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Norris Sheppard: Ações para colocar o Canadá de novo no mercado mundial da carne

Norris Sheppard é presidente do Canadian Beef Breeds Council e concedeu essa entrevista ao BeefPoint sobre como os produtores canadenses estão vivenciando os problemas causados pela descoberta de um caso de EEB na província de Alberta em Maio desse ano. Falou também sobre lições para o Canadá e sugestões para a cadeia da carne brasileira.

A Canadian Beef Breeds Council é uma organização formada por várias associações de raças além de empresas exportadoras. O objetivo da instituição é promover a genética canadense no exterior.

BF: Hoje o Canadá é o foco das atenções devido ao caso de vaca louca. O senhor poderia falar um pouco de como os produtores canadenses estão vivenciando essa situação?

Norris Sheppard: Os produtores estão muito preocupados, pois exportamos uma grande quantidade do que produzimos. Aproximadamente 75% do que é produzido é exportado. E atualmente estamos impossibilitados de exportar.

Temos muito gado gordo em confinamento que não pode ser abatido, pois os frigoríficos não têm mais onde estocar e não conseguem vender toda essa carne.

Nossa preocupação é fazer o sistema voltar a operar normalmente, de novo.

BF: A maioria do gado canadense é terminado em confinamentos. O que tem sido feito com esses animais prontos para abate?

NS: Gado gordo em confinamento pode ser mantido assim por alguns dias, até umas poucas semanas. Com o passar do tempo isso se torna um problema bem maior, uma vez que o custo diário é elevado.

O setor público e privado estão trabalhando para encontrar uma solução para esse problema, com alguma ajuda oficial para minimizar os prejuízos.

O gado está se tornando muito “grande” ou muito “gordo” e o custo está se tornando muito elevado. Abater esse gado e estocar não é possível em larga escala, pois não há tantas câmaras frias para estocar toda essa carne.

BF: O que o Canadá tem feito para rastrear o caso de EEB?

NS: Iniciamos um trabalho para rastrear a vida e origem do animal infectado e todo o rebanho das fazendas onde essa vaca já esteve. Não temos certeza ainda em qual rebanho essa vaca nasceu.

Até o momento eliminamos 1500 animais de vários rebanhos e mais animais serão abatidos e incinerados.

BF: Qual é a hipótese mais aceita atualmente para a origem desse caso de EEB?

NS: Nós suspeitamos da fonte de alimentos, provavelmente farinha de carne. Nós importamos farinha de carne antes da proibição em 1997 e a vaca infectada nasceu em 1995. Portanto ela pode ter se alimentado de ração “contaminada”.

Qual o resultado “ideal” esperado por vocês depois desse problema?

NS: Esperamos não encontrar mais nenhum caso da doença. O ideal é descobrir qual fonte específica de alimento causou esse problema. Infelizmente isso é extremamente difícil.

Quais são os principais pontos para restaurar a credibilidade no mercado internacional?

NS: Primeiro precisamos terminar essa investigação completa da origem e “conexões” da doença. É muito difícil da doença se espalhar, hoje, com todo o conhecimento e controle que temos sobre essa enfermidade. Estamos testando todos esses animais e terminada essa investigação teremos “coberto” todas as possibilidades.

Se não encontrarmos mais nada é porque não há mais doença.

Como o consumidor canadense está percebendo este problema?

NS: Nosso Serviço de Informação da Carne (Beef Information Center) realizou uma pesquisa junto aos consumidores canadenses e concluiu que os consumidores que consomem carne estão satisfeitos com o produtos e seguros quanto à garantia oferecida pela cadeia da carne canadense.

Segundo essa pesquisa, os consumidores não têm planos de mudar seus hábitos de consumo de carne devido a esse único caso de EEB. As vendas no varejo têm se mantido estáveis.

Como você analisa a cobertura dada pela mídia canadense sobre esse caso de EEB? Isso teve um grande impacto em outros países, como na Europa e no Japão.

NS: Estamos satisfeitos. Temos trabalhado de maneira muito boa com a mídia. Os veículos de comunicação têm tratado o assunto de maneira muito justa. Eles têm mostrado que a doença é séria, mas o animal não entrou na cadeia alimentar.

A maior preocupação é mostrar que esse é um único caso. Temos sido muito transparentes e não escondemos nada.

É verdade que demoramos muito para testar esse animal, mas isso ocorreu, pois a carcaça não seria utilizada na cadeia alimentar, para humanos, estando dentro das normas de nosso sistema de controle.

Fomos um pouco criticados por abater um animal em Janeiro e testá-lo apenas em Maio.

Mas esse sistema de controle sanitário provou que funciona, uma vez que o caso foi identificado e a carcaça não entrou na cadeia alimentar. Isso é que importa.

A Agência Canadense de Controle Sanitário e Segurança Alimentar irá fazer mudanças em seus procedimentos?

NS: Acredito que vamos fazer algum ajuste fino em nosso sistema de controle sanitário. Vamos aumentar o número de testes para EEB e aumentar o controle sobre sub-produtos de origem animal.

O que a cadeia da carne canadense aprendeu com esse caso?

NS: Nós estamos temporariamente fora do negócio.

Acredito que o produtor canadense aprendeu quão importante é o mercado internacional. Isso serve de aviso, de lembrete, para que trabalhemos duro para ter o produto mais seguro do mundo. Só assim será possível ter e manter uma posição importante no mercado mundial da carne.

Qual é a importância da rastreabilidade na solução desse caso?

NS: Tem sido uma grande ajuda na investigação. Esse é provavelmente a primeira utilização pública desse sistema. O único problema é que nosso sistema de rastreabilidade não é tão antigo como a vaca que apresentou a doença.

Devido a isso tivemos que trabalhar com o sistema antigo. No futuro o sistema de rastreabilidade será vital para lidar com casos como esse.

Qual seria o seu conselho para os produtores brasileiros?

NS: Acredito que no mercado mundial, Brasil (como o Canadá) está se tornando cada vez mais importante no mercado internacional de carne.

É muito importante ser capaz (e estar apto) a responder qualquer questão ou dúvida que seus consumidores e clientes venham a ter.

Suspeito também que vocês terão que se preocupar, no futuro próximo, com identificação individual de animais. Porque problemas como o que aconteceu no Canadá podem acontecer (e acontecem) em qualquer lugar.

A rastreabilidade não vai evitar que isso ocorra, mas vai permitir que você resolva o problema de forma rápida e eficiente. E isso é vital para o negócio.

0 Comments

  1. Mariano Etcheverry disse:

    Me parece excelente la entrevista al Sr. Sheppard. Debemos aprender de las experiencias ajenas para evitar que esto pase en nuestros países.

    Felicito tanto a la persona que entrevistó al Sr. Sheppard como a él mismo ya que las preguntas fueron muy inteligentes y las respuesta muy claras y francas.