Mato Grosso tem o maior rebanho bovino do país, com mais de 26 milhões de cabeças. A região de Cáceres concentra a maior parte, com seis milhões, e o município de Cáceres mais de um milhão de cabeças. Mesmo com a área livre da febre aftosa, reconhecida pela Organização Internacional de Epizootias (OIE) desde 2000 e há nove anos sem um único registro da doença, os pecuaristas da região estão enfrentando problemas.
Além de não exportar para a Comunidade Européia, segundo Amarildo Merotti, presidente do Sindicato Rural de Cáceres, os produtores estão preocupados em relação à classificação de seus produtos e com a grande diferença de preços em comparação a outros estados, como Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Merotti afirma que a causa é a grande concentração de animais e o pequeno volume de empresas frigoríficas que atuam na região, cerca de cinco, que hoje exportam de 80% a 90% da produção. O fato já foi levado ao conhecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “A concentração dificulta a entrada dos menores no mercado de exportação, quando temos cumprido todos os deveres sanitários do rebanho e fornecemos mercadoria de alto padrão, abatendo bois com média de 30 meses de idade”.
Outro fato citado por Merotti, foi o hábito, que ele chamou de bairrismo, de mais de 80% dos pecuaristas locais oferecerem seu produto aqui, sem manter contato com outros frigoríficos e sem buscar melhores preços. O sindicato, destaca, têm feito nos últimos dias contato com frigoríficos de outras regiões e tendo boa receptividade. “Queremos gerar receita para o município, recolher o ICMS, mas está difícil devido ao preço oferecido. Não estamos tendo opção”.
Em reunião realizada esta semana com associados, algumas decisões foram tomadas na tentativa de reverter o quadro. Uma delas será cobrar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) uma pesquisa sobre a saúde financeira das indústrias frigoríficas que atuam no Mato Grosso, procurando resguardar o produtor. A criação da Bolsa do Boi foi outra decisão. “Queremos que a Bolsa do Boi se torne realidade em todo o Mato Grosso. A união dos produtores para a venda do boi em grandes lotes permite que ele tenha mais opções de mercado, não ficando atrelado a uma única empresa compradora”, aponta.
Atualmente, os produtores locais vendem para o Friboi, unidade de Cáceres, que paga R$ 42 pela arroba da vaca e R$ 50 pela arroba do boi. Merotti afirma que já houve evolução nas conversações com a unidade local sobre as regras de comercialização, visando atender a todos, mas pequenos produtores, que não quiseram expor seus nomes, afirmam que a empresa dispensa tratamento diferente a pequenos e grandes.
“A luta é pela conquista de melhores preços junto aos frigoríficos e a união da classe para enfrentar o monopólio dos exportadores, frigoríficos que são poucos, mas são unidos e ditam a regras”, alerta Merotti.
O presidente conclama ainda para que “os companheiros” participem, no próximo dia 18, a partir das 9h, no Parque de Exposições, em Cuiabá, da reunião da CNA que vai definir os rumos da pecuária em Mato Grosso.
Fonte: Diário de Cuiabá/MT (por Clarice Navarro Diório), adaptado por Equipe BeefPoint