Em Mato Grosso do Sul o abate de vacas representa cerca de 55% do total. É a primeira vez, em cinco anos, que o abate de fêmeas supera o de machos. A crise verificada ali se estende por todo o Brasil, estima-se que 45% dos animais abatidos sejam fêmeas. Desde julho, os preços oferecidos pelo boi gordo são os piores dos últimos 35 anos, segundo levantamento Scot Consultoria.
Atualmente, o boi gordo está cotado em R$ 50 a arroba. Esse valor é inferior ao custo de produção, estimado pela Embrapa Pecuária de Corte em R$ 58 por arroba, em trabalho realizado em Rondônia, Mato Grosso do Sul e Goiás. Ou seja, durante todo o ano de 2005 os preços se mantiveram em baixa e, além disso, praticamente não houve oscilação entre safra e entressafra.
“Isso é cíclico. Quando uma atividade está dando dinheiro, todo mundo aposta nela e depois o excesso de produção faz o preço cair”, diz a analista da Scot Consultoria, Maria Gabriela Tonini. Segundo ela, entre 1996 e 2000, os preços pagos pelo boi gordo estiveram em alta. Com isso, os produtores investiram na atividade e aumentaram a oferta. A partir de então, os valores começaram a reduzir. A queda tem sido contínua desde 2003.
“Estou sangrando as vacas”, diz o pecuarista Luciano Leite de Barros. Por enquanto, ele tem optado por se desfazer de fêmeas a colocar bens à venda. Mas também desistiu de dois consórcios de tratores e pediu a renegociação de suas dívidas com o banco que o financiou.
“Os produtores estão se desfazendo de seu patrimônio para obter receita”, diz a diretora-secretária da Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul), Teresa Cristina Corrêa da Costa. Para pecuaristas e analistas de mercado, alguns fatores determinaram a crise: um excesso de oferta, maior que a demanda, os custos altos em detrimento dos preços, e o câmbio que não favorece o escoamento maior da produção para o exterior.
“Precisamos diminuir o rebanho por consciência de que a produção não atende o consumo e não pela dor”, diz o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Laucídio Coelho Neto. Segundo ele, apesar de o Brasil ser o maior exportador mundial de carnes, em volume, ainda está fora dos principais mercados devido aos problemas sanitários. “Então, enquanto não tivermos esses mercados, não podemos aumentar a nossa produção”, ressalta.
Maria Gabriela acredita que o crescente abate de fêmeas, variação de 88% nos últimos três anos, quando as fêmeas representavam apenas 29% do descarte, provocará redução no nascimento de bezerros e, conseqüentemente, menor oferta de boi gordo. “Com isso, pode-se prever tempos melhores em 2006”, avalia.
Para José Vicente Ferraz, do Instituto FNP (IFNP), a pequena reação nos preços registrada em setembro pode indicar uma reversão de tendência. “À medida que as fêmeas são descartadas, o rebanho tende a cair”, explica. No entanto, segundo ele, é preciso ainda verificar a oscilação dos preços no próximo mês para confirmar ou não essa mudança ainda neste ano. No mês, o preço do boi gordo acumula alta de 0,7%.
Opinião diferente tem Shirley Menezes, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). Ela acredita que apesar do crescente descarte de matrizes, nos próximos anos a oferta ainda será maior que a demanda, o que significa que não deve haver reversão de preços tão cedo.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Neila Baldi), adaptado por Equipe BeefPoint