Dono do maior rebanho bovino comercial do mundo, o Brasil ainda briga para se consolidar como fornecedor de carne in natura para os Estados Unidos. Se por um lado as exportações de carne brasileira cozida para aquele país vão de vento em popa, por outro o produto in natura esbarra em duas restrições. A primeira e mais divulgada é a suspeita de febre aftosa, que periodicamente ronda o Brasil ou os países vizinhos. A segunda barreira está camuflada por uma diferença cultural: o paladar do americano ainda não se adaptou à carne bovina brasileira.
“Não se questiona a qualidade do gado brasileiro. O problema é que o norte-americano tem preferência pela carne marmoreada, porque ela é mais suculenta. Nosso gado, na sua maioria da raça Nelore, não possui este entremeio de gordura”, explica a pecuarista sul-matogrossense, Tereza Cristina Correa da Costa Dias. Ela esteve participando, entre os dias 24 e 26 de outubro, da Convenção Anual 2002 do American Meat Institute (Instituto Americano da Carne). O evento aconteceu em New Orleans, Estados Unidos, e pela primeira vez teve a participação de uma delegação brasileira.
“O objetivo da convenção é criar oportunidades para encontros com grandes importadores e usuários finais de carne preparada e com potenciais importadores de carne bovina in natura. Nesse encontro, tivemos a chance de saber o que o mercado internacional realmente quer de nós”, explica Tereza.
Segundo ela, os próprios norte-americanos reconhecem que, do ponto de vista da saúde, a preferência pela carne marmoreada não é a opção correta. “Eles sabem que faz mal à saúde, mas não mudam os hábitos alimentares. Então, apesar de a carne brasileira ser de excelente qualidade, o produtor terá que adequar seu produto ao gosto do norte-americano, se quiser se firmar como exportador”.
Uruguai
Durante o evento, o Uruguai recebeu o certificado de área livre de aftosa sem vacinação para exportar para o Canadá. Atualmente, a exportação da carne uruguaia corresponde a 20% do seu Produto Interno Bruto (PIB). O Uruguai exporta praticamente a mesma quantidade da Bahia, que é o quinto maior Estado brasileiro exportador de carne. “A diferença é que a carne tem uma participação muito maior no PIB deles do que no nosso. Isto gerou um lobby fortíssimo e uma extrema organização, o que nós brasileiros ainda não temos”, assinala Tereza.
Fonte: Correio do Estado/MS, adaptado por Equipe BeefPoint
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Prezados Criadores,
A notícia da possível exportação de carne in natura para o mercado dos EUA pode indicar uma nova caminhada rumo ao cruzamento industrial.
Conforme noticiado, o mercado norte americado tem o consumo voltado para carne com marmoreio, característica esta que cruzamento nelore x nelore não possibilita.
Dessa forma, se o produtor pretender exportar para os EUA, terá de se adaptar ao gosto do consumidor deste país, produzindo carne com marmoreio, o que só será possível com o cruzamento industrial.
Portanto, se a exportação de carne in natura para os EUA tornar-se uma realidade, o mercado para os animais cruzados de primeira linha e o mercado de elite de genética européia podem ocupar uma posição fundamental na pecuária brasileira.
A pecuarista Teresa Cristina emite de início algumas opiniões inquestionáveis:
1) “Não se questiona a qualidade do gado brasileiro”. Concordo.
2) “O problema é que o norte-americano tem preferência pela carne marmoreada, porque ela é mais suculenta”. Concordo.
3) “Nosso gado, na sua maioria da raça Nelore, não possui este entremeio de gordura”. Concordo, ressalvando que parte do gado puro de raças britânicas da região sul-brasileira, quando terminada em confinamento, fornece carne com marmoreio. Mas estatisticamente, face ao total de abates brasileiros, as cifras são desprezíveis.
Correta também é a extrapolação feita: “… apesar de a carne brasileira ser de excelente qualidade, o produtor terá que adequar seu produto ao gosto do norte-americano, se quiser se firmar como exportador”. Exportador de carne desossada para o mercado doméstico norte-americano, eu acrescentaria, lembrando que a carne brasileira atende muito bem aos padrões da maioria dos nichos dos mercados europeu e asiático.
Para “adequar seu produto ao gosto do norte-americano” basicamente são necessários novilhos castrados com pelo menos 75% de sangue de raças britânicas de corte (preferencialmente Aberdeen Angus), recriados e terminados em confinamento com dieta de alto teor de energia e pouco volumoso. Fundamental é que o confinamento se localize em zona livre de aftosa sem vacinação. Ajuda bastante se o produtor e os controladores do frigorífico exportador tiverem ascendência norte-americana, pois o lobby da NCBA em prol do “buy American” se fará sentir com toda intensidade.
Não vamos nos iludir pensando que qualquer novilho meio-sangue zebu, terminado a pasto, fornecerá carne que não seja para hamburguer ou para os nichos de mais baixa remuneração no mercado norte-americano. O pensamento do pecuarista americano sobre o zebu e sobre seus cruzamentos é bem expresso no artigo Marketing Calves with Some “Ear”.