Fracassou a missão brasileira que foi à Rússia tentar reverter o embargo às carnes brasileiras. O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Maçao Tadano, informou ontem que os integrantes da missão poderão fazer hoje um balanço das conversas que tiveram com autoridades em Moscou. A equipe chegou na segunda-feira, mas já no dia seguinte, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, admitia que as negociações estavam difíceis.
O governo brasileiro está convencido de que o embargo russo às exportações de produtos de origem animal do Brasil é motivado também por fatores alheios ao aparecimento do caso de aftosa no Amazonas.
Brasília não descarta que, além da questão fitossanitária, a negociação para o ingresso da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) é fator relevante no caso.
Nas reuniões de ontem com autoridades russas, representantes do Mapa, liderados pelo secretário de Comercialização e Produção, Lineu Costa Lima, apresentaram argumentos que consideram mais do que suficientes para mostrar que o embargo não tem justificativa técnica. Os russos se mostraram evasivos e insistiram que o embargo era justificado, mas comunicaram que os especialistas deles iriam avaliar os argumentos brasileiros.
Os brasileiros foram informados por fontes próximas ao governo russo de que “a ordem do embargo veio de cima”. O ministro Roberto Rodrigues já foi informado sobre o fato e está averiguando com o Itamaraty, quais as medidas a serem tomadas.
A desconfiança é de que os russos estariam dificultando um entendimento, porque negociam entrar na OMC, e para obter a aprovação dos membros, precisa fechar acordos de comércio com cada um deles. No caso das carnes, Moscou optou por estabelecer uma cota e dividi-la entre os fornecedores. Essas cotas vigorariam até 2009, quando seriam negociadas. A cada ano, as cotas seriam aumentadas em 2,5%.
Os brasileiros se queixam que a cota avaliou apenas a média das vendas entre 1999 e 2001 e não 2002, quando as exportações nacionais para a Rússia explodiram. Estados Unidos e União Européia (UE) ficaram com até 90% das cotas na divisão feita por Moscou, o que não é aceitável para o Brasil. No caso da carne bovina congelada, os europeus vão ficar com 331 mil toneladas da cota disponível de 447 mil toneladas.
Cansada de ouvir queixas do Brasil sobre as barreiras às exportações de carnes, a Rússia chegou a sugerir, há poucos meses, que os negociadores do país deixassem de fazer viagens à Moscou e que passassem a falar com europeus e americanos para que cedam parte de suas cotas de exportação para o mercado russo.
O recado foi dado pelo vice-ministro do Comércio de Moscou, Maxim Medvedkov, que disse a jornalistas brasileiros que o pedido do país já está se parecendo com o som de uma “balalaika”, instrumento de cordas russo com características estridentes.
Fonte: O Estado de S.Paulo (por João Caminoto e Jamil Chade), adaptado por Equipe BeefPoint