, podendo levar a mais perdas”, explica.

O botulismo é uma doença neuroparalítica severa, causada pela ingestão de neurotoxinas da bactéria Clostridium botulinum, formadas durante a decomposição de matéria orgânica vegetal ou carcaças de animais mortos. Pode ser encontrada na água, no solo e nos alimentos.

Fonte: Globo Rural.

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