A aquisição de cinco plantas frigoríficas pelo Grupo JBS Friboi, em Mato Grosso, foi recebida com cautela pelo setor pecuário do Estado, que teme o início de um processo de concentração na cadeia da carne. Entidades que representam a pecuária no Estado avaliam a incorporação como "benéfica" do ponto de vista da retomada das plantas, mas temem a "manipulação de preços" no mercado, em detrimento de outros concorrentes e dos fornecedores.
A aquisição de cinco plantas frigoríficas pelo Grupo JBS Friboi, em Mato Grosso, foi recebida com cautela pelo setor pecuário do Estado, que teme o início de um processo de concentração na cadeia da carne. Entidades que representam a pecuária no Estado avaliam a incorporação como “benéfica” do ponto de vista da retomada das plantas, mas temem a “manipulação de preços” no mercado, em detrimento de outros concorrentes e dos fornecedores.
Paulo Resende, diretor executivo da Associação dos Proprietários Rurais de Mato Grosso (APR), diz que mesmo em um cenário de instabilidade, a aquisição é perigosa. “É muito ruim para o setor, pois concentra [a atividade de abate] nas mãos de poucos.. O ideal seria que tivéssemos várias unidades controladas por vários donos. Com a concentração, perdemos a opção de venda para um número maior de empresas”, avalia.
Para ele, o importante no momento não é só avaliar se a aquisição resolve o problema da falta de frigoríficos para abater bois. “Temos de analisar os reflexos da medida para o futuro. Neste caso, seria mais vantajoso hoje para os pecuaristas esperar a chegada de outros grupos que ainda não estão no mercado”.
O coordenador de Pecuária da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Luís Carlos Meister, também vê risco de concentração. “À primeira vista, a aquisição das plantas é positiva. Afinal, cinco frigoríficos que estavam parados terão suas atividades retomadas. Todos ganham com isso. Por outro lado, a medida sinaliza a concentração de indústrias nas mãos de poucos grupos, em Mato Grosso, e isso não é bom para ninguém”.
Meister espera que as “leis de mercado sejam respeitadas para que esse grupo venha interagir com a cadeia pecuária no sentido de manter a economia de Mato Grosso no mesmo ritmo de crescimento e pujança”. Ele também espera que as plantas do JBS negociem o mais rápido possível com as dezenas de credores do Frigorífico Quatro Marcos no sentido de que os produtores possam se viabilizar financeiramente. “A nossa expectativa é de que as regras do jogo sejam mantidas para que haja harmonia entre as cadeias pecuária e frigorífica”, afirmou Meister.
José João Bernardes, da Associação dos Criadores de Nelore de Mato Grosso (ACN/MT), lembra que “toda concentração gera prejuízos aos concorrentes e ao mercado”. De acordo com ele, a aquisição pode ser avaliada sob dois aspectos: “O primeiro é a possibilidade de aumentarmos o volume de abates com a retomada das plantas paralisadas. O segundo é o risco de concentração da atividade nas mãos de poucos grupos que poderão dominar o mercado”. Bernardes vê as aquisições com “cautela” e, por isso, prefere aguardar os desdobramentos da medida.
A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) questiona quem vai ficar com o ônus de pagar uma dívida de mais de R$ 40 milhões com os pecuaristas do Estado, já que o Quatro Marcos está em processo de recuperação judicial. “O anúncio deixou claro de que cinco, das seis unidades de abate do Quatro Marcos em Mato Grosso, localizados nas cidades de Cuiabá, Colíder, Juara, Alta Floresta e São José de Quatro Marcos irão retomar suas atividades. Mas, ninguém deixou claro, quem vai pagar a conta que existe com os pecuaristas e o produtor não vai permitir que eles retomem suas atividades sem antes acertarem o que devem”, disse o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari.
“Cabe às entidades representativas ficarem atentas para não permitir que se aproveitem da concentração física e manipulem preços dos animais”, disse Vacari. Ele acrescenta que o Friboi será o maior grupo do setor em Mato Grosso com nove plantas (Cuiabá, Colíder, Juara, Alta Floresta, São José de Quatro Marcos, Barra do Garças, Pedra Preta, Cáceres e Araputanga) e que possuiu forte atuação no mercado. “Isso é positivo, pois vai aumentar a capacidade de abate já tão comprometida com o fechamento de 15 unidades. O retorno de cinco plantas vai viabilizar o abate diário de cinco mil cabeças e isso é muito importante, mas temos de proteger o produtor de possíveis transtornos com tamanha concentração de poder de abate”, disse.
As informações são de Marcondes Maciel, publicadas no Diário de Cuiabá, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.