

As emissões de carbono equivalente da pecuária brasileira podem ser reduzidas em 79,9% até 2050. É o que apresenta o estudo inédito “Trajetória de Descarbonização da Pecuária de Corte no Brasil – 2025 a 2050”. A projeção se refere apenas ao cenário de manutenção no ritmo atual de adoção das boas práticas de produção. Com um incremento de políticas públicas e ferramentas de manejos, a redução pode ser de 92,6%.
Feito pelo Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro) em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o estudo foi apresentado nesta quarta-feira, 12, na AgriZone, na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30).
“Se olhar as últimas décadas, a gente está produzindo mais carne e diminuindo a área de pastagem. Então, estamos produzindo mais e melhor. E aí a nossa pergunta para a FGV foi: o que a gente está fazendo já está ajudando a reduzir emissões ou não? E o que mais precisa ser feito para acelerar essa descarbonização? […] Agora temos, de fato, uma base científica para poder mostrar o que já está acontecendo e onde podemos chegar”, destacou ao Agro Estadão o diretor de Sustentabilidade da Abiec, Fernando Sampaio.
O ensaio científico foi dividido em quatro cenários, tendo, como base inicial, dados de produção e de área de 2019/2020, e de emissões de 2023. A proposta base foi verificar qual seria o impacto se a modernização na pecuária continuasse no ritmo de hoje. Esse foi o primeiro cenário.
Os outros três vão acrescentando outras condições a esse quadro base. São eles:
A projeção também indica que a redução não implicaria em diminuir o rebanho. O modelo base mostra que haveria uma evolução de 172 milhões de cabeças em 2020 para 258,1 milhões em 2050. Outro ponto observado é o peso médio da carcaça bovina, que saltaria dos 212 quilos em 2020 para 232 quilos em 2050 (+10%).
Porém, na análise dos demais cenários, o incremento no peso médio é ainda maior. No cenário 2, o peso da carcaça alcançaria 250 quilos (+18%). No modelo 3, o aumento seria de 17%, alcançando 246 quilos. No último cenário, o salto da produtividade seria de 31%, alcançando 31%.
Quanto ao uso de pastagens, a projeção indica um aumento na quantidade de hectares utilizados pela pecuária nos cenários 1 e 2, saindo dos 168,2 milhões em 2020 para 200,8 milhões e 169,6 milhões em 2050, respectivamente. No entanto, os cenários 3 e 4 mostram uma queda no uso das pastagens, chegando a 139,5 milhões e 129,7 milhões, respectivamente. Mesmo assim, todos os modelos indicam uma redução nas emissões.
“Quando eu olho em termos de emissão, o balanço, ou seja, emissão menos remoções, trazendo aqui já o componente mudança de uso da terra, a tendência do setor é passar de 732,1 milhões de toneladas de CO2 equivalente [em 2023] para 287,5 milhões de toneladas em 2050”, destacou Camila Genaro, pesquisadora da FGV Agro. Os dados de emissões utilizados no estudo são os medidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês).
O diretor da Abiec pontua ainda que a intenção do trabalho é demonstrar que o Brasil tem maneiras de descarbonizar a cadeia pecuária e continuar fornecendo proteína para o mundo. “Esse é um trabalho que estamos enxergando mais como um plano para o setor, um mapa do caminho, do que o Brasil precisa fazer para a gente chegar nessa descarbonização adequada”, destacou Sampaio.
Além disso, mesmo que os cenários indicados não apresentem que a pecuária brasileira alcance o chamado net zero — emissões iguais a remissões -, a pesquisadora aponta que o estudo não contempla todas as opções de descarbonização. Um exemplo que ela cita é o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Os cenários não tratam dos sistemas integrados com florestas.
“Vários estudos que nós já realizamos mostram que, quando eu trago floresta para o meu sistema, não só eu melhoro a questão de bem-estar animal, mas eu também tenho um potencial de reduzir essas emissões”, relembrou.
Outro ponto é que os modelos foram baseados em métricas e relatórios de emissões que não levam em consideração particularidades brasileiras. “Hoje, um dos grandes gargalos que nós temos são as mensurações. Se você pega calculadoras internacionais que refletem muito da pecuária europeia, por exemplo, elas, muitas vezes, não são capazes de captar as especificidades locais, como o nosso boi, amplamente a pasto”, ponderou Genaro.
Fonte: Estadão.