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MT: confinamento deve recuar 12,6% esse ano – leia análise completa do IMEA

Ao longo do mês de julho de 2013 foi realizado pelo Imea o segundo levantamento da intenção de confinamento no Estado de Mato Grosso. A pesquisa, contou com o apoio de 215 pessoas entrevistadas, entre técnicos, gerentes e proprietários de uma base de 216 unidades de confinamento.

Assim sendo, constatou-se um cenário pessimista durante o mês de julho, com uma redução de 12,6% na comparação com o rebanho de bovinos efetivamente confinados em 2012 (792,8 mil cabeças), atingindo a intenção de confinar 693,2 mil cabeças de bovinos no ano de 2013.

A seguir estão apresentadas as expectativas para todas as macrorregiões mato-grossenses.

Como visto na Tabela 1, o desânimo dos confinadores com relação à atividade aumentou, isto é, em abril eram esperadas 809,5 mil cabeças, já em julho a expectativa é de que 693,2 mil cabeças sejam estrategicamente terminadas no cocho, uma queda de uma intenção para outra de 14,4%.

Além disso, praticamente todas as macrorregiões que historicamente apresentam números elevados no rebanho confinado diminuíram suas intenções. São os casos do nordeste, médio-norte, oeste e sudeste, todas macrorregiões com redução de mais de 10% na intenção de fechar a boiada no cocho.

No entanto, pode ser observado na Tabela 2, a seguir, que o centro-sul mato-grossense despertou para a atividade de confinamento, sendo a única macrorregião com expectativas positivas para o número de animais confinados ao longo das pesquisas e também ao efetivamente confinado. Para se ter uma ideia, em 2012 foram confinadas 77,1 mil cabeças de bovinos no centro-sul e em abril eram esperadas 96,2 mil cabeças. Agora, em julho, a intenção é maior ainda, 110,8 mil cabeças.

A atualização da capacidade estática dos confinamentos é constante, da mesma maneira que são realizados os investimentos pelos confinadores mato-grossenses em suas estruturas. Assim, atualmente o Estado possui 891,4 mil cabeças de capacidade estática, com maior número de “vagas” no sudeste mato-grossense, 200,5 mil.

Na Figura 1, a seguir, é apresentada a evolução da capacidade instalada do rebanho efetivamente confinado em anos anteriores e também as expectativas para o ano de 2013.

Devido à previsão de redução no rebanho que deve ser confinado em 2013, espera-se que a utilização da capacidade instalada dos confinamentos também diminua, como pode ser verificado a seguir.

Percebe-se que no levantamento de julho a utilização da capacidade estática ficou abaixo de 1,0 em todas as macrorregiões estaduais e também em Mato Grosso, ou seja, espera-se que o Estado faça somente um giro de confinamento, utilizando 78% em 2013 e registrando uma queda de 15 pontos percentuais na comparação com a utilização de 2012 (93%).

Com relação à entrega desses animais, o levantamento da intenção de confinamento revelou que a maior parte dos bovinos confinados no Estado será entregue no mês de setembro (28%), seguido pelo mês de outubro (20%) e agosto (19%). Este cenário é diferente do registrado em 2012, ano em que novembro concentrou a maior parte dos bovinos confinados entregue e, também, é diversa da distribuição informada pela amostra no 1° levantamento, em abril de 2013, quando se esperava a maior concentração de entregas em outubro.

O motivo que explica o movimento de entrega dos animais é o fato de que em abril só “fechou” a boiada quem possuía o animal, quem já havia comprado o boi  magro, minimizado o risco de oscilação de preços, ou seja, quem já possuía uma estratégia definida.

Indo de encontro com as afirmações anteriores, percebe-se que a concentração de entregas será maior no terceiro trimestre de 2013, com 58% do total de animais que devem ser fechados. Em 2012 e 2011 esses três meses corresponderam a 42% e 41% das entregas. Desta forma, para o último trimestre de 2013 é esperado um volume de bois de confinamento prontos para abate de 291,1 mil cabeças ou 42% das entregas previstas este ano.

Caso as expectativas sejam confirmadas, no último trimestre do ano de 2013, o estado de Mato Grosso terá 37,8% menos bois de confinamentos, isto porque, ano passado nesse período foram entregues 467,7 mil cabeças ou 59% do total confinado em 2012.

Foi perguntado aos entrevistados sobre quem eram os proprietários dos animais que estavam nos confinamentos. O resultado revela que 86% dos animais confinados em Mato Grosso são dos próprios entrevistados; outros 11% são terminados em sistema de parceria; e apenas 3% dos animais engordados no cocho estão alocados em “boitéis”.

Além disso, as ferramentas para diminuição do risco de oscilação de preços estão sendo pouco utilizadas em Mato Grosso. Com a previsão de que 693,2 mil cabeças de animais sejam confinadas, apenas 2% estão “travadas” de alguma maneira, ou 15 mil cabeças. Deste total a ser fechado, 50% estão “travados” na bolsa e o restante foi comercializado antecipadamente com as indústrias frigoríficas (contrato a termo).

Em meio a este cenário, foi possível traçar os motivos que levaram à diminuição da previsão do rebanho confinado em Mato Grosso. O primeiro ponto de destaque refere-se ao custo com a aquisição do animal para ser terminado no cocho, sabendo-se que este custo equivale a 70% do total da atividade. A seguir são apresentadas a evolução do preço nominal do boi magro e também a relação de troca entre o boi gordo e o boi magro.

A primeira constatação é de que o animal está mais valorizado, estando cotado, nominalmente, acima de R$1.000/cabeça há dois anos. No acumulado desde janeiro, o preço da categoria já valorizou 10,8%, deixando o patamar de R$ 1.054/cabeça para atingir em julho o valor de R$ 1.168/cabeça. Na comparação com o momento de maior procura pela categoria, objetivando-se a engorda no cocho, em abril a valorização é de 7,2%.

A média histórica da relação de troca é de 1,36 boi magro com a venda de um boi gordo. No mês de julho a situação era pior para os pecuaristas, estava em 1,29 boi magro com a venda de um boi gordo.

Excluindo-se os custos com aquisição, o maior custo de um confinamento passa a ser a alimentação dos animais, em média, 17% da despesa total. Alguns insumos alimentares utilizados passaram por valorizações, como, por exemplo, o caroço de algodão e, por outro lado, outros insumos alimentares passaram por um processo de barateamento, a exemplo do milho.

No caso específico do caroço de algodão a valorização foi de 27% na comparação com o mês de julho do ano passado, partindo de R$ 399/tonelada e chegando até preços de R$ 507,20/tonelada. Já o milho apresenta uma redução acentuada nos preços, 43%, com cotações atuais de R$ 11/saca, existindo relatos de preços menores que a referência do Instituto e também de dificuldade por parte dos pecuaristas para comprar milho a esse preço.

Assim, na Tabela 3, a seguir, está apresentada a evolução do custo da atividade de confinamento calculado pelo Instituto.

* Exclui-se o custo de aquisição do animal; não é levada em consideração a margem de lucro do confinamento.

Como fica evidente na Tabela 3, os principais custos envolvidos na atividade de confinamento foram os que mais apresentaram evolução em seus preços, impactando diretamente na lucratividade ou, até mesmo, na viabilidade do confinamento.

O superintendente da Acrimat, Luciano Vacari, ressalta que esta pesquisa mostra que os produtores estão agindo com cautela e gerência, uma vez que a decisão de confinar ou não, está relacionada com as tendências mercadológicas. Além do mais, independentemente do resultado positivo ou negativo com relação ao volume de animais confinados, observa-se que o pecuarista sabe que existe esta ferramenta, mas que para acessá-la é preciso fazer um diagnóstico sobre os preços, pois se a conta não fechar, melhor não confinar. Além do mais, mesmo com a redução no valor do milho, que é usado como ração bovina, o custo geral cresceu e a arroba não vem demonstrando mesmo desempenho. Pode-se perceber que milho barato não é a única influência para o confinamento. Outros pontos são avaliados e pesam na hora da decisão. Sem perspectiva de mercado positivo, não tem como investir em confinamento.

Considerações finais

  • A elevação dos custos impactou diretamente na intenção de confinamento de bovinos em Mato Grosso no mês de julho de 2013.
  • O maior custo da atividade, a aquisição do animal, evoluiu e é o principal entrave.
  • Olhando-se para o segundo maior componente dos custos, a alimentação foi a que apresentou maiores elevações de preços, tornando-se um fator decisivo para quem pretendia confinar bovinos.
  • Espera-se a predominância de uma entrega “adiantada” de animais no segundo semestre.
  • Por fim, a redução da oferta de gado confinado pode pressionar o mercado do boi gordo, principalmente após a entrega da maior parte dos animais em setembro.

Fonte: IMEA e Acrimat, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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