Pela segunda vez em menos de um mês, o Mercosul e a União Européia (UE) não conseguiram dissipar o impasse em torno de temas sensíveis para os dois lados nas negociações do acordo de livre comércio e suspenderam, ontem, mais uma rodada de discussões. A gota d’água se deu por volta do meio-dia, quando os negociadores europeus informaram os colegas do Mercosul que não haviam recebido instruções de Bruxelas para apresentar um pacote integral de melhorias na oferta de acesso a mercados de produtos agrícolas, a principal exigência do bloco sul-americano nesta rodada, iniciada na terça-feira. A solução para o impasse, de ordem política, caberá aos ministros que conduzem essas negociações.
No fim de julho, em Bruxelas, foi o Mercosul que saiu mais cedo da mesa de negociação por considerar que a proposta agrícola européia não era convincente.
Apesar dos dois lados terem marcado uma reunião técnica para o dia 13 de setembro e outra rodada de seus coordenadores para o dia 20, a segunda suspensão das negociações corroeu o grau de confiança entre os dois lados e elevou o risco de eles não se entenderem na barganha de temas sensíveis até 30 de outubro, prazo final para a conclusão do acordo.
Os pontos de choque se concentraram justamente na forma de barganhar os pontos sensíveis do Mercosul (uma proposta melhorada para serviços, investimentos, compras governamentais e bens industriais) e os da UE (uma oferta mais substancial sobre acesso de produtos agrícolas a seu mercado).
Os europeus preferem apresentar suas melhorias a conta-gotas. O Mercosul alega que, sem uma visão do conjunto, não há como mensurar os ganhos e perdas entre ofertas de setores tão diferentes.
Durante esta rodada, ambos os lados trataram de esconder suas ofertas melhoradas e passaram a atacar-se mutuamente. “Nossa oferta significaria a consolidação de um marco normativo significativo para a UE, mas não podemos apresentá-la às cegas. Queremos que seja pago o preço justo por ela”, disparou Arslanian. “O Mercosul insistiu em conhecer toda a minha mão de cartas antes de mostrar a sua”, criticou Farkenberg.
O grau de desentendimentos chegou ao ápice quando Falkenberg informou a imprensa que não havia apresentado ao Mercosul nenhuma oferta formal sobre as cotas de importação de carne bovina in natura. A iniciativa havia sido recebida pelo bloco sul-americano como um passo positivo no início desta rodada. Mas a constatação, por meio da imprensa, de que não se tratava de uma proposta formal causou surpresa.
“A UE não fez nenhuma oferta adicional sobre carnes nem para outro produto porque, do outro lado, não havia disposição de apresentar suas propostas. As ofertas vão comigo para as minhas férias e podem estar de volta ou não”, afirmou João Pacheco, negociador especializado em questões agrícolas.
Fonte: O Estado de S.Paulo (por Denise Chrispim Marin), adaptado por Equipe BeefPoint