“23/08/2005 – Pecuaristas e técnicos de 13 países querem conhecer realidade pecuária nacional. A comitiva reúne representantes do Uruguai, África do Sul, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra, Irlanda, Holanda, Alemanha, Suécia, Dinamarca e Noruega”.
Essa notícia alvissareira é divulgada no site da ACRIMAT – Associação dos Criadores do Estado de Mato-Grosso.
Devíamos ter promovido essas visitas três anos atrás antes de inventarmos o sistema de rastreamento que, segundo me informou o então Ministro Pratini de Morais, nunca foi exigido pelos paises consumidores, mas lhe foi sugerido por assessores do MAPA e apoiado pelas entidades consultadas.
Agora podemos demonstrar aos visitantes que o sistema europeu não funciona aqui e que, se quisermos implantá-lo, vai dar origem a críticas, queixas e, eventualmente, a motivos de condenação e suspensão das nossas exportações.
Esses pecuaristas e técnicos do exterior vão dar muita risada de nosso SISBOV quando visitarem a pecuária do Brasil Central e da Amazônia: criadores criando, re-criadores recriando e invernistas ou confinadores engordando. De entremeio um dinâmico comércio de bezerros e de bois magros, até cotados na bolsa de futuros.
São homens práticos que querem ver para entender. Não são condicionados aos interesses dos fabricantes de badulaques nem dos emitentes de certificados. Eles certamente concluirão que o que vale mesmo é uma fiscalização eficiente, persistente e confiável nos abatedouros que chamamos de frigoríficos.
Afinal, que adianta ter um boi com brinco, certidão e licença de transporte? Viria essa identificação,-além da papelada-, minimizar o risco permanente de aftosa através das fronteiras? A numeração codificada nas orelhas, seria transferida às peças desossadas exportadas? A identificação do abatedor, sim, é permanente e pode ser rastreada no caso de queixa ou irregularidade do produto.
Estamos perdendo tempo e dinheiro. O importante é mostrar que nossa carne é saudável, pois vem de bois que vivem ao natural, a pasto, sob sol, chuva, frio e calor.
Importante também é superar o mito da Amazônia, mostrando que substituir a mata por pastagem é seqüestrar parte do carbono liberado, é criar riqueza, desenvolvimento e empregos, como comprovado pelas novas cidades de elevado Índice de Desenvolvimento Humano – IDH.
Mostrar que sempre haverá floresta de sobra nas áreas inundáveis, ou pedregosas, ou montanhosas, alem das reservas legais, somando a milhões de quilômetros quadrados.
Temos que convencê-los de que não há motivo para virem a discriminar nosso produto porque removemos a sombra arbórea para deixar entrar luz e poder plantar capim, dando lugar, após alguns anos, aos cereais de vital importância para um mundo a caminho de 8 bilhões de habitantes.
Devemos argumentar com eles comparando com o que aconteceu em seus próprios países, seja na Nova Zelândia, Europa ou algures onde, em época mais ou menos remota, as matas deram lugar às lavouras e às pastagens.
Mostrar a eles que não devem se deixar influenciar pelas ONGs que vivem de produzir notícias alarmantes para serem vendáveis ou de subsídios provindos de interesses comercias da concorrência.
Cumpre aos produtores de carne assumir a liderança do acompanhamento nessas visitas, mostrando o que produzimos e podemos produzir em larga escala e evitando que fiquem comovidos pelos interessados no SISBOV ou empolgados pela pecuária de cocheira, baseada em super-alimentação, embriões, doadoras (de oócitos), FIV, clonagem e valorização de nascituros agigantados, alem de festas, prêmios e leilões milionários.
Levem os visitantes para o sertão onde, -paridos sem assistência-, provêm milhões de bezerros que são a matriz da carne. Visitem os rebanhos do verde a céu aberto em Nova Monte Verde, Alta Floresta, Nova Guarita, Matupá, Peixoto de Azevedo e São José do Xingú, dentre outros, ao Norte de Mato Grosso.
Lá, sim, dá para conversar e mostrar a realidade da pecuária nacional.
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Simplesmente perfeita esta matéria, parabéns Dr. Fernando Penteado.
Tudo que precisava ser dito sobre o SISBOV, que tentaram empurrar guela a baixo do produtor foi dito. E chamar a responsabilidade o produtor brasileiro, é preciso.
Muitos se acham incapazes de assumir lideranças, quando sabemos que mesmo sendo achatados e explorados por todos os lados o produtor brasileiro ainda consegue fazer milagre, ser produtivo e bater recordes de produção a cada ano.
Quem consegue, num cenário desfavorável como o nosso, se manter na atividade é por que é bom negociador, é bom articulador, enfim o produtor tem que assumir a liderança do seu negócio fora da porteira.
Com este comentário tenho certeza que o Dr. Fernando Cardoso, foi o porta-voz de milhares de pecuaristas deste nosso imenso Brasil, onde lutamos contra todas as dificuldades (governo, ONGs, INCRA, MST, impostos, cartéis etc) para vendermos a carne mais barata e mais sadia do mundo, isto mesmo, é a carne produzida a “céu aberto”.
Não temos a vaca louca, como aconteceu na Inglaterra e os dois casos nos Estados Unidos.
Precisamos parar de abaixar a cabeça e defendermos o nosso produto e o nosso país.
Tem toda a razão, Dr. Fernando.
Minha região era de leite, e fizeram muitos acreditarem que vaca boa era a que tinha papel. A gente se associava, tirava fotos de bezerras, fazia registro provisório, pagava técnico da associação, fazia registro definitivo, comprava sêmen e tinha que fazer comunicação de cobertura, etc., etc., etc.
Era papel demais e ficou pouco leite e muita gente levando vantagem em cima, e até vendendo registro para “esquentar” animais, pois muitos produtores não conheciam como funcionava.
Vacinação de aftosa também é assim.
No cartão tem que descrever o rebanho: Bezerras de 0/12, Bezerros de 0/12, novilhas de 12/24, novilhas de + 24, novilhos da mesma forma, vacas, touros.
Ora, não era mais fácil perguntar ao produtor quantos machos e fêmeas foram vacinados e qual o lote da vacina?
Agora o SISBOV. Já vi comprador de boi para frigorífico brincando boi na hora de entrar no caminhão e ainda falando: “fazendeiro não sabe ganhar dinheiro, eu ponho brinco e ganho de R$1,00 a R$2,00/arroba”.
Como bem disse, o produtor é prático, e acrescento, é simples e honesto em sua grande maioria. Já tem muita gente ganhando dinheiro nas nossas costas, e se o sistema de rasteamento for mais simples, com certeza será mais barato e eficiente.
Carlos Affonso Junqueira Neto
produtor rural/medico veterinário
Como é bom ler e ver que ainda existem pessoas com o gabarito técnico e visão correta e sistêmica da realidade da bovinocultura de corte brasileira.
Em um curto artigo o Sr. Fernando Penteado Cardoso traçou um raio X do que é, na verdade, todo o processo de implantação e desenvolvimento do SISBOV.
Sou médico veterinário de uma grande cooperativa e trabalho diretamente com produtores, certificadora e frigoríficos e concordo plenamente com suas colocações sobre esse processo que, nesses três anos de existência plena, trouxe aborrecimentos, stress e constrangimentos a produtores e técnicos de campo que querem realizar um trabalho sério e digno.
Igualmente a tantas outras leis e portarias (pra não dizer “porcarias”) que mudam e influenciam a vida de milhões de pessoas e setores da economia, o Governo instituiu o SISBOV a revelia dos principais interessados, técnicos e produtores, alterando, e se não dizer piorando, a já delicada rotina diária e financeira dos pecuaristas que enfrentam custos cada vez mais altos e rentabilidade cada vez mais baixa. Sendo o SISBOV, para estes, apenas mais um ônus a carregar.
Sendo que os frigoríficos não pagam mais pra quem rastreia, mas sim paga a menos pra quem não o faz, sendo essa uma relação que mais parece um parasitismo a uma simbiose, no que as duas partes ganhariam com tal processo, haja vista que acontece o contrário. Ou alguém pode me dar um exemplo sequer de produtores que foram mais bem remunerados e não depreciados seus produtos nesta questão?
Em tempos de cotações da arroba as piores dos últimos 35 anos, devemos rever nosso modelo agrícola de uma maneira geral, sendo que hoje enfrentamos o paradoxo de sermos vítimas de nossa eficiência. Pois não podemos bater sucessivos recordes de produção e produtividade sem usar insumos e tecnologia de qualidade, sendo que esses estão diretamente relacionados com os aumentos estratosféricos dos custos de produção nos dois últimos anos.
Rever conceitos de produção, de marketing e de regulamentação, pois quem aí concorda com frigoríficos confinadores?
Eu acho que o Brasil é um dos únicos países do mundo que é permitido que os mesmos donos de uma empresa de um setor seja dono de outra empresa de outro setor da economia, sendo esta interdependente, leia-se: Frigorífico(s) que possui(em) confinamento(s). Nos Estados Unidos isso é proibido por Lei Federal, se você possui carne, não a industrializa, e vice e versa.
E, sendo técnico e/ou produtor no país do “mensalão” e do “eu não sabia de nada”, ficamos cada vez mais a mercê do “tudo vai dar certo no final…”
Acredito que as inspeções nos frigoríficos (SIF) são capazes de fiscalizar eficientemente e produzir um certificado confiável de garantia do produto.
O restante é balela e motivo para que intermediários e burocratas, em seus confortáveis escritórios nas grandes cidades ganharem dinheiro em detrimento do produtor.
Colocar brincos em quinze mil bezerros (número comum nas principais fazendas nos estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Mato Grosso, Rondônia, etc…) que, no decorrer de dois anos, pelo menos 10% são perdidos pelos animais, é uma operação trabalhosa e cara.
Este trabalho é factível para os produtores na Europa, cuja fazendas produzem, no máximo mil bezerros no ano, recebendo incentivos fiscais.
Enir de Souza Pinto
Prezado Sr. Penteado
Sinto-me feliz por vê-lo em plena ação, sempre buscando abrir caminhos para a melhor compreensão desta nossa fantástica realidade (sem exagero).
Contudo, não consegui entender o porquê da sua defesa das pastagens substituírem as áreas de floresta.
Isso não é necessário, quando analisamos a anunciada transferência de pastos (hoje 220 milhões de ha) para a produção de grãos, que conforme o ministro Rodrigues comentou recentemente, deverá ocorrer até 2030 na proporção que vai superar os 100 milhões de ha, “sem que diminua e até aumentando a produção de carne bovina”.
Então, embora concorde com (quase todas) as suas afirmações objetivas quanto às áreas de florestas, penso que falta muito ainda para completarmos o inventário de tudo o que se encontra nestas áreas, embora já havendo condições de avaliar que, certamente, temos ali tesouros muito maiores que o que podemos produzir nos pastos.
Além disso, ainda é necessário re-mapear a Amazônia e estabelecer regras e definições sobre áreas que podem ser transformadas em áreas para a produção sustentada de alimentos, sem que isso ocorra (como está acontecendo), de qualquer forma e, na maioria das vezes, com muitos danos lamentáveis.
A idéia que ganha espaço sobre a pecuária é de desenvolvimento com tecnologia e boas práticas aplicadas, soluções para a formatação de cadeias produtivas modernas e produtos competitivos com valor agregado. Tarefas com visão de longo prazo.
O Século XXI vai exigir nosso esforço no tripé: responsabilidade social, preservação ambiental e segurança alimentar.
Perdoe-me a impertinência. Aproveito para cumprimentá-lo, desejando-lhe saúde e alegria. O Sr. merece.
Grande abraço,
Iracema Foz
Embora concorde em parte com o artigo, principalmente no que diz respeito aos problemas relacionados à cadeia produtiva, discordo totalmente principalmente em relação à utilização da Amazônia para expansão da Pecuária.
Primeiro do ponto de vista econômico, e só andarmos pelos Estados da região sudeste, sul e centro oeste para depararmos com enormes áreas de pastos degradados, mal utilizados e com baixa produtividade.
Incorporar essas áreas a um processo produtivo mais eficiente já nos permitiria aumentarmos em muito nossa produção e por muitos anos não precisaríamos derrubar uma só arvore para produzirmos mais carne.
Devemos considerar ainda que cerca de 70% da carne exportada sai dos frigoríficos de São Paulo, portanto produzir carne na Amazônia parece um contra senso. Não e verdade que os municípios onde a substituição da floresta por pasto tenham seu IDH aumentado, nesta semana mesmo saiu uma reportagem onde mostra claramente que houve muita pouca mudança no IDH dos municípios, o que há é uma melhora passageira e depois se volta aos índices comparáveis à região sem desmatamento.
Ladislau Cesar Rodrigues
Bancário e pecuarista
Prezado colega,
Muito me alegra, ver que ainda existe pessoas, com discernimento e principalmente coragem suficiente para declarar as mais realistas das verdades.
Concordo inteiramente que esta rastreabilidade, da forma como é estruturada, somente confirma que não somos um país sério, e o meio ambiente amazônico, esta sim bastante ameaçado, não pelos produtores que aqui, labutam, mas pelo descaso das autoridades que criam parque e reservas e não fiscalizam, nem criam mecanismos de financiamento para pesquisar o tão falado potencial de biodiversidade.
Aqui em Rondônia apenas 30% do estado está na mão da iniciativa privada o restante é área de preservação.
Fábio
Caro Dr. Fernando Penteado
Eu diria que alvissareiro é ler o seu artigo sobre certas utopias que tentam nos empurrar goela abaixo.
No caso específico do Sisbov creio e divulgo a importância de certificarmos e identificarmos o nosso produto (carne) para termos melhoria da qualidade não só para europeus, americanos, asiáticos e quem sabe “lunáticos”, mas, principalmente, para segurança alimentar do consumidor brasileiro.
No entanto sinceramente não acredito que nos moldes que tentaram implantá-lo será possível rastreamento confiável neste país.
A nossa realidade como muito bem disse no seu artigo é o campo onde milhares de bezerros nascem a cada dia no sistema mais natural possível e que se for mostrado a estas missões estrangeiras dará um bom testemunho de como a nosso boi é verde.
Sobre as tais super-matrizes e super-reprodutores não é a meu ver também a nossa realidade. Estiveram tentando vender via mídia televisiva, impressa e etc, uma pecuária que não pode ser transferida para o campo de forma geral. E não tenho nada contra o papel importante das pesquisas genéticas que afinal de contas trarão melhoria para a produtividade da nossa pecuária.
Parabéns pela coragem em mostrar a nossa verdadeira realidade.
Atenciosamente,
José Luiz Pedreira
Pecuarista
Salvador – Bahia
Graças a Deus apareceu uma pessoa sensata, que utiliza este meio de comunicação para falar de um assunto que incomoda os verdadeiros produtores de carne deste país que nunca foram de fato ouvidos!
O Sisbov é uma grande cilada de burocratas que não tem o que fazer, e que não conhecem a dimensão do território nacional.
Parabens, Dr. Fernando, pelo enfoque claro e objetivo.
Prezado Dr. Fernando,
Na realidade, o que os “gringos” vem fazer no Brasil, é dar-nos um recado muito claro de que ninguém desconhece a pujança do Brasil no setor da carne bovina, no entanto, se quisermos obter credibilidade e vendermos carne aos mercados nobres e que remuneram melhor, teremos que parar com o “me engana que eu gosto”.
No item rastreabilidade então, todos nós sabemos que isto é uma prática corrente.
Sobre a pecuária de corte em região Amazônica, dando um sobrevôo em algumas regiões como Altamira (PA), ou adquirindo algum exemplar da revista DBO Rural, é possível ver em anúncios com foto de áreas à venda, no que se transformou o solo em áreas que eram floresta equatorial e a uns 20 anos deram lugar à pastos e à criação de gado.
Não adianta dizer que foram mal manejados ou faltou adubo.
O sistema amazônico pode e deve gerar muita riqueza com a mata viva, seja pela extração do látex (borracha), turismo, fruticultura (frutas exóticas), plantas medicinais, e ainda da própria extração racional (com replantio) de madeiras nobres (mogno e outros).
Um abraço,
João Francisco S. Vaz
Médico Veterinário