Por Roberto Ricchiero de Barcellos1
Com a implementação do Plano Real pelo governo em 1994, e hoje, com a sua consolidação, notamos que estamos diante de um quadro de estabilidade econômica, viabilizando assim uma reorganização administrativa nas empresas rurais, pois, a pecuária está passando por uma fase de transição dentro do cenário Nacional, devido à mudança de valores e conceitos ocasionados pelas desvalorizações ocorridas ao longo dos últimos anos.
O setor agropecuário apresenta índices de produtividade muito abaixo de índices que garantam um mínimo retorno do investimento, devido a um sistema pecuário antigo que proporciona baixos índices zootécnicos, é a pecuária de ciclo longo, um setor administrado de forma amadora ou impulsionado basicamente pelo mercado especulativo, garantido pelos ciclos pecuários de altos e baixos. Como resultado disso temos um produto final carne, que não apresenta um padrão de qualidade satisfatório, devido à falta de um sistema de produção de carne estabelecido, quer seja com 12, 18, 24 ou 36 meses de idade, que garanta alto padrão, a falta de incentivos de “over price” pela qualidade e a falta de processamento adequado.
Em tempos de economia globalizada, vivemos uma fase de competição com produtos que apresentam uma qualidade muito superior em relação aos nacionais, e o pior, com custos no varejo altamente competitivos, colocando em cheque esta estrutura brasileira que se mantém inalterada desde as últimas décadas.
A realidade que vivemos e iremos presenciar, não nos permite mais trabalharmos com a pecuária de ciclo longo, como conseqüência disto teremos uma falta de qualidade de carne e elevação dos custos de produção devido ao grande tempo de imobilização do capital, sem contarmos os riscos de mantermos um animal por período maior até ser abatido.
Portanto, necessitamos urgentemente da adoção de técnicas que garantam um produto final carne que apresente qualidade, um aumento de produtividade nas fazendas com conseqüente elevação dos índices zootécnicos, melhorando assim as margens de lucro do setor, propiciando um retorno mais rápido do capital imobilizado, é chamada pecuária de ciclo curto.
Hoje em dia, notadamente, atravessamos um período onde a amplitude de preços ao longo do ano está cada vez mais estreita, ao contrário dos últimos anos onde havia grandes diferenças de preços entre períodos de safra e entressafra, devido à adoção de técnicas consagradas, como suplementações estratégicas e os confinamentos, portanto, ao longo dos anos estamos fugindo dos confinadores-especuladores que compravam ou produziam bois magros e faziam sua engorda em confinamento, sem considerar os altos custos da atividade, devido à baixa conversão alimentar dos animais mais erados, e portanto altos custos de @, pois as diferenças de preços na entressafra garantiam a atividade.
Após um período de intensos abates de matrizes (1995 -1996), houve uma menor oferta de bezerros, portanto inflacionando os preços de bezerros no mercado, aumentando-se assim a especulação do setor, como conseqüência tivemos a valorização da atividade de cria, e por outro lado tirando o interesse pela recria e engorda. Com o início do ciclo pecuário de baixa em 1999, isto é, após uma grande retenção de matrizes, teremos uma maior oferta de bezerros no mercado, valorizando atividades de recria e engorda, e portanto incentivando as fazendas mais estruturadas, a direcionarem seus investimentos para o ciclo completo, isto é cria e engorda, pois com o sistema superprecoce elimina-se a fase da recria.
Portanto a grande vantagem de trabalharmos com a pecuária de ciclo curto quer seja de 12, 18, 24 meses de idade, é observado pelo desempenho superior dos animais em confinamento, ou a pasto, garantindo assim uma alta qualidade da carne devido a menor idade, através de cruzamento com raças mais precoces e a alimentação controlada, para garantir esta qualidade.
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1Roberto Ricchiero de Barcellos é zootecnista e diretor de pecuária da Fischer Agropecuária.