O argumento utilizado para a aplicação de estratégias diferenciadas de manejo de bovinos, com foco no bem-estar animal há tempos vem sendo associado à vontade e/ou necessidade dos integrantes da cadeia produtiva em atingir mercados compradores mais exigentes que pagam mais por essa diferenciação. Mas é importante lembrar que este argumento não é, e nem deve ser único.
O argumento utilizado para a aplicação de estratégias diferenciadas de manejo de bovinos, com foco no bem-estar animal há tempos vem sendo associado à vontade e/ou necessidade dos integrantes da cadeia produtiva em atingir mercados compradores mais exigentes que pagam mais por essa diferenciação. Sem dúvida, o argumento é valido, e a visualização concreta disto são os investimentos nas mudanças em instalações e equipamentos nos grandes frigoríficos além do treinamento de colaboradores e motoristas boiadeiros, isso estimulado, por essa busca de mercados que pagam melhor pelos produtos.
Mas é importante lembrar que este argumento não é, e nem deve ser único. Muitas vezes, a vontade de melhorar, pela simples melhoria por parte dos produtores de bovinos de corte é esquecida.
Exemplos de produtores, grandes, médios e pequenos, que decidiram alterar a maneira com que os animais são manejados dentro de sua propriedade, não por acreditar que seria possível vender os animais por um preço diferenciado, mas sim, por saber que é importante que o ambiente de trabalho dentro de sua empresa (e muitas vezes dentro de sua própria casa) seja o melhor possível, não são difíceis de encontrar.
Para os que não acreditam nisso, ou não vêem o benefício “econômico” dessa situação, vale a pena abrir um parêntese. Se buscarmos uma definição para “bem-estar”, por exemplo, seremos diretamente conduzidos ao significado de “qualidade de vida”, que é definida como “O método usado para medir as condições da vida de um ser humano. Envolve o bem físico, mental, psicológico e emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos e também a saúde, educação, poder de compra e outras circunstâncias da vida“.
A partir dessa situação, pensando em bem-estar, não somente restrito aos animais, mas ampliando-o para todo o ambiente da fazenda, essa definição se aplica completamente.
A melhoria da qualidade de vida dentro da propriedade rural, para que possamos atingir o bem-estar no dia-a-dia da fazenda, passa por todos os processos do meio produtivo, por aqueles que envolvem e os que não envolvem os animais. E todos esses processos, têm efeito direto na qualidade da produção animal, e conseqüentemente no preço final da produção, visto que produtos com qualidades diferentes possuem valores diferentes.
O manejo racional vem sendo utilizado sabiamente por vários grupos de produtores que buscam essa qualidade de vida no ambiente em que ele está inserido e que enxergam os benefícios sociais e econômicos que ele traz como uma conseqüência positiva e obviamente, bem vinda.
A Fazenda São Dimas, no município de São Miguel do Araguaia-GO é um exemplo de como a busca constante pela melhoria depende somente do entendimento de seus benefícios.
A muitos anos, nela são aplicadas estratégias de manejo racional, desenvolvidas na própria fazenda, aprendida com amigos e vizinhos, e também com técnicos externos, muito antes de qualquer movimento para a exportação a mercados exigentes. Recursos como paus, pedras, ferrões e gritos, que geram estresse no manejo do curral estão abolidos a mais de 30 anos.
Mais recentemente, jovens proprietários também têm buscado aprimorar técnicas antigas. A decisão da fazenda Orvalho das Flores, no município de Barra do Garças-MT em mudar, foi baseada na falta de prazer da proprietária em acompanhar os manejos de rotina da fazenda.
As falhas de manejo dos funcionários durante a pesagem levou a perda de interesse no acompanhamento da execução dessa medida, importante para o controle do rebanho. Decidiu que mudanças seriam necessárias, e não precisou mandar nenhum funcionário embora, apenas os convenceu de que era melhor fazer de outro jeito.
Fazendas empresas, com rebanhos enormes como a Agropecuária Jacarezinho, encontraram na melhoria das rotinas de manejo, a maneira ideal de reduzir os problemas e dificuldades geradas aos funcionários e a empresa devido a acidentes de trabalho pelas falhas de manejo, o benefício econômico disso dispensa argumentações.
Dentre essas três propriedades brasileiras, existem mais centenas delas, que vêem buscando “a melhoria, pela melhoria”, e sabendo o que, e como se aproveitar dos benefícios diretos e indiretos que ela trás, sem se preocupar em vender animais por valores diferenciados, mas sim buscando qualidade de vida.
O prazer da atividade produtiva tem papel importante na tomada de decisão dentro da atividade pecuária. A busca por soluções simples e eficientes para a redução de problemas, é a obrigação de técnicos e pesquisadores, que cada vez mais, devem ter a visão ampla sobre a vida e o dia-a-dia da produção animal e o entendimento de que o sistema é mais dinâmico do que se costuma pensar, visto que componentes humanos, animais e estruturais estão em constante conjunção, se relacionando e se tornando dependentes uns dos outros.
O desafio é grande, mas é possível melhorar.
7 Comments
Caro Prof. Mateus,
Concordo em genero, numero e grau contigo. Defendemos e auxiliamos na implementacao das tecnicas de bem estar animal em grande parte dos nossos 400 clientes/pecuaristas SOMA Merial e aprendemos que com a reducao do stress animal as vacinas e medicamentos tem a sua eficacia ampliada ou pelo menos nao reduzida, os funcionarios passam a ter uma melhor qualidade de vida (e com os treinamentos se sentem valorizados) e a quantidade de acidentes diminui sensivelmente.
Quem pode ver e se emocionar com o filme da Temple Grandin (HBO) com certeza entendeu que oferecer bem estar animal, alem de todos os beneficios economicos, tambem nos faz melhores seres humanos.
Parabens pelo teu trabalho, do qual sou fa!
Um Abraco,
Saviani
Prezado Carlos Marcelo Saviani
Ficamos felizes em saber que a mensagem está sendo espalhada, e que cada vez mais empresas e pessoas estão adotando as boas estratégias de manejo como parte da rotina das propriedades.
Abraços
Murilo e Mateus
Fico muito feliz por saber que o bem estar chegou dentro da porteira e que um simples gesto influência toda uma cadeia produtiva.
Técnicas de manejo racional cada vez é mais importante dentro e fora das propriedades, o mais dificil desta tarefa é convensermos a nos mesmo ” o bicho Homem” que é preciso fazermos mudanças de atitudes de como manejar melhor os animais, para que se possa ter um desgaste minimo entre a interação homem x animal. Estamos no caminho certo, parabéns ao paranhos e ao grupo etco por difundir e defender estes principios do manejo racinal e bem-estar animal.
Abraço a todos.
O manejo racional é uma ferramenta a ser utilizada pelos pecuaristas, mas para que possa ser bem implantado temos que ter mao de obra treinada, outro fator que pela minha visão que para que funcione os animais tem que ser acostumados ao manejo racional desde novinhos. Mas claro que o manejo racional no Brasil ja avançou muito e é cada vez mais usado nas fazendas.
Caro Aluisio de Alencastro Filho
Obrigado pelo contato
O treinamento da equipe de trabalho é fundamental, desde os técnicos até os vaqueiros todos devem estar cinscientes dos proncipios das boas práticas de manejo e de como elas devem ser implantadas.
Não é necessário que os animais sejam acostumados desde novos para que o manejo racional seja implantado e funcione. Mas como um processo contínuo dentro da fazenda, obviamente que quanto antes na vida do animal as abordagens forem realizadas de maneira positiva, mais fácil serão os manejos futuros.
Abraços
Murilo
Infelizmente aqui no RS o manejo racional é conhecido mas pouco praticado, salvo algumas propriedades. desde a década de 90 para cá já melhoramos muito, mas ainda há muito pra crescer.
O maior entrave para adoção das boas práticas de manejo é o tradicionalismo, pecuaristas mais antigos continuam utilizando, guizos, cachorros (sem treinamento e de forma incorreta), pau e grito. O que me conforta, é que produtores assim estão com os dias contados, pois a juventude esta vindo com outra cabeça, novas idéias, etc..Basta colocar no papel toda a perda causada pelo estresse, o quanto se esta deixando de ganhar por praticarmos o "mau" manejo, detalhes como carregar um boi com aspa para dentro de um caminhão, faz toda a diferença na hora do toalete no frigorífico.
Pecuaristas que não se mudarem o jeito de pensar, perderão suas terras para a agricultura, depois não adianta reclamar que a pecuária não traz lucros.
parabéns a todos e vamos difundir essa idéia!!
Um baita abraço!!