Fechamento – 12:10 – 19/11/01
19 de novembro de 2001
Estatísticas de produção de carne nos Estados Unidos
21 de novembro de 2001

MS tem suspeita de brucelose

O Ministério Público Estadual investiga a comercialização de gado contaminado pela brucelose em Mato Grosso do Sul. Segundo a promotora de Justiça, Sara Francisco Ricarte, isso poderá comprometer a credibilidade da carne produzida no Estado.

O Mato Grosso do Sul possui o maior rebanho brasileiro – 23 milhões de cabeças – e é responsável por 47% das exportações de carne. Testes de laboratório detectaram a doença em 50 animais de um mesmo criador, que vendeu nove deles a outros pecuaristas. No relatório encaminhado à Promotoria de Justiça da Cidadania, que abriu inquérito civil, o fiscal da Delegacia Federal de Agricultura (DFA), Orasil Romeu Bandini, sugere que houve falha da Agência Estadual de Defesa de Sanidade Animal e Vegetal (Iagro), que demorou um ano para concluir os exames.

O proprietário dos animais considerados doentes, Francisco José de Carvalho Neto, entrou com um mandado de segurança na 1a Vara de Fazenda e Registros Públicos e obteve liminar para impedir que eles fossem sacrificados. Carvalho Neto diz que os exames feitos pelo Iagro são contraditórios. O pecuarista alegou que fazia uma segunda vacinação nas fêmeas, além da permitida pelo Ministério da Agricultura (quando animal tem entre três e oito meses de idade). Devido à imunização fora de época (entre 20 e 24 meses de idade), os exames estariam apontando apenas o agente da vacina (resultado mascarado) e não a doença.

Porém, a DFA informa que houve prova comprobatória (2 Mercaptoetanol, Fixação de Complemento-FC). Além disso, a doença foi detectada em quatro machos. A conclusão é que, como somente as fêmeas foram imunizadas, no caso dos machos o diagnóstico não pode ser atribuído à vacina.

“Concluímos que há de fato positividade em relação à brucelose na maioria dos animais comercializados, bem como em 7,55% (oito animais) da Chácara Santa Terezinha, em Campo Grande, e 19,88% (33 fêmeas) na fazenda Arroio Sexto, em Porto Murtinho, ambas do senhor Francisco de Carvalho Neto”, diz o relatório da DFA. Além dessas, nove animais foram vendidos.

O delegado Federal da Agricultura, José Antônio Roldão, comunicou o resultado ao Iagro em 24 de outubro e pediu providências. O ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Patrini de Moraes, também foi comunicado. Há mais de um ano, as autoridades sanitárias de Mato Grosso do Sul estão a par da suspeita de comercialização de animais com brucelose.

Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose

Em janeiro deste ano, o Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária criou o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose. O último diagnóstico feito no Brasil sobre a incidência da doença é de 1975 e apontava que 6,8% dos animais da região Centro-Oeste eram soropositivos. Em 1998, houve levantamento em alguns estados e o Mato Grosso Sul apareceu com um índice de 6,3% do rebanho de 23 milhões de cabeças possivelmente contaminados pela bactéria Brucella abortus, que atinge os órgãos reprodutores das fêmeas causando aborto. (clique aqui para saber mais).

Além dos prejuízos para os pecuaristas, a brucelose é uma zoonose, podendo ser transmitida pela carne crua e pelo leite não pasteurizado. Segundo o médico veterinário indicado como perito oficial do Ministério Público, Cícero Lacerda Faria, esta doença torna-se da maior importância aos funcionários de frigoríficos que manuseiam vísceras, sangue e outros líqüidos orgânicos.

A legislação recomenda o abate do animal doente. No pasto, a transmissão ocorre pela ingestão de água ou capim contaminados pela placenta, por fetos abortados ou fluxo vaginal das fêmeas doentes e pelo coito. Outra forma são os aerossóis, bactérias desidratadas, suspensas no ar e fonte de infecção, se inaladas. “É a principal fonte de contaminação do homem”, informa o veterinário. Para o ser humano, o tratamento é prolongado e as seqüelas podem ser artrite (inflamação das articulações) e orquite (infecção nos testículos).

Novos exames

O juiz da 1ª Vara de Fazenda Pública e Registros Públicos de Campo Grande, Nélio Stábile, determinou que a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) não abata as 50 cabeças de gado nelore que a Delegacia Federal de Agricultura considerou positivas nos exames de brucelose. O juiz decidiu que o sacrifício não deve ocorrer antes da realização de novos testes.

A liminar foi deferida em mandado de segurança impetrado pelo pecuarista Francisco José de Carvalho Neto, dono dos animais, contra o diretor-presidente do Iagro, Loacir Silva. O Iagro pediu informações sobre localização do rebanho em ofício ao criador no dia 31 passado. O pecuarista pedia a liminar para ficar desobrigado a fornecer as informações sobre a localização do gado. A Justiça, porém, determinou apenas que não ocorra o abate antes de novos exames.

Clique aqui para saber mais sobre o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose (PNCEBT) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Fonte: Gazeta Mercantil, adaptado por Equipe BeefPoint

Os comentários estão encerrados.