Produto está em desenvolvimento nos EUA e no Brasil e permitirá diferenciar animal sadio vacinado do infectado
Uma nova vacina contra a aftosa, que está sendo desenvolvida por um brasileiro, promete ser uma das mais promissoras no combate da doença. Sua maior vantagem é a possibilidade de diferenciar quais animais vacinados estão efetivamente infectados daqueles que estão sãos.
Segundo o professor de veterinária Mauro Moraes, da Universidade Federal de Viçosa, sua vacina poderia significar uma grande economia para produtores que lidam com a doença. Como será possível identificar exatamente quais animais estão infectados não seria necessário abater todo o rebanho que teve contato com a doença, só os de fato doentes.
“Para exportações representa perspectivas melhores”, diz o professor da Faculdade de Veterinária da USP, Nilson Roberti Benites.
Atualmente, até animais vacinados que entrem em contato com a doença devem ser sacrificados. A vacina deixa vestígios que podem ser confundidos com a doença, tornando impossível separar o gado infectado do são. Além disso, há o custo da dose que, mesmo obrigatória em regiões de risco, não garante a redução de prejuízo se a doença aparecer. A perda com surto de aftosa em um rebanho de 10 mil cabeças, por exemplo, é de US$ 3.500 só com vacinas. Fora o prejuízo com a perda dos animais.
Exportações
O grande problema, entretanto, é a diminuição do mercado externo. Importadores de carne, principalmente União Européia, EUA e Canadá, só aceitam carne produzida em zonas consideradas livres de aftosa. Mesmo a carne de animais que tenham sido vacinados não é aceita nesses mercados por causa das limitações da vacina tradicional.
Essa diminuição no mercado potencial para a carne brasileira é muito significativa, dadas as vantagens comerciais do produto brasileiro. Uma delas é ter custo de produção mais baixo, a maioria do rebanho do País é criada no pasto, muito mais barato que a criação em confinamento. Outra vantagem, que também decorre do fato de o rebanho ser criado a pasto, é sanitária. Sem a necessidade de uso de ração cai o risco de contaminação pelo “mal da vaca louca”, transmitida pela carne usada na fabricação das rações.
Desvantagens
A grande desvantagem da vacina, segundo seu criador, é que ela apresenta diminuição de eficiência em tratamentos de longo prazo. “Inicialmente a eficiência da vacina é 100%”, diz Moraes. “Mas, com uso prolongado, ela tende a perder rendimento”.
Segundo ele, para uso como vacina de emergência ou para controle de áreas livres de aftosa sem vacinação, ela é melhor que a tradicional. “O gado pode ser considerado imune num prazo mínimo de sete dias com a nova vacina, contra o mínimo de 21 dias da tradicional”, diz Moraes. “Isso, porém, não significa que não haja a desvantagem do uso prolongado”. Mas os pesquisadores do Ministério da Agricultura dos EUA, parceiros no desenvolvimento da vacina, já estão trabalhando para tentar contornar esse problema.
Vírus mortos da doença
A vacina contra aftosa usada hoje, de acordo com o professor de veterinária Mauro Moraes, da Universidade Federal de Viçosa, é fabricada a partir de vírus mortos ou debilitados da doença, que são injetados no animal a ser imunizado. Em um eventual exame de sangue é impossível distinguir os vestígios da vacina dos da própria doença.
Por causa disso, em uma área com casos confirmados de aftosa, todo o rebanho é sacrificado, mesmo que tenha sido vacinado, já que é impossível diferenciar os animais realmente infectados daqueles que estão sadios, mas foram vacinados. Essa falha da vacina faz com que a carne de bois vacinados não seja aceita no mercado externo, limitando o poder de exportação do produtor brasileiro, que é alto, pois o País tem o maior rebanho do planeta e é o segundo maior produtor de carne do mundo. Além disso, há o prejuízo com o abate preventivo de animais possivelmente sadios, como o ocorrido em surtos anteriores no Brasil.
Até na Europa, cujos produtores não vacinam o gado, esse abate preventivo foi bastante prejudicial no ano passado, quando foi registrada uma epidemia de febre aftosa, principalmente na Inglaterra.
A nova vacina utiliza uma variação genética do vírus da aftosa, chamado adenovírus. Essa variação genética não produz todas as proteínas do vírus original. O adenovírus produz, em menor quantidade, as proteínas estruturais do vírus, que são identificadas pelo organismo do animal vacinado e usadas como “modelo” para a produção de anticorpos contra o vírus real. Entretanto, ele não produz as proteínas não estruturais, que causam a doença.
Dessa forma, é possível saber, pelo exame de sangue, qual animal vacinado foi infectado e qual não foi. O animal sadio apresenta apenas as proteínas estruturais, enquanto o infectado apresenta as duas. Com essa diferenciação é possível evitar o sacrifício de animais sadios.
Fonte: Agrofolha/ Folha de S.Paulo (por José Sérgio Osse), adaptado por Equipe BeefPoint