Por Luiz R. Villela1
Na análise semanal de 30/11/2005, Fabiano Tito Rosa mostra a realidade das recentes oscilações dos preços da arroba. Outros artigos e cartas publicados no BeefPoint nos obrigam a parar e refletir.
Assim, no editorial de 27/10 Nosso maior concorrente atual, o engenheiro agrônomo Miguel da Rocha Cavalcanti, coordenador do BeefPoint, coloca pontos importantes quanto a sanidade e aftosa, porém, a meu ver, a maior parte do barulho a esse respeito na Comunidade Européia, aplaudida pelo nosso Governo Federal, é pura jogada comercial para derrubar nossos preços.
No jogo do comercio nacional e internacional, todos querem ganhar e todos argumentos são usados, corretos ou não. Precisamos parar de nos apavorar com o que é mera jogada de negociação.
Precisamos cair na real, porque, a derrubada de preços internos é vital para os frigoríficos exportadores, pois o dólar está muito baixo, e também vital para o Governo Federal mostrar sua eficiência exportadora nos jornais e emissoras de televisão.
Em Cartas, 17/11, o Dr. Fernando Penteado Cardoso com elegância e sua indiscutível competência coloca o problema no devido lugar.
Sim, Fundecitrus, Fundepec, e entidades similares seriam muito bem vindas desde que observado o que disse o Dr. Penteado: Seria uma entidade atual controlada pelos pecuaristas interessados… Reunindo e unindo os pecuaristas produtores de bois para o mercado, Vigilante e Independente.
Refletindo sobre os temas acima expostos, creio porem que o objetivo final dos pecuaristas jamais será atingido se as atenções não forem focadas prioritariamente para o mercado.
Nada é mais importante do que o mercado. Oferta, procura, produção, estoque, preços. Acompanhamento constante do mercado para previsão de preços e tomada de decisões. Quando produzir, quando vender, por qual preço?
Tanto para a pecuária quanto para a agricultura, previsão é a palavra chave, sem depender do Governo, pelo amor de Deus, que só atua a favor dos seus próprios interesses políticos/eleitoreiros e, é claro, de olho em comi$$ões ou contribuições para campanhas eleitorais.
A previsão é impossível?
Alguém acredita que os grandes grupos econômicos nacionais ou multinacionais trabalham sem pesquisa e previsão de mercado, de preços?
A previsão que eles dispõem é o que possibilita as grandes jogadas de mercado, puxando preços para cima ou para baixo, conforme suas conveniências ou suas posições nas Bolsas de Mercadorias.
Na pecuária brasileira apenas os frigoríficos, por diariamente ofertarem e receber ofertas, têm previsão de mercado, mesmo que não muito técnica, mais no “feeling” de quem todo dia conversa, tem contatos, faz preços.
Todos os esforços desses últimos anos dos pecuaristas, pressionados por INCRA, MST, etc, em aumentar a produtividade, selecionando, alimentando em confinamentos, tecnificando porteira a dentro, ampliando fronteira agrícola etc, levou-os a um outro grande problema.
A superprodução de carnes. A maioria dos pecuaristas não percebeu o que ocorria.
Confinando cada vez mais, entregando aos frigoríficos animais para serem confinados e posteriormente abatidos, com pagamento só quando do abate, ao preço do dia (quem faz os preços?), sem necessidade de pagar antecipadamente pelos bois, deixando-os nas portas e praticamente já nas mãos dos frigoríficos, esses por sua vez conseguindo facilidades para fazer grandes confinamentos próprios, boiadas aumentando no Norte, com tudo isso fomos criando a maior moleza para os frigoríficos.
Estes, então, como se diz, deitaram e rolaram, e assim continuam, com nossa ajuda e do BNDES, ficando cada vez mais fortes, concentrando o poder em poucas mãos, quatro ou cinco no máximo.
O excesso de oferta de carnes daí decorrente é o que possibilita a manipulação dos preços pelos cartéis frigoríficos.
Se os pecuaristas tivessem se organizado em alguma entidade exclusivamente sua, com objetivo explicito de acompanhar a evolução da produção de bois e também de carnes concorrentes (frangos e suínos), de acompanhar as possibilidades de absorção pelo mercado interno (principal), e externo, enfim tivessem se aparelhado para efetuar constantes previsões de mercado, teriam sido alertados com antecedência para os perigos do aumento da oferta ano após ano.
Todos os problemas que hoje estamos vivenciando não teriam acontecido ou seriam enfrentados com maior facilidade, pois o setor estaria economicamente mais preparado.
Os altos e baixos do café, da soja, dos bois, precisam nos servir de lição urgentemente.
Bem disse ao Valor Econômico, Alcides Torres, da Scot Consultoria: “A pecuária precisa se defender, se não vai caminhar pelo mesmo caminho do suco de laranja”.
A exemplo de governos, exércitos, grandes corporações, ninguém pode prescindir de um eficiente serviços de informações.
Difícil? Sim. Impossível? Não.
Boa parte das informações está disponível até na internet, em sites do IBGE, IEA, CEPEA, entidades de produtores e exportadores, USDA, etc. Compilar esses dados, somá-los e analisá-los já nos fornecem preciosas informações.
A seguir o próximo passo é divulgar o mais amplamente possível o resultado dessas análises.
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1Luiz R. Villela é pecuarista em Reginópolis/SP e Cotriguaçu/MT
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Mais uma vez expomos nossas fraquezas ao mundo. Eles já suspeitavam e hoje confirmaram.
Como você mesmo disse, Miguel, existem pessoas muito sérias, que trabalham duro dia após dia, sempre buscando aprimorar suas técnicas e sistemas de produção. Também as Universidades e todas as outras instituições que procuram, através de novas tecnologias, implementar algo de novo, alguma nova técnica que de resultado no campo e que propicie bons resultados.
Do mesmo jeito que existem essas pessoas batalhadoras, existem também as de má índole, que usam de falhas no sistema para atrasar, “passar a perna” e “ser esperto”. O que esses indivíduos não sabem é que atrapalham ainda mais o sucesso de nosso país.
Independente de quem sejam vocês e em que locais trabalham, apenas saiam e deixem que pessoas boas ocupem seus lugares.
Agora é hora de corrigir o erro dos outros.
Ótimo artigo.
Excelente artigo. Parabéns.
Eu apenas completaria que as leis brasileiras deveriam prever punições severas (com prisão sem direito a fiança) para os pecuaristas que não vacinam ou fingem que vacinam ou que compram/vendem animais contrabandeados principalmente do Paraguai.
Miguel,
Aqui na Bolívia fala-se muito no papel de “irmão maior” que o Brasil deveria ter em relação aos vizinhos do Mercosul. Eu pessoalmente não creio que se consiga controlar as fronteiras com Paraguai e Bolívia, já morei na fronteira e as possibilidades são enormes.
Creio que seria mais barato investir em um controle conjunto (se liberarem verbas) do que tentar controlar a enorme fronteira. As opiniões aqui também convergem para esse ponto.
Aqui ocorre a vacinação assistida com as colônias menonitas e indígenas, é um pouco complicada, mas é factível.
Abraços
Hamilton Luiz
Santa Cruz de la Sierra – BO
Caro Miguel
Parabéns pela correta análise da situação atual da pecuária.
A solução de nossos problemas se fará através de atitudes pró-ativas dos próprios pecuaristas como a sugerida constituição de um Fundo Nacional de Pecuária nos moldes do Fundecitrus. Por falar nisso, quem decidiu a extinção do Fundepec em São Paulo? Deveria ser cobrado agora pelos desastrosos resultados.
Esperar que um sitiante com meia dúzia de vacas leiteiras deixe de produzir leite por uma semana para vacinar seu gado (e é isso que acontece na prática) é ser muito otimista.
Sem vacinação obrigatória e controlada o fantasma da aftosa não vai desaparecer. E isto custa dinheiro e trabalho. E não adianta esperar que o governo faça alguma coisa. Governos não fazem nada a não ser cobrar tarifas e impostos.
Oxalá produtores, frigoríficos e exportadores entendam isso de uma vez.
Um abraço
Eduardo Miori
Caro Miguel,
Mais uma vez, parabéns pelo editorial.
Parece que sempre estamos batendo na mesma tecla, especialmente quando nos deparamos com um caso, como este atual, da febre aftosa: necessidade de tecnificação para pecuária; rastreamento; controle sanitário; certificação “honesta”…
Fica explícito, que não temos uma postura uniforme de procedimentos técnicos de produção e nem de procedimentos éticos. Senão, não estaríamos amargando as conseqüências do foco atual de aftosa que demonstra que ainda existe ineficiência no controle desta doença.
Técnico, por que me parece que se ocorreu a vacinação e a vacina é realmente eficaz, o método de vacinação pode estar incorreto.
Ético, por que teríamos pecuaristas importando gado sem controle efetivo de sanidade, colocando em risco seu próprio rebanho e os rebanhos de outrem.
Não adianta nos ufanarmos, de amedrontar os nossos concorrentes internacionais do mercado da carne, com nosso imenso potencial de produção, quando lidamos ainda, com problemas considerados arcaicos pelos nossos concorrentes, como é o caso da aftosa.
Abraço,
Janete
Prezado Miguel:
Gostei muito de seu último Editorial. Sensato e objetivo. Querendo apoiá-lo, permito-me comentar alguns trechos de seu trabalho.
“Uma doença eliminada em 1929 nos EUA, nos anos 50 no México”…. “com um efetivo acordo de cooperação mútua entre Brasil e Paraguai”.
Temos que nos lembrar que foram os EUA que erradicaram a aftosa no México, com indenizações e tudo. O Brasil não poderia pensar em fazer o mesmo no Paraguai e Bolívia? Um assunto sério para ser avaliado pelos pecuaristas e suas associações, capazes de pressionar os governos e de gritar quando preciso.
“Há poucos meses o Brasil apresentou uma proposta de rastreabilidade” … “Os europeus vêm afirmando há tempos que o Brasil precisa reforçar sua rastreabilidade e sanidade”. “A cobertura da mídia foi muito grande nesse caso de aftosa”.
Pode-se sub-entender que se houvesse rastreabilidade não teria ocorrido o surto de aftosa. Um sofisma involuntário. A verdade é que não adianta nada usar brincos para evitar o vírus. Virá de qualquer forma se houver fontes contaminantes e bovinos não efetivamente imunizados. Como a vacinação não é 100% eficiente, urge eliminar as fontes e, ao mesmo tempo, controlar a qualidade das vacinas. Enquanto isso, os pecuaristas devem se mantêm vigilantes, prontos a “por a boca no mundo” se notarem algo suspeito ou errado. Fora disso, é só conversa e mais conversa, como referido na “grande cobertura da mídia”.
“Ficou mais claro que é preciso encarar a realidade”. “A questão sanitária ainda não está resolvida”. “Existem exemplos… dentro do Brasil, … o Fundecitrus no Estado de São Paulo é uma instituição privada, que recebe contribuições de produtores…” … “os resultados são excelentes…”.
Belíssima sugestão! Já tivemos coisa parecida com o Fundepec e devíamos voltar a nos organizar em um órgão central normativo com filiais estaduais executivas. Seria uma entidade atuante, controlada pelos pecuaristas interessados, capaz de criar uma consciência de responsabilidade preventiva e de berrar quando órgãos públicos deixassem de cumprir suas obrigações específicas. Reunindo e unindo os pecuaristas produtores de bois para o mercado. Vigilante e independente!
Parabéns Miguel. Continue.
Grande abraço
Fernando P.Cardoso
“É o dono do produto que detém o mercado”. Uma questão de oferta e procura.
Se não somos competentes para este fim de nada adianta acusar de manipuladores aqueles que apenas sofrem com nossa incompetência.
Não fizemos nossa lição de casa e agora acusamos nossos melhores clientes.
Não cuidamos da saúde animal, deixamos a aftosa reaparecer, demos demonstrações de incompetência no trato da informação, não cumprimos a rastreabilidade que nós próprios desenvolvemos e prometemos aos europeus; erroneamente acreditamos que eles, por não ter de quem comprar, vão ceder às nossas trapalhadas e ainda queremos ser grandes!!!!
É inacreditável!
Meu caro Luiz,
Não vou e não me sinto à vontade para discutir com você vários pontos do seu artigo. No entanto, devo, com todo o respeito, discordar de você em um ponto citado.
Aquele em que diz que o Governo Federal é responsável diretamente e de certa forma, na minha interpretação do que o Senhor escreveu, de premeditação e também senão dizer hedionda.
Trabalhei por mais de cinco anos no Ministério da Agricultura, no Gabinete de três diferentes Ministros e na Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA). Devo registrar que esse pensamento, não pode ser disseminado dessa forma.
O Ministério por mais que esteja passando por dificuldades e seja omisso em muitos aspectos em que eu mesmo aponto semanalmente seria incapaz de fazer algo nesse sentido. O corpo técnico daquele Ministério é muito bem preparado e não se curva a pressões políticas. Sei disso e vivi isso.
Respeito a seriedade dos veterinários do Ministério que seriam incapazes de agirem de tal forma para beneficar “a” “b” ou “c” politicamente ou mesmo economicamente.
São profissionais e antes de tudo pessoas que merecem nosso respeito e consideração.
De resto me abstenho de comentar por não me sentir à vontade.
Parabéns pelo artigo e um abraço do,
Otávio Cançado