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MT: mais denúncias contra Friboi

O jornal Diário de Cuiabá publicou ontem uma reportagem sobre a denúncia feita por supostos funcionários e ex-funcionários do Friboi. Abaixo os principais trechos da reportagem.

Um funcionário do Frigorífico Friboi, de Araputanga (360 quilômetros ao Sudoeste de Cuiabá), que pediu para não ter seu nome identificado fez sérias acusações aos procedimentos de produção de carnes da empresa. O suposto colaborador da unidade mato-grossense do Grupo Friboi denuncia a prática de fraude ao Serviço de Inspeção Federal (SIF), com o “esquentamento” de carnes com procedência de estados que, por questões sanitárias, estão proibidos de exportar.

Em um depoimento assinado e entregue para nove autoridades estaduais, entre elas o governador Blairo Maggi, o procurador da República Mário Lúcio Avelar e o delegado Federal Dennis Cali, o funcionário relata em detalhes como é o esquema que frauda SIFs. O delegado da Polícia Federal confirmou que recebeu o documento, assinado por uma pessoa que se apresenta como funcionária do frigorífico da Friboi em Araputanga.

Junto ao testemunho do funcionário, estão anexos duas notas fiscais que comprovariam a compra de carne processada de frigoríficos de Cacoal e Vilhena, em Rondônia.

O funcionário, acompanhado de uma outra pessoa que se apresentou como ex-funcionário da empresa, conta que a unidade de Araputanga comprava cortes de carne em estados como Rondônia, Pará e de cidades incluídas na zona tampão em Mato Grosso, como Sinop e Cáceres. A carga, resfriada, com data de validade máxima de dois meses, era reprocessada da seguinte forma, como contam as duas testemunhas: Os cortes eram retirados da embalagem original que também tinha os selos descartados. Em seguida, era embalada sob a marca Friboi e recebia o SIF 2979, que indicava que a carne tinha sido adquirida e processada pela unidade de Araputanga.

Os dois denunciam, ainda, que a carne que vinha resfriada, embalada há 30 dias, ao ser “esquentada com o SIF 2979” era congelada (onde a validade é por até dois anos) e destinada, principalmente, para a União Européia e Rússia.

Com essa acusação, os funcionários garantem que tudo acontecia sob os olhos de 22 funcionários do SIF. Um desses fiscais, ainda conforme a denúncia, estaria na planta somente para conferir o volume embarcado e lacrar o contêiner. Depois de lacrada, a carga só é aberta no destino, ou seja, na Rússia, por exemplo. “Fica clara a conivência dos fiscais. É impossível lacrar uma carga sem perceber que o SIF tem numeração diferente da planta”, completa o ex-funcionário. As notas de compra de cortes de outras plantas fora do Estado estão datadas de 22 de agosto e a outra mais antiga está com data de 2 de fevereiro de 2004.

“Além de modificar data de validade e SIF, a carne reembalada tinha rastreabilidade. E no caso do mercado russo as embalagens saiam daqui do Estado com outro selo com a discriminação do produto em russo. Como uma máquina seria capaz de cometer tantos erros assim?”, indaga o ex-funcionário.

O funcionário que assina as denúncias contra o Friboi conta que o volume de filé mignon era tão grande que foi necessário abrir uma linha específica para embalar novamente os cortes sob SIF 2979, de Araputanga.

Com relação à embalagem antiga dos cortes que vinham de fora de Mato Grosso ou de regiões sem SIF, o ex-funcionário relata que elas eram descartadas, mas não soube precisar o destino, como por exemplo, a incineração.

Ambos contam que no início o trânsito de carnes era realizado nos finais de semana e em feriados, mas que aos poucos passou a ser diário e que a prática se estende há mais de dois anos.

O funcionário atual conta que após a apreensão das 25 toneladas a plantou cessou o “esquentamento” e denuncia que todos os funcionários ligados ao Serviço de Inspeção Federal continuam na ativa. “No final de julho e por 50 dias, quase todas as embalagens da planta de Araputanga, com SIF 2979, foram embaladas com o SIF 385, da unidade paulista do Friboi”.

O dia seguinte

Após a apreensão no posto Flávio Gomes, o funcionário que assina o testemunho explica que além das 25 toneladas apreendidas, outras 120 toneladas estavam estocadas com SIF 385 e com destino à Rússia. Ele relembra que após a notícia da intercepção da Polícia Federal do volume que também iria para a Rússia, os funcionários da unidade viraram a noite retirando os selos com SIF 385 e colocando o SIF 2979. “Eu mesmo só saí de lá no meio da tarde de domingo”.

Ele conta, ainda, que a carne estava saindo de Mato Grosso com SIF de Andradina porque a planta paulista estava impedida de exportar para Rússia, mas que o “esquentamento” em Araputanga estava permitindo as exportações, obviamente sem o conhecimento das autoridades russas.

Questionados sobre os motivos que os levaram a fazer estas denúncias, ambos disseram-se contrários à prática do Friboi, além de a adulteração poder trazer conseqüências tanto aos envolvidos como ao Estado e à nação.

Prorrogação das investigações

O delegado federal responsável pelo caso, Dennis Cali, conta que na semana passada protocolou na 3a Vara Federal de Mato Grosso o pedido de prorrogação das investigações, que teve prazo expirado no último dia 6. “O inquérito criminal está na Justiça e só falta a decisão do juiz em prorrogar ou não. Como a perícia nos computadores apreendidos em Araputanga ainda não está concluída e sendo necessários outros depoimentos, acredito na prorrogação”, explica.

Com relação ao testemunho assinado pelo funcionário, Cali acentua que os relatos não trazem grandes novidades, porém tem relevância, mas que o denunciante será convocado a confirmar tudo que está escrito.

Já o processo administrativo, que apura o envolvimento de funcionários federais, foi concluído em 30 dias por uma comissão instaurada pela Superintendência Federal de Agricultura em Mato Grosso (SFA/MT). O resultado é sigiloso e foi encaminhado ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa).

Fonte: Diário de Cuiabá/MT (por Marianna Peres), adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Adriano Apolinário Leão de Oliveira disse:

    Enquanto isso, os produtores rurais são lesados no preço, na hora de pesar a carne, no couro, na limpeza das carcaças, e ninguém toma providencias.

    Eu tenho observado que de tempos em tempos, um dono de supermercado amigo meu, recebe a visita de técnicos que conferem se as balanças de seu estabelecimento estão aferidas e pesando corretamente sem “passar para traz” o consumidor, enquanto isso nos frigoríficos…

    E o que é pior, eles não estão preocupados com a repercussão negativa de um ato irresponsável como esse afetando o relacionamento com a UE, nem onde vai parar a carne brasileira se nos fecharem as portas da exportação. Agora se fazem isso com a intenção clara de ganhar mais dinheiro imaginem o que não fazem com relação à manipulação dos preços da arroba, por exemplo!

    Ou o produtor rural toma mesmo que à força o seu espaço ou como já disse em comentários anteriores “o boi vai acabar indo para o brejo”…