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Normatizar a produção

Padronizar a produção e identificar qual o produto ideal a ser fornecido ao mercado são desafios importantes na produção de gado de corte. Todas as iniciativas que buscam agregar valor na pecuária precisam uniformizar a produção de acordo com um padrão que tenha demanda no mercado. Para se obter sucesso é preciso alcançar volumes significativos de produção que atendam a esse padrão desejado.

Recentemente várias entidades, produtores e técnicos capitaneados pela associação brasileira de novilho precoce decidiram junto a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) criar um padrão para o novilho precoce. O objetivo desse trabalho é facilitar a padronização entre os produtores que desejem fornecer carne de qualidade. Com a ajuda e endosso da ABNT será possível tornar essas normas auditáveis, tornando viável a certificação e criação de selos de conformidade, visando a diferenciação junto ao consumidor. Busca-se criar um diferencial para o pecuarista, que pode virar um preço-prêmio no frigorífico.

A norma será simples e poderá ter gradações para outras características, que se tornem interessantes no futuro. Outros produtos como o café têm “degraus” em seus padrões de qualidade. Assim, um café especial pode ter vários certificados (ou selos) de qualidade de bebida, de boas práticas ambientais, de responsabilidade social, etc. Pode-se por exemplo ter um café especial (ou gourmet) que ainda não tem certificado para responsabilidade social e um café com selo de boas práticas ambientais, ou até mesmo orgânico, sem o selo de qualidade de bebida. Cada um atendendo um nicho de mercado, de forma mais eficiente e rentável.

No padrão para o Novilho Precoce a etapa inicial é a definição do animal ou da carcaça. O frigorífico, comprador do novilho precoce, compra carcaça e não o animal. Essa é uma diferença que pode parecer banal, mas indica que a norma tem o foco do cliente. Atualmente os frigoríficos têm uma demanda por animais pesados e com cobertura de gordura adequada.

No mercado da carne, o traseiro tem maior importância devido ao valor e peso dos cortes. O mercado exportador demanda um traseiro de no mínimo 62 quilos, que significa um boi de 17,2 arrobas. Os compradores internacionais demandam cortes de carne com pesos padronizados.

Alguns açougues tradicionais da cidade de São Paulo exigem traseiros com peso de 65 a 70 quilos, o que representa animais com mais de 18 arrobas. A demanda por cobertura de gordura se origina da necessidade de proteção térmica durante o resfriamento e também para a padronização dos cortes. Uma picanha sem capa de gordura tem seu valor muito reduzido. No mercado interno, os compradores demandam traseiros pesados, pois empiricamente sabem que terão carne de melhor qualidade oriunda de traseiros pesados e com cobertura de gordura.

Por outro lado a adequação do sistema de produção visando produzir bovinos jovens com peso de 17-18 arrobas e bom acabamento de carcaça provavelmente irá levar a um aumento de custos. É provável que seja necessário aumentar o porte das vacas de cria, para produzir tais bovinos.

É preciso compreender exatamente o que cada cliente deseja. Um açougue que exige traseiros com mínimo de 65 quilos, pode estar sinalizando outra coisa com essa exigência. Por exemplo, que até hoje não consegue comprar carne com garantia de uniformidade e maciez sem exigir esse peso. É possível que aceite um traseiro mais leve, desde que o fornecedor consiga comprovar e garantir que entregará o prometido. A normatização a ser realizada em conjunto com a ABNT poderá ajudar a caminhar nesse sentido.

Valor agregado é definido por disposição por pagar acima dos custos de produção. Para agregar valor na produção pecuária, a adoção da normatização deverá vislumbrar uma melhoria na equação preço-custo e não apenas no valor recebido (preço).

A definição mais simples de marketing é: atender demanda de forma lucrativa. Logo, atender a demanda do consumidor, sem ter lucro não é um bom marketing. Dessa forma, o trabalho de normatização do novilho precoce tem como desafio criar um padrão de carcaça que atenda o mercado comprador (frigorífico), numa condição que permita a lucratividade do pecuarista.

0 Comments

  1. André Galassi Gargalhone disse:

    Muito bem colocado a importância da normatização, e nesse contexto é fundamental salientar que os benefícios vem para todos os setores, ou seja, para quem consome e tem segurança na qualidade exigida deste produto, quem produz, pois direciona sua produção e amplia suas possibilidades de negócios e para o mercado em geral pois cria demandas novas.

    Vale lembrar que certificar, normatizar, padronizar e colocar selos são ações ainda voluntárias, feitas por quem entende que isso trará diferenciais, sejam eles quais forem, de ordem financeira ou simplesmente garantia de venda.

    Vivemos em um país onde temos um excedente de produção, aprendemos a produzir bem, estamos crescendo e melhorando. Neste cenário “Descomoditizar” a carne é extremamente necessário. Atender as demandas de quem consome e de quem paga mais por isso é realidade.

    Apesar de pecuarista e de trabalhar na cadeia da carne, vou me referir aqui como consumidor exigente de carne que precisa se assegurar das características desejadas na hora de consumir o produto escolhido.

    Acho que estamos diante de uma grande oportunidade de criar estes diferenciais.

  2. Iracema C.P.Foz disse:

    Prezado Miguel

    Como sempre, você nos traz um artigo mais que oportuno, porque a pecuária de corte nacional vem pagando uma imensurável conta de perdas e danos , por falta de dar passos à frente para desmanchar velhas barreiras, assumir sua posição natural na cadeia do boi e mudar suas contas para resultados positivos.

    A normatização, neste caso e também em relação a outros agroprodutos, é um passaporte pronto para receber visto rumo aos mercados que pagam mais. Normatizar é estabelecer os tão necessários padrões, sem os quais não temos volume de qualidade para atender à demanda que existe. Para ter corte padronizados, precisamos ter bois padronizados.

    Normatizar é mudar a cultura que definia resultados com base na quantidade, isto é, quanto mais pesado o animal, mais valor total. Uma regra colocada pelos frigoríficos há cerca de 60 anos. Este conceito, ainda vigente em grande parte do País, simplesmente ignora o principal elenco de características que definem e valorizam a qualidade da carne, como maciez, suculência, teor ideal de gordura, idade do animal.

    Tudo começa na produção. Assim, a Associação Brasileira do Novilho Precoce dá um importante passo nesta tarefa que desenvolve com a ABNT, cujo selo é reconhecido em mais de 150 países. A entidade tem um programa que será disponibilizado a todos os seus associados, seguindo o rumo dos melhores produtos.

    Isso vai ser muito útil ao pecuarista, tradicionalmente isolado, porque não basta haver uma boa regra, é preciso orientar e viabilizar a execução das tarefas necessárias para que regras possam ser cumpridas com sucesso, além de ações de mercado que façam somar o esforço produtivo.

    Normatizar é estabelecer padrões de alta qualidade. E é o começo da possibilidade de criar uma estratégia de marketing bem direcionado, para atingir os alvos que interessam a todos os produtos: os consumidores. em todos os seus nichos e preferências.

    Precisamos pensar grande, para chegar mais perto da fantástica potencialidade representada pela pecuária de corte brasileira. Assim, normatizar a produção, aplicar as boas práticas de produção, preservar o meio ambiente e, necessariamente, exercer a repercussão natural nos bons efeitos de responsabilidade social, é fazer produto para enfrentar desafios e vencê-los.

    O volume de produto dentro das especificações normatizadas ,também significa montar um mapa de abate favorável ao produtor e daí, sairmos desta contenda estéril e danosa, entre produtores e frigoríficos, partindo definitivamente para a realização de uma cadeia produtiva modelo século XXI: eficiente, transparente e rentável.

    O assunto precisa e deve ser debatido. Este programa de normatização precisa e deve ser apoiado, porque representa uma mudança essencial e disponibiliza soluções para todos os que queiram participar. Lembrando bem que ‘queixada fora do bando é comida de onça’.

    Força Miguel. Um abraço

    Iracema Foz

  3. Jose Carlos o Farrill Vannini Hausknecht disse:

    Esta normatização vai de encontro a uma antiga reinvindicação do setor em relação a criação de um sistema de tipificação de carcaça, a exemplo do que é feito na Austrália. Seria interessante ver o sistema adotado por eles e reconhecido mundialmente.

    Como dito no artigo, o mercado deve dizer que tipo de carcaça prefere e pagar mais por uma determinada característica que deseje.

    O produtor brasileiro tem condições de produzir animais adequados a diferentes mercados e isso permitiria a ele, de acordo com suas condições, optar por um sistema de produção que geraria um produto mais interessante do ponto de vista econômico.

    José Carlos
    MBAgro

  4. Ricardo Reuter Ruas disse:

    Acho importante separarmos as etapas de produção da carne e descrevermos dentro de cada uma os procedimentos necessários para se atingir o objetivo.

    1- Produção animal

    2- Transporte e condições anti-morte

    3 Condições pós-morte

    – Os componentes da produção de animais adequados(cruzamentos, alimentação, precocidade etc);

    – As condições adequadas de transporte;

    – As condições adequadas pós-morte.

    Desta forma faremos uma lista de checagem e podemos tê-la como refencial.

    Ricardo Reuter Ruas
    Gerente Geral da ASBIA

  5. Bruno de Jesus Andrade disse:

    Como consumidores, quando compramos alguma mercadoria em um supermercado, esperamos que no mínimo o produto esteja com um bom preço e que possua qualidade (nessa ordem).

    Alguns dias depois, no mesmo supermercado, esperamos encontrar o mesmo produto, nas mesmas condições em que estava o primeiro que compramos.

    Deixando de lado o valor da mercadoria, que é um fator de muita relevância (se não o maior, no momento), a padronização deve ser considerada como de muita importância, pois a qualidade é algo subjetivo, o que é bom para mim, pode não ser o mesmo para você.

    Nesse sentido devemos orientar e trabalhar.

  6. Francisco Vila disse:

    O Editorial sobre a normatização, bem como os comentários dos leitores, atestam que se trata de um conjunto de matérias, cada uma em si já suficientemente complexa, que precisam ser sincronizadas para obter um efeito comercial tangível com o esforço coletivo que se observa em torno do chamado Novilho Precoce.

    Como sempre, na solução de questões abrangentes temos duas metodologias. Ou nós analisamos item por item e tentamos construir com as próprias mãos o sistema que promete levar à obtenção das vantagens cobiçadas, ou nós seguimos o caminho dedutivo, ou seja, procuramos o que há de melhor no mundo, e que já esteja funcionando, e adaptamos estas regras e práticas a nosso caso.

    Para não reinventar roda, o que já se faz sem sucesso desde os anos 70, sugiro optar pelo cominho mais curto, prático e seguro de comparar os modelos sobre ‘selos’ dos principais mercados de consumidores e dos principais países concorrentes da produção bovina.

    O ‘selo’ é um produto intangível acima de um produto físico. O que significa isso? Enquanto eu compro uma boa picanha no meu açougue habitual e após conversa de expert com o vendedor sobre se é este ou aquele o melhor pedaço, eu compro um produto tangível, pois posso tocar, ver e cheirar (conforme embalagem).

    A função do ‘selo’, ao contrário, permite-me comprar (por telefone ou por e-mail) um pedaço de carne igualmente perfeito sem, no entanto, precisar ‘ver’ a peça. Alguém já fez isto para mim e eu confio mais nele do que no vendedor da loja. Isto, em sua essência é a função de qualquer ‘selo’, garantir um nível de qualidade preestabelecido e percebido como adequado pelo comprador.

    Made in Switzerland, como ‘selo global geográfico’ dá outra segurança do que Made in China. Também, o preço é diferente! E é aí, no preço, onde queremos chegar, não é?

    Como se torna evidente, toda a discussão sobre rastreamento, identificação de animais, certificação, normatização, boas práticas do tipo SAPI e as respectivas auditorias ao longo do processo (desde o adubo até a embalagem da picanha na gôndola do supermercado em algum lugar do mundo) é uma linha única e ininteruptível.

    Por este motivo, toda questão da normatização do Novilho Precoce, que representa apenas uma parte da longa cadeia, precisa ser rebobinada do fim (prato) até o início (pasto).

    O consumidor compra um produto combinado, na verdade um ‘pacote de características’ composto pelo peso, a qualidade, a segurança e a conveniência de um determinado pedaço de carne que ele conhece e cujo consumo ele pretende repetir neste preciso momento.

    Precisamos imaginar este comprador nesta posição para identificar as circunstâncias para a viagem de trás (do prato) para a frente (do pasto).

    Com isto, voltamos ao debate na referida reunião da ABNT. Ficou a dúvida: é melhor normatizar o Novilho Precoce como animal ou seria melhor definir normas claras que determinassem a qualidade da carne bovina? A questão não é fácil de equacionar. Vamos, então por passos.

    Precisamos normatizar uma série de coisas nesta viagem que tem três estações principais. Temos o animal, passamos pelo processo industrial e concluímos com o multifacetado setor de comercialização. Entretanto transportamos várias vezes objetos com características distintas. Ou seja, em princípio existe a necessidade de normatizar cada uma destas etapas com suas características e riscos específicos.

    Não podemos perder de vista que tudo que fazemos é para o sujeito que afinal vai pagar nossa atividade, e este é o consumidor. Este, por sua vez, só quer saber de uma coisa (carne de qualidade, segura e fácil de manusear – sempre por um preço atrativo) e de um interlocutor (o vendedor).

    Quem já reclamou de defeitos de construção em seu novo apartamento, ou de um curto-circuito de alguma peça no laptop sabe da canseira que é ser empurrado da loja para o representante, de lá para a empresa produtora, e assim por diante.

    No caso de ter ocorrido algum tipo de problema, o consumidor de nossa picanha vai insistir em processar o último elo da cadeia, todo o resto não interessa a ele. Assim, a ‘cadeia de normas’ distintas (animal, transformação, comercialização) que, no final, adquire a característica sistêmica de uma só norma, precisa ser articulada entre os três elos. E isto, no momento, ainda não está sendo discutido nas reuniões da ABNT.

    Produzir algo muito complexo que envolve entidades e interesses diferentes e em parte antagônicas é uma empreitada pesada. Para assegurar que alguma norma (que nunca vai durar até a eternidade) saia num horizonte razoável, porque não focar numa norma simples e clara que defina as características mínimas daquele animal que será ‘elegível’ para o carimbo Novilho de Precoce.

    Isto ainda não tem nada a ver com o ‘selo de qualidade’, pois a qualidade da carne não depende apenas do manejo cuidadoso no pasto, mas também do processo de transformação e do tratamento nos mais variados canais de distribuição.

    Qualquer norma somente vai ser aceita pelo mercado e render os benefícios almejados se for aplicada por um número de produtores representativos. Por outro lado, um produto de qualidade ‘estandardizado’ também só consegue penetrar o mercado se ele for fornecido com uma certa quantidade mínima e com regularidade. Ou seja, além da norma, precisamos da adesão do setor produtivo!

    Ao fazermos uma norma neste sentido: simples, clara e rápida, nós daremos um sinal positivo para o produtor de que algo está finalmente acontecendo. Esta norma abraçará todas as raças e todos os sistemas de produção. Somente a prática de alguns anos vai revelar que tipo de animal e que perfil técnico do processo oferecem maior aptidão para produzir um animal com as características da ‘Norma Novilho Precoce’.

    Entretanto, enquanto os produtores adaptam suas práticas de produção, o corpo pensante dos representantes da cadeia de carne pode enfrentar o próximo leão que é a normatização dos processos fora da porteira.

    Se não começarmos já e com passos pequenos, voltaremos a esbarrar nos problemas tradicionais de ter muitas boas idéias e nenhuma orientação simples e clara para o produtor. Existe ainda um outro aspecto. Até que os primeiros cem mil novilhos precoces cheguem nos currais dos frigoríficos, certamente se passarão 2 anos.

    Assim, há tempo de sobre para articular a normataização do animal, com as normatizações posteriores da indústria e do comércio cujo conjunto de boas práticas embocará no selo de qualidade da carne que vai servir ao consumidor. O primeiro passo deve mesmo ser o dos produtores e a ABNP está trabalhando para, desta vez, o assunto não resfrie de novo.

    Francisco Vila
    Economista

  7. Donario Lopes de Almeida disse:

    A idéia de criar um sistema de classificação de carcaças não é nova, tendo sido inclusive projetado um programa oficial pelo Mapa e não implementado pela falta de interesse de vários elos de nossa cadeia da carne. Talvez demore algum tempo, mas é inexorável a evolução da demanda por qualidade de parcelas significativas de nossos consumidores, sejam internos ou externos. Neste cenário, a classificação de carcaças baseada em um sistema padronizado e auditável será primordial, portanto, é meritória a iniciativa capitaneada pela Associação do Novilho Precoce.

    Infelizmente vivemos hoje uma situação injusta, onde produtores que investem em genética, nutrição e sanidade são contemplados com o mesmo preço de venda que produtores extrativistas. A classificação de carcaça é o primeiro passo para a diferenciação, mas não podemos nos iludir achando que será bom para todos. Ao mesmo tempo que os fornecedores de qualidade passam a ter um melhor valor por seus animais, uma parcela significativa de produtores de animais de baixa qualidade passarão a ser penalizados.

    Este é um primeiro passo para que possamos criar padrões diversos de qualidade que venham atender a parcelas distintas de consumidores. Além de classificação de carcaça, outros atributos até a pouco impensados já começam a ser demandados e passarão a ter cada vez mais importância. Produtos orgânicos, certificação de origem geográfica e racial, sistemas de produção que respeitem o meio ambiente e bem estar animal, enfim, atributos valorados por consumidores cada vez mais exigentes.

    O caminho da especialização e atendimento a demandas de nichos somente vai evoluir a partir da valorização dos produtos que atendam a estas exigências, e isso certamente será regulado pelo mercado, não por imposição de leis ou regras oficiais. O que precisamos é ter um padrão privado de normas claras, simples e auditáveis, o resto o mercado regula, valorizando a qualidade e depreciando os produtos inferiores. E que cada um encontre o seu ponto de equilíbrio, baseado em suas capacidades e vantagens competitivas, e defina o segmento de mercado mais apropriado ao seu modelo de produção.

  8. Paulo E. F. Loureiro disse:

    A iniciativa da ABNP de normatizar a Produção pecuária junto com a ABNT é louvável e legítima. Vejo na ABNP um entidade que não divulga raças e sim idéias favoráveis à toda a cadeia da carne bovina e merece nosso apoio.

    Mas sabemos que a norma será um primeiro passo, de muitos que faltam para “clarear” o mercado pecuário no Brasil.

    Entre 2002 e 2003 assessorei o frigorífico CAMPBOI de Guapiaçú-SP no desenvolvimento e lançamento da marca de carne TEEN BEEF.

    A carne é oriunda apenas de fêmeas (meio sangue ou F2) que são abatidas com zero dente (menos de 18 meses), carcaça média de 14@ e cobertura média de gordura de 5mm, acabadas em 120 dias de confinamento. Todo o processo é certificado pelo FUNDEPEC, DNV e Inmetro. Hoje a produção gira em torno de 450 novilhas por semana, 12 meses por ano.
    Convido-os a visitar o site (www.teenbeef.com.br) onde terão todas as informações de produção e de comercialização.

    O produto foi para o mercado em novembro de 2002 e está presente em pontos de venda em São Paulo e em Campinas.

    Curiosamente os locais que firmaram parceria para venda do Teen Beef são pontos de venda na periferia das cidades.

    Estranho? Mais ainda porque é um sucesso absoluto e vende facilmente. É uma carne em média 30% mais cara que as demais, com cortes chegando a um plus de 100% sobre a carne tradicional (caso da picanha e do entrecote).

    O consumidor, de bom poder aquisitivo ou não, prefere carnes com qualidade comprovada, que não oscilam com a sazonalidade. Preferem pagar um pouco mais e saber que a carne será sempre padronizada em qualidade, sabor e limpeza.

    Li outros artigos e vejo que o Sr. Paulo Nogueira aborda a questão do peso e do sexo, alertando para a qualidade da carne das fêmeas precoces e superprecoces (zero dente). É um fato.

    Mas a quem interessa peso de carcaça? Bois de 20@? Interessa às indústrias exportadoras principalmente. Portanto que se pague por isso. É verdade de carcaças muito leves são um problema, mas com fêmeas de 14 a 15@ e machos de 17 a 18@ resolvemos o problema dos cortes.

    Penso que o gargalo será informar o consumidor, fazer com que ele acredite que uma carne com selo de PRECOCE ABNP é realmente de um animal jovem, bem acabado e criado com atenção às normas de segurança alimentar.

    Esse será o ponto chave. Estou cansado de ver em diversos supermercados carnes cheias de selos que não dizem nada, selos colocados em animais que não se conhece a história e a origem, colocados em carnes “apartadas” na câmara fria dos frigoríficos.
    Isso atrapalha o mercado sério de certificação.

    Se a ABNP for criteriosa no uso do selo (seja qual for a opção escolhida pela entidade), ele será respeitado e reconhecido pelo consumidor e renderá dividendos para a base de produção, como o Teen Beef, com sua escala ainda pequena conseguiu.

  9. Ernesto Coser Netto disse:

    Uma pergunta me faço a algum tempo:

    Por que a indústria frigorífica não investe em marketing? Qual é a marca de carne bovina que a dona de casa comum reconhece?

    É a única indústria que conheço que não investe em marketing. Para vender mais sapato e ganhar mais dinheiro, uma fábrica de sapatos tem que gastar muito em marketing.

    Mas na carne nada, carne teoricamente é tudo igual e sem diferencial.

    Não é permitido ao consumidor brasileiro em geral escolher pela carne que compra. Ele saberá somente na hora do prato se o bife está macio ou não.

    Acredito que se a indústria ensinar ao consumidor sobre padrão e qualidade, ela terá que manter isto rotineiramente.

    E para manter padrão de venda os frigoríficos terão de comprar com padrão elevado.
    Para manter padrão vão ter que pagar mais. Seria este o principal empecilho para a indústria frigorífica em sua maioria tratar a carne como uma simples commodity e não como um produto sujeito a ações de marketing, para com isto almejar um maior reconhecimento e conseqüentemente um maior valor agregado.

    Então creio que sendo normatizado que é o novilho precoce, começaremos a formar um padrão de qualidade. E a partir dai começar a demonstrar e garantir a qualidade e valorizar esta qualidade.

    Está na hora de colocarmos o elo mais importante da cadeia da carne neste circuito e o elo mais importante é o consumidor.

    Se ensinarmos o consumidor a comer carne de qualidade, com certeza ele passará a exigir por ela e então toda a cadeia passará a ganhar mais com isto.

  10. Jose Amaral Wagner Neto disse:

    Um aspecto muito importante desta iniciativa do setor produtivo e da ABNT, que certamente terá desdobramentos futuros, é o processo de aprendizagem de como se faz ou se elabora uma norma técnica no setor pecuário. A indústria e serviços já o fizeram há tempos e vêm colhendo resultados importantes para a sustentabilidade dos seus negócios e para a regulação dos seus mercados. Nós estamos começando bem, pela qualidade e representatividade das pessoas envolvidas.

    A participação é o aspecto fundamental, porque uma Norma se faz pela construção de um consenso entre os segmentos envolvidos, uma vez que sua aplicação e aceitação é voluntária. Ao contrario dos Regulamentos Técnicos que são de responsabilidade dos governos e que são obrigatórios e, normalmente definidos por mandatos de aplicação exclusivos dos Estados Nacionais. Ocorre que as Normas Técnicas deveriam influenciar a adoção destes regulamentos pelos governos uma vez que refletem as necessidades de um setor e foi referendado por ele. Quase nunca é assim.

    Assim, quanto mais NTs tivermos na pecuária mais “protegido” estará o setor, ao contrário da visão de alguns (dentro do próprio setor) cujos interesses imediatos “engordam” na desregulamentação ou preferem que os governos sigam definindo as regras e o futuro do seu negócio.

    Quem deve morrer precoce é o novilho e não a pecuária brasileira.

  11. Germano Zaina Junior disse:

    A classificação da carne no Brasil sempre foi ao contrário de outros países que procuram pagar ao produtor valores que justificam o trabalho sério de criadores que produzem qualidade.

    Para o produtor brasileiro a classificação é somente decrescente (descontos) e nunca crescente (qualidade, peso, maciez , cobertura), nosso produto tem que ser o excelente para recebermos o preço estipulado pelo mercado (jornal).

    Para que possamos mudar esta manipulação cartelista de preços, temos que nos unir em associações de criadores para buscarmos nosso mercado, e mostrar ao consumidor que somos capazes de produzir produtos de altíssimo padrão.

    O novilho precoce irá conquistar seu mercado, para um público que se preocupa com sua saúde e, acima de tudo, com o sabor e prazer da qualidade.

    Germano Zaina Junior – consultor em nutrição animal

  12. Antonio Davoli disse:

    Estou no mercado de carnes há 29 anos e, realmente, hoje vai ganhar e crescer no mercado de carnes e gado para abate quem se propuser a gerar e criar produtos de alta qualidade.

    No mercado comum existem e nunca deixarão de existir muitos concorrentes. Porém, o público de maior poder aquisitivo e que preza pela qualidade do que consome está, cada vez mais, buscando alta qualidade de produtos, não se importando em pagar um pouco mais por isso.

    Por isso digo e afirmo que nesta linha de raciocínio, estão certos e tem todo o meu apreço.

  13. Marcos Francisco Simões de Almeida disse:

    A normatização é fundamental para o país que se propõe a ser o maior fornecedor de carne no mercado mundial.

    Sua introdução no Brasil surge com alguns anos de atraso.

    A crise atual aponta para a necessidade de sua imediata implantação, pois seus resultados serão sentidos só após decorridos 5 anos de sua introdução no Brasil.

    As dificuldades serão maiores quanto a determinação da melhor genética para cada região produtora do país, pois não haverá padronização se eu e o meu vizinho adotarmos o mesmo sistema de produção, mas continuarmos com genéticas diferenciadas.

    Espero com ansiedade esta normatização.

    Outro assunto: copa do mundo na Alemanha. Não haverá nenhuma promoção do nosso produto na Europa? Com a atual crise e necessidade de divulgar nossos produtos, desperdiçarão esta oportunidade? Só multinacionais patrocinarão nossa seleção?

    A arrancada com força e determinação do Ronaldo em direção ao gol não se assemelha a de um touro bravo? Não seria hora de se vender churrasquinhos nas portas dos estádios, a exemplo do que ocorre no Maracanã?

    Amigos, normatização, padronização, marketing devem ser termos inseparáveis!

  14. Manuel Avila Chytil disse:

    O processo de normalização capitaneado pela Assoc. Brasileira de Novilho Precoce é de extrema importância neste momento de transição onde a indústria está iniciando a valorização de cortes ou carnes especiais.

    Como escutamos desde sempre os compradores pedem uniformidade e constancia, todos nós experimentamos isto quando compramos qualquer produto de origem animal ou vegetal.

    Ao mesmo tempo, este processo também levanta algumas dúvidas na minha cabeça. Será que só o peso é importante? Para quem é importante? Como pode afetar ao pecuarista este aumento de peso exigido pelo mercado?

    Neste último quesito, está extremamente comprovado que o aumento de tamanho adulto dos animais ocasiona um aumento da necessidade alimentar relativa com a variação de tamanho.

    Também sabemos que este aumento do tamanho e dos requerimentos alimentares possuem um efeito pernicioso na reprodução, principalmente nas condições de alimentação a pasto.

    Considerando que a maior parte da pecuária do Brasil esta em pastos de Braquiarias, a maioria destas pastagens estão degradadas ou no processo de degradação.

    Considero complicado falar em aumento de tamanho dos animais, pensando nos efeitos que isto pode ter na reprodução.

    Lembrem-se que o fator de mais peso na produtividade da cria, é a reprodução. Possivelmente a melhoria genética de rebanho nos pesos a desmama e ao ano, mas com restrições sobre o tamanho adulto poderiam ajudar a restringir este problema.

    Programas de cruzamento terminal ou rotaterminal, seriam outras alternativas para evitar cair nos excessos em tamanho.

    Espero que nesse processo de normatização todos os protagonistas da atividade pecuária estejam muito bem representados para que os interesses de todos sejam protegidos, e sirvam para criar prêmios para a produção eficiente e não punições como já aconteceram em outras oportunidades.

  15. Flávio Cristiano Marques Melo disse:

    A iniciativa em normatizar a produção do novilho precoce é de grande importância para o maior exportador de carne bovina, pois, sempre devemos estar oferecendo algo a mais ao consumidor e este também sempre deve se sentir satisfeito com o produto que está adquirindo.

    Porém, deve-se também emitir atenção ao incentivo que o governo federal vem dando à pecuária, a qual está sendo abandonada, comprometendo toda a cadeia produtiva da carne.

  16. Paulo Cesar Bastos disse:

    Como engenheiro, sei das vantagens de uma norma, de uma especificação técnica.

    São fundamentos da qualidade, na construção. Como pecuarista acredito que o mesmo raciocínio pode ser levado para a produção de carne, a fim de aprimorar a qualidade.

    Um aspecto, no entanto, deve ser levado em consideração: o Brasil é muito extenso e diversificado em climas, costumes, manejos e raças bovinas. A heterogeneidade deve ser a nossa vantagem e daí tirarmos proveito. Temos produtos para todos os paladares. Normatizar, não é sinônimo de homogeneizar. Espero que levem isso em conta.

  17. Janete Zerwes disse:

    A certificação somada a produção direcionada, parece ser uma das soluções para a crise que a pecuária atravessa. Na verdade não deveríamos produzir uma grama de carne ou até de grãos que não estivesse atrelada a uma demanda de consumo ou mercado.

    Janete Zerwes
    Coordenação de Tecnologia e Pecuária
    Comissão de Produtoras Rurais – FAMATO – MT

  18. Roberto Strohschoen de Lacerda disse:

    Isto tudo é muito bonito, e seria perfeitamente viável, se o elo da cadeia produtiva chamado “frigorífico” bonificasse este trabalho e pagasse os custos adicionais.

    Por exemplo: eu trouxe novilhos europeus castrados jovens (18 a 24 meses) do RS para engorda em confinamento em SP, acreditando que os frigoríficos poderiam pagar um prêmio por este animais depois de 120 dias de confinamento. Os animais ficaram parecendo uns grandes carrapatos, de tão gordos que estavam. Só que ao negociar a venda, o preço foi o mesmo que um vizinho meu, que criou bezerros mestiços de vacas de leite.

    Pergunte se ele deu Ivomec Gold, se aplicou Top Line, se deu ricobendazole antes de entrarem para o confinamento, e o mais importante se estavam rastreados e se tinham a cobertura de gordura adequada. Não!

    Sendo assim esta conversa de cadeia da carne, de normatização, de exigências e mais exigências, só será possível no dia que os Frigoríficos, ditos exportadores, pagarem o real preço de nosso trabalho.

    Até lá vamos engordar vacas magras, que é o que eles querem, e o que a população brasileira vem comendo neste últimos anos!