Em seis meses, a americana Elanco passou uma profunda transformação. Deixou de ser a área de saúde animal da farmacêutica Eli Lilly para saltar da quarta para a segunda posição no mercado global do segmento e, agora, planeja capturar sinergias e acelerar o passo em mercados-chave como o Brasil.
A vice-liderança será concretizada quando a aquisição da área de saúde animal da alemã Bayer for concluída, o que deverá ocorrer até meados de 2020, após a aprovação de órgãos antitruste dos principais países em que a companhia atua, como Estados Unidos, Brasil, União Europeia e Japão. A transação foi fechada por US$ 7,6 bilhões.
No Brasil, onde é a quarta maior empresa de saúde animal, a Elanco passará à terceira posição. “As mudanças nem começaram”, afirmou Carlos Kuada, CEO da companhia no país ao Valor.
Anunciado em 2018, o desmembramento da Eli Lilly foi concretizado em março passado. E foi seguido por uma série de aquisições e parcerias, com destaque para a compra da divisão da Bayer.
O alvo mais recente foi a Prevtec Microbia, empresa canadense de biotecnologia especializada no desenvolvimento de vacinas para prevenir doenças bacterianas em animais de produção. Para adquirir o controle da empresa, a Elanco desembolsou US$ 60 milhões.
“Estamos executando um projeto que começou a ser planejado ha alguns anos, que é transformar nosso portfólio e acelerar o crescimento”, disse Kuada. Nesse sentido, a aquisição dos negócios da Bayer é um divisor de águas.
Segundo o executivo, a ideia com todos os movimentos feitos é que a Elanco equilibre a participação das áreas de animais de companhia e de produção no negócio. “Com a aquisição da área de saúde animal da Bayer [forte em produtos para animais de companhia] chegaremos próximo disso, já que a participação da área de animais de produção na receita vai cair para 54%”.
No ano passado, as vendas globais da Elanco somaram US$ 3,1 bilhões, 6,1% mais que em 2017. As vendas de medicamentos para animais de produção renderam US$ 1,8 bilhão, ou 58,7% do total.
No Brasil, segundo maior mercado da Elanco no mundo, alcançar esse equilíbrio será bem mais complicado. Atualmente, 85% da receita da empresa no país vem da área de animais de produção. “É muito difícil chegarmos a esse equilíbrio, pela característica de grande produtor de proteína animal do país. Se chegarmos a 70/30 já será bastante atrativo”, afirmou Kuada.
Hoje, a bovinocultura responde por metade as vendas da companhia na América Latina. “Na área de avicultura já somos líderes e manteremos a posição. E em bovinos nos consolidaremos na quarta posição – o que é importante, já que vínhamos perdendo espaço com mudanças no portfolio”.
Já área voltada aos animais de companhia vai dobrar de tamanho na América Latina e no Brasil com a aquisição da Bayer, afirmou Kuada. Atualmente a Elanco é a 10ª maior empresa desse mercado no país, mas deverá subir para a quarta posição, pelo menos.
De acordo com Kuada, a área de pets deverá receber a maior parte dos investimentos da companhia. “Além do crescimento do número de animais domésticos, [os gastos com] o cuidado de cães e gatos vem aumentando 5% ao ano em países desenvolvidos e 50% em economias em desenvolvimento”, afirmou o executivo.
Passada a temporada de compras, vem a hora ajustar as estruturas, embora Kuada reconheça que ainda há espaço para consolidação no segmento de saúde animal, inclusive no Brasil, e sinalize que “aquisições estratégicas” ainda estão no radar, em referência à startups e empresas que atuam na área de inovação.
Ainda sem contar com a receita que virá dos negócios da Bayer, a Elanco projeta que suas vendas globais deverão crescer até 3% em 2019 em relação ao ano passado. No Brasil o avanço previsto é de entre 7% e 8% – a empresa não revelou seu faturamento no país. Em 2018, as vendas da no mercado brasileiro cresceram 17%.
No segundo trimestre deste ano, quando sua receita global chegou a US$ 781 milhões, a Elanco registrou lucro líquido global de US$ 35,9 milhões.
Fonte: Valor Econômico.