A importação de gado paraguaio causa preocupação aos pecuaristas da região Centro-Oeste, temerosos de um novo surto de febre aftosa. Segundo técnicos do setor, o gado paraguaio entra no Brasil pelo Mato Grosso do Sul, estado que não está suficientemente aparelhado para realizar uma fiscalização rigorosa, como prevêem as novas exigências sanitárias para a importação de bovinos do Paraguai.
A Agência Estadual de Defesa de Sanidade Animal e Vegetal (Iagro) e a Delegacia Federal de Agricultura em Mato Grosso do Sul confirmam a falta de estrutura, materializada pelo escasso número de funcionários e de postos de vigilância agropecuária. Após a proibição em agosto de 2000, o governo federal liberou este ano a entrada de bovinos vindos do país vizinho, mas estabeleceu regras como a quarentena de 30 dias antes dos animais chegarem ao território brasileiro. Pela estimativa da Iagro, até 600 mil cabeças de gado devem entrar no Brasil por Mato Grosso do Sul anualmente.
Toda a região de fronteira possui cerca de mil quilômetros de extensão, incluindo os rios e a faixa seca. O Ministério da Agricultura mantém postos para controle das transações de produtos agropecuários com os países vizinhos em apenas três municípios: Ponta Porã, Bela Vista e Corumbá (junto à Bolívia). Pelo menos outras cinco cidades estão ao lado do Paraguai. A Delegacia Federal de Agricultura busca ainda para o primeiro semestre deste ano a implantação de unidades em Porto Murtinho (onde houve caso de aftosa em 1999) e no município de Mundo Novo.
“Basicamente a dificuldade no cumprimento das medidas sanitárias se deve às características de nossa fronteira”, afirma o delegado federal de Agricultura, José Antônio Roldão. Segundo ele, já existem candidatos aprovados em concurso para assumir as vagas nos novos postos que serão ativados antes de abril.
“Já temos solicitações em curso, mas a importação somente ocorrerá após a quarentena”, afirma o delegado. Do lado paraguaio, todo o rebanho bovino deve passar por sorologia e não pode haver um resultado positivo. No Brasil, os animais também ficarão isolados por mais 14 dias, no mínimo, e serão feitos exames por amostragem. A responsabilidade por esse procedimento em território brasileiro, bem como pela análise de que as autoridades paraguaias agiram certo, fica a cargo da Iagro.
O diretor-presidente da agência, Loacir Silva, afirmou que está preocupado com a falta de estrutura para atender todas as exigências do ministério. Para Silva, serão necessários pelo menos 20 médicos veterinários, além dos 178 (incluindo os futuros aprovados em concurso), para manter a fiscalização na fronteira, além de veículos e combustível. “Vou me reunir amanhã (hoje) com o delegado federal para tratar do assunto”, garantiu.
Outra preocupação é com o tamanho do rebanho bovino de Mato Grosso do Sul, formado por 23 milhões de cabeças, o que exige um grande controle sanitário. Também provoca temores o contrabando de gado oriundo dos vizinhos Bolívia e Paraguai, onde a eliminação dos riscos de aftosa é mais vulnerável.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Hudson Corrêa), adaptado por Equipe BeefPoint