"Hoje, quase 30% dos frigoríficos estão fechados. O impacto disso na vida do produtor é grande, pois a pressão dos frigoríficos, principalmente dos oportunistas na hora da compra do boi, reduz o preço da arroba de forma significativa", observa o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari.
A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) fez um levantamento que mostra que, das 39 plantas frigoríficas registradas no Serviço de Inspeção Federal (SIF) instaladas em Mato Grosso, 11 estão sem abater desde o início deste ano – o que corresponde a 23,68%. Os dados são do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e foram levantados junto às oito regiões pólos representativas do estado – Centro Sul, Médio Norte, Nordeste, Norte, Noroeste, Oeste, Sudeste e Arinos.
“Hoje, quase 30% dos frigoríficos estão fechados. O impacto disso na vida do produtor é grande, pois a pressão dos frigoríficos, principalmente dos oportunistas na hora da compra do boi, reduz o preço da arroba de forma significativa”, observa o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari.
A capacidade atual de abate em Mato Grosso, se todas as plantas estivessem funcionando, seria de 37.816 mil cabeças/dia. O fechamento das 11 plantas compromete o abate diário de 8.961 cabeças.
A realidade é ainda mais dura quando se analisa os números regionalmente. A região Noroeste, composta por oito municípios e com mais de 2 milhões de cabeças de gado, tem seu único frigorífico instalado, do grupo Independência, fechado. “Os pecuaristas da região Noroeste estão abatendo seu gado nos municípios de Sinop e Juara e isso compromete a competitividade”, analisa o superintendente da Acrimat.
Outra região com quase 60% da capacidade de abate comprometida é a Nordeste, composta por 22 municípios e mais de 6 milhões de bois. Nessa região, estão instalados seis frigoríficos, sendo que quatro estão fechados. Do grupo Independência, as plantas das cidades de Confresa (1.200 cab/dia), Nova Xavantina (1.200 cab/dia), Juina (500 cab/dia) e Arantes de Canarana (440 cab/dia) estão sem funcionar.
Em atividades estão apenas o grupo Bertin em Água Boa, com capacidade diária de abate de 500 cabeças, e o Quatro Marcos, de Vila Rica, arrendado pelo JBS/Friboi, com capacidade de abate de 1.415 cabeças.
“Os frigoríficos estão fazendo muita pressão. Enquanto a arroba está sendo comercializada a R$ 68,00 em outras regiões, os frigoríficos aqui estão pagando apenas R$ 65,00 e já avisaram que esse preço vai baixar ainda mais. A oferta é maior que a demanda e os pecuaristas estão perdendo muito dinheiro”, disse o presidente do sindicato Rural de Água Boa, Laércio Fassoni.
A situação da região Noroeste chegou a esse ponto depois que o beneficio da redução de ICMS de 7% para 3,5% nas operações relativas à saída interestadual de gado em pé destinado para abate não foi mais prorrogada pela Secretaria de Fazenda (Sefaz/MT). “A redução do ICMS foi concedida de abril a setembro e aumentou a comercialização na região Noroeste em quase 400%. O impacto econômico foi muito grande e a justificativa para a Acrimat ter solicitado a redução do ICMS foi justamente tornar mais competitivo o mercado do boi, não deixando o pecuarista nas mãos dos frigoríficos”, disse Luciano Vacari.
Para Laércio Fassoni, “seria muito importante que a redução do ICMS retornasse, pois empresas de São Paulo e Goiânia deixaram de comprar o nosso gado depois que esse incentivo acabou”.
Na região do Médio Norte, composta por 16 municípios com mais de 1,2 milhões de cabeças de gado, 41,74% do abate estão comprometidos. O Oeste de Mato Grosso, com 22 municípios, com quase 4 milhões de bois, não pode contar com 36,52% da capacidade de abate. A região Norte, com 17 municípios e com um rebanho de 4,4 milhões de cabeças, conta com nove frigoríficos, sendo que os frigoríficos Arantes, da cidade de Nova Monte Verde do Norte, e Quatro Marcos, em Colíder, que abatem 2.141 cabeças diariamente, estão fechados, comprometendo quase 30% da capacidade da região.
A região Centro Sul, com 23 municípios e 3,8 milhões de cabeças, conta com oito frigoríficos sendo que apenas a planta do JBA de Cáceres, com capacidade de 600 cabeças/dia, entrou em férias coletivas no início do mês outubro e ficará parada até o dia 26 de novembro. A região Sudeste está com 3,97% do abate comprometidos: dos sete frigoríficos, apenas o Margem, de Barra do Garças, que abatia 300 bois por dia, está fechado em recuperação judicial.
A região do Arinos, composta por quatro municípios, não vive esse problema, pois conta com dois frigoríficos em pleno funcionamento, com capacidade de abater 1.245 cabeças/dia.
As informações são da Acrimat, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.
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A principio, pode-se imaginar que a paralisação de quase 30% das plantas instaladas seja a causa da @ do boi estar no preço que esta, por ai imagina-se que os frigoríficos estão comprando os bois do preço que querem. Ao ler a matéria comecei a pensar, principalmente quando li que os “frigoríficos estão fazendo muita pressão”, ai fui buscar as razões e encontrei algumas.
A primeira é que a capacidade de abate instalada hoje em nosso pais é bem maior que o nosso abate efetivo, isso quer dizer que na verdade, construímos mais frigoríficos do que deveríamos, acreditando num crescimento de consumo e de exportações que foi interrompido pela crise do ano passado.
Analisando alguns dados, vi que no ano passado, nesta mesma época, já iniciada a crise internacional, mas ainda sendo apenas uma “marolinha”, na região nordeste ( MA ) estávamos comprando a @ do boi por R$ 75,66 a vista, enquanto vendíamos a carne por 6,40 x 4,50 x 4,27 ( traseiro x dianteiro x costela ) tendo um boi casado de R$ 79,97/@
Hoje esta mesma @ esta sendo comprada por R$ 68,00 a vista ( MA ) e vendida no mesmo mercado por 5,82 x 3,39 x 3,39 ( traseiro x dianteiro x costela ) com o boi casado saindo por R$ 67,67/@.
Por esta simples conta podemos ver que no ano passado entre a compra e a venda da carne os frigoríficos tinham uma margem positiva de R$ 4,31/@ enquanto que hoje tem uma margem negativa de R$ – 0,33/@.
É fácil de se perceber que alguns grandes grupos como Independência, Margem, Arantes, Quatro Marcos, Estrela entre outros, tradicionais no ramo da carne, não tiveram sérios problemas vindos do nada, e sim por muitas dificuldades principalmente com a queda vertiginosa das exportações e a escassez das linhas de crédito.
Se hoje o preço da @ do boi esta ruim, quase não cobrindo os custos de produção para o produtor, com as industrias ainda com problemas e essa centralização que esta acontecendo no setor é um sinal muito forte disso, imagine se estivéssemos com um abate 30% maior, onde venderíamos essa carne ? É só lembrar da lei que regula o mercado, aquela da oferta x procura para imaginarmos a que preço estaria a carne e a @ do boi se estivéssemos abatendo mais.
O problema é mais profundo do que apenas os frigoríficos estarem se aproveitando dos produtores. É preciso buscar saídas com união entre os setores.
Temos que procurar soluções e não culpados e uma grande parte delas esta na industrialização dos nossos produtos, em uma maior integração entre industrias e produtores, para que possamos produzir o que o mercado que comprar, e não o que nos interessa vender.