A falta de diálogo entre o setor produtivo, indústria e varejo é, consensualmente, o maior vilão na cadeia produtiva da carne, segundo os produtores presentes na audiência pública que ocorreu ontem na Assembléia Legislativa, em Campo Grande.
O presidente da Acrissul, Laucídio Coelho Neto, disse que os entraves se acirraram a partir da implantação do Sisbov que, ao invés de premiar animais rastreados, penalizou toda a classe, com nivelamento de preços por baixo. “Os frigoríficos participam pouco das negociações e os pecuaristas estão ficando com todo o ônus”, diz.
O presidente do SRCG (Sindicato Rural de Campo Grande), Rodolfo Vaz de Carvalho, disse que há muito se sabe que os supermercados têm a maior fatia do lucro, mesmo sendo o elo que fica menos tempo com o produto e que menos agrega valor. Porém, ele afirmou que não há como apontar um único vilão. “O problema é a falta de conversa entre os elos”.
José Batista Júnior, do Friboi, negou que existe formação de cartel pelos frigoríficos, denúncia que foi encaminhada pela CNA à Secretaria Nacional de Defesa Econômica. Ele afirma que não existe uma tabela comum de deságios e que a indústria teria somente estabelecido uma tabela de classificação que selecionasse os produtos exigidos pelo mercado externo.
Batista Junior, explicou que os preços podem estar baixos no estado porque há muita oferta de boi atualmente. “Isso pode se reverter. É a lei da oferta e da procura”, revela, explicando que nunca existiu qualquer tabela aplicada pelas empresas.
Os representantes dos frigoríficos confirmaram o deságio que é aplicado nos estados. “Fizemos isso com o produto que não conseguimos vender e queremos agregar valor”. Segundo ele, da mesma forma que existe essa penalização ao produtor, vem sendo aplicado a premiação ao boi e ao pecuarista.
Segundo Batista Junior, existe a necessidade de um bom relacionamento entre com os fornecedores. “As discussões continuam abertas, os pecuaristas precisam conhecer nossa forma de atuação. O comprador sempre quer comprar por um preço menor e o vendedor pelo valor mais alto. Isso é natural na comercialização”, diz.
O presidente da Famasul, Leôncio Brito, enfatizou que a remuneração não está sendo bem distribuída em todos os elos da cadeia. O diretor do frigorífico Independência, um dos maiores do país e o maior exportador de Mato Grosso do Sul, Miguel Russo, defendeu que os preços são justos e que nunca houve imposição qualquer das empresas.
Apontado como um dos que mais lucram na cadeia da carne (lucro de 24%) e menos participam, conforme pesquisa do economista Ido Michels e afirmação de produtores e frigoríficos, os supermercadistas foram cobrados de comparecer nas reuniões do setor.
O presidente da Famasul afirmou que quer, junto com os produtores, mostrar aos consumidores que o preço do boi está baixo, mas ainda não chegou na mesa das pessoas.
“A conversa foi democrática, mas vamos ver como isso será na prática. Os produtores vão cobrar mais clareza na classificação de carcaças dos frigoríficos”, afirmou Carvalho, do Sindicato Rural.
Segundo ele, a forma como o boi é avaliado na hora da compra pela empresa deve ser mais clara. A justificativa para a classificação é dada pelos frigoríficos como uma forma de separar os produtos bons e ruins na compra. O presidente da Acrissul, Laucídio Coelho Neto, afirmou que no ano passado o Mapa propôs reuniões para discutir o assunto, mas os frigoríficos não participaram.
Russo justificou que a classificação acontece porque a indústria precisa premiar produtos de qualidade. Ele disse que hoje a premiação é de cerca de 3% da arroba. “Não consultamos os produtores na elaboração da classificação porque isso é uma iniciativa da empresa”.
Fonte: Campo Grande News (por Aline Rocha e Fernanda Mathias), adaptado por Equipe BeefPoint
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Neste debate nota-se a ausência de várias outras categorias que se beneficiaram com a recente expansão do mercado de carne bovina, a saber: produtores de gado de elite, fabricantes de suplementos alimentares, produtores de sementes, laboratórios, consultorias de gestão, EMBRAPA, certificadoras e até mesmo o MAPA e seus estrategistas.
O fato é que, animados com promessas de ganhos que viriam da modernização da pecuária, os pecuaristas abandonaram seus métodos tradicionais e implementaram toda uma série de novas técnicas e métodos visando melhorar a qualidade do produto final, aumentar a produtividade e obter o retorno adequado a estes investimentos.
O resultado foi um aumento de oferta e consequente queda de preço da arroba.
As perguntas são:
– Se o mercado se expandiu de onde se origina o excesso de oferta?
– A expansão se deu em produtos de baixo ou alto valor agregado?
– A expansão de novos mercados teria sido comprada com preços baixos e retorno insignificante?
– E o mercado interno como está?
Neste momento o debate franco é essencial para que possamos ter perspectivas menos nebulosas sobre o futuro de médio prazo, caso contrário os pecuaristas serão forçados pelas inclementes leis da economia a voltar a suas antigas práticas e todo o crescimento obtido nos anos recentes vai desaparecer como bolha que parece ser.
A história está aí para demonstrar: Proálcool, soja, café, entre outros, foram sucessos que se evaporaram por falta de sustentação e atitudes inteligentes.
Repetindo: “Russo justificou que a classificação acontece porque a indústria precisa premiar produtos de qualidade.”
O que eles fizeram foi premiar os melhores, ou desclassificar os piores, porque é aí que existe a diferença.
Outra coisa, porque os 5 frigoríficos grandes estão engolindo os pequenos e o número de frigoríficos que exportam, não aumenta, sendo que as visitas dos mercados internacionais acontecem, mas sempre nas mesmas plantas, as novas que buscam liberação para exportar nunca conseguem uma visita e consequente liberação para exportar.
Mais uma vez Cartel e pior, com o apoio do MAPA.
Os pecuaristas ficam batendo na tecla da classificação de carcaças, mas estão esquecendo que pior do que isto é o boi de 500 (quinhentos) quilos de peso vivo que sempre pesou 270 (duzentos e setenta) quilos de peso morto hoje não passa de 250 (duzentos e cinquenta) quilos.
Viva a genética, mineralização e a balança eletrônica.