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Novo registro de aftosa é crise anunciada

O novo caso de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, principal estado produtor e exportador de carne bovina do Brasil, foi uma catástrofe anunciada. E um dos pivôs dessa crise é o Ministério da Fazenda, que reduziu para apenas R$ 37 milhões o dinheiro disponível para a defesa sanitária deste ano. O orçamento inicial era de R$ 167 milhões.

Os controles sanitários no Brasil, que são falhos há muito tempo, ficaram em frangalhos. Parte dessa verba foi reposta após o alerta do setor, mas nem todo o dinheiro prometido foi liberado, mesmo com a proximidade do final de ano.

A economia de alguns milhões de reais para controle do déficit público pode significar o fim de muitos milhões de dólares que entrariam no país como receita das exportações, cujo valor previsto para este ano é de US$ 3,1 bilhões. Para o próximo ano, as receitas vão depender das medidas retaliatórias adotadas pelos 150 países importadores de carne bovina brasileira.

As conseqüências desse foco podem ser imediatas. E dois problemas são evidentes: forte queda de preços, principalmente em Mato Grosso, e redução nas exportações.

Diferentemente das ocorrências anteriores nos estados do Pará e do Amazonas, áreas que não são livres da febre aftosa, esse novo foco põe em jogo boa parte das exportações brasileiras. Mato Grosso do Sul é o maior produtor nacional de carne bovina e o estado que tem a maior tradição nas exportações. Os sul-mato-grossenses têm 12% do rebanho nacional e participam com pelo menos 15% das exportações totais do país.

E a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) coloca ainda mais confusão para o Brasil. Para a organização, Mato Grosso do Sul está no mesmo bloco de Tocantins, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Sergipe, estados que também perderam o reconhecimento de áreas livres da febre aftosa com vacinação.

“Perdem todos: pecuaristas, frigoríficos, setor de exportações e até produtores de outras commodities”, aponta o presidente do CNPC (Conselho Nacional de Pecuária de Corte) e consultor do Sindan (sindicato da indústria veterinária), Sebastião Costa Guedes. Para ele, a apuração desse caso deve ser rigorosa. “Afinal, toda a cadeia vai ser seriamente afetada”. Guedes diz que o Mapa vive uma penúria de recursos, que devem retornar ao órgão para que continue com a defesa sanitária, controles de prevenção, vigilância e comunicação com os pecuaristas.

O presidente do CNPC diz que o país vive uma situação de descasos e cita dívidas de US$ 3,1 milhões do Mapa com a compra de produtos de combate à aftosa. Parte dessa dívida já deixou de ser paga desde o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

“Esperamos que o ocorrido em Eldorado (MS), após problemas no Pará e no Amazonas, em 2004, sepulte de uma vez por todas a falta de recursos para a política de defesa sanitária. Agora o Brasil terá muito trabalho para explicar [a doença] aos mais de 150 países importadores da nossa carne”, afirma.

Fonte: Folha de S.Paulo (por Mauro Zafalon), adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Walter José Verdi disse:

    O aparecimento de um foco de febre aftosa, aqui no Brasil, foi como diríamos no jargão turfístico, “pule de 10”.

    Não se trata mais de um caso, em uma região longínqua da Amazônia, e sim em um estado e município produtores de carne bovina de qualidade. O descaso como se efetuam cortes em verbas para o controle sanitário (que por ser uma medida preventiva, sempre se tornará mais barata que as medidas paliativas que agora deverão ser tomadas) certamente levaria a um aparecimento de focos em região de trânsito mais intenso de animais, devido á precária estrutura de controle e fiscalização. Ainda mais em se tratando de fronteiras com o Paraguai e Bolívia.

    Neste jogo todos serão perdedores, e enquanto não houver regras claras, o risco de derrota será sempre alto. E os prejuízos se acumularão…

  2. Luis Ernesto Guerreiro disse:

    Pouco tem sido falado sobre o produtor rural que causou este problema para a pecuária nacional. Dever-se-ia fazer uma busca minuciosa para determinar como esse vírus atingiu um rebanho restrito. Uma vez identificado, sanções duras deverão ser impostas e, caso comprove alguma irregularidade, indenizações para todos os atingidos com essa “barbárie”.

    Temos que atuar com profissionalismo nesse segmento…. Chega de “espasmos administrativos”.

  3. Paulo Antonio Fadil disse:

    Não é somente verba federal que faltou. Falta também vontade de trabalhar aos funcionários nos estados que executam as atividades de defesa sanitária animal, além da participação do estado, pois o que vemos no MS, é um completo abandono do Zeca do PT ao serviço de defesa agropecuária do estado (IAGRO).

    Em todos os estados da federação não existe um serviço de vigilância sanitária eficiente, pois a verba federal geralmente é mal empregada, sendo aplicada em itens que não melhoram em nada a eficiência dos serviços.

    Sabemos da dificuldade da grande extensão de divisa seca entre o MS e o Paraguai, sabemos também do trânsito intenso de animais na região. Todos sabem, porém ninguém fez nada. É preciso surgir outro foco no estado, com os produtores novamente tomando prejuízo, para ouvirmos as mesmas frases que estamos cansados de ouvir:

    – Este foco vai servir para as autoridades levarem a sério as atividades de defesa sanitária animal….
    – Com esse foco o país irá aprender que a defesa sanitária é uma questão de segurança nacional…
    – Faltou verba do governo federal…
    – Faltou vontade de trabalhar aos funcionários públicos…

    Vamos ver quando e onde será o próximo foco…

  4. José Clineu Luvizuto disse:

    Ilmos. Srs.

    Este nosso governo é mesmo irresponsável, medíocre e míope! Ou melhor, eu chego achar que este governo não governa coisa alguma.

    Foco de aftosa é conseqüência de alguém não ter vacinado seu rebanho. Um único cidadão é capaz de destruir um país como o Brasil, o maior produtor de carnes do mundo. A grande maioria dos brasileiros faz a lição de casa, paga seus impostos, trabalha e produz.

    E este governo medíocre não fiscaliza os maus brasileiros. Com tantos impostos arrecadados, prontamente desviados não consegue por um mínimo de ordem neste País em que vivemos e tanto amamos.

    O foco de aftosa em Eldorado – MS é apenas mais um exemplo do complô que este governo espertalhão monta contra a nossa pátria. Em vez de fiscalizar e exigir que se cumpram as normas estabelecidas (vacinar o rebanho), passam o tempo em negociatas espúrias na calada da noite.

    Meus queridos bons brasileiros, é chegada a hora de entrarmos na justiça cobrando do governo os prejuízos causados e os lucros cessantes causados por esta ineficiente fiscalização contra a febre aftosa.

    José Clineu Luvizuto

  5. Mario Roberto Villela Mattosinhos disse:

    Eu não estou aqui para proteger ou inocentar o governo de suas responsabilidades para com tal fato, mas sim pedir para que se apure com mais rigor o que realmente aconteceu.

    Realmente os animais foram vacinados? Esta partilha de vacina não estava vencida ou não passaram por algum problema em sua armazenagem? A pecuarista acompanhou junto ao responsável da propriedade a vacinação dos animais ou simplesmente mandou vacinar? Esses animais foram vacinados corretamente?

    Gostaria de lembrar que problemas no campo rural acontecem por não dispormos de mão de obra qualificada. Não são todas as propriedades que dispõe de veterinários para acompanhamento durante o período de vacinação.

    Se tal fato não tivesse ocorrido todos continuariam calados, sem precisar procurar culpados. Agora já aconteceu e o prejuízo é maior do que qualquer justificativa plausível ou não.

  6. Paulo Antonio Fadil disse:

    Volto a esta seção para fazer novos comentários a respeito dos focos de febre aftosa que ocorrem no MS.

    O problema é somente uma questão de azar no estado em que ocorre, devido à fronteira com o Paraguai. Embora os focos que ocorreram em 1999 no estado, tenham vindo de contrabando de gado do Paraguai, novamente fica no ar a mesma pergunta: veio do Paraguai?
    A falta de conscientização de alguns pecuaristas (contrabandistas), novamente trará prejuízos a todo o país, e principalmente a todos os pecuaristas de MS.

    O que vemos em sanidade animal no Brasil é uma brincadeira; senão vejamos algumas observações:

    – Os poucos funcionários que “sobraram”, tanto a nível federal quanto nos estados, estão desestimulados, por baixos salários e/ou falta de condições de trabalho.

    – Quando se contrata algum novo funcionário, ele já entra numa corrente viciada, e não irá conseguir modificar nada.

    – Não existe vigilância sanitária funcionando em nenhum estado brasileiro.

    – Não existe educação sanitária sendo promovida por nenhum órgão, estadual ou federal, em nenhuma parte do país.

    – Grande parte dos pecuaristas e trabalhadores rurais (peões), vacinam os animais de forma incorreta, fazendo com que a resposta imune do rebanho seja baixa.

    – Muitos pecuaristas jogam a vacina fora, usando a nota fiscal de compra para registrar a vacinação, como se papel e caneta fossem erradicar a febre aftosa.

    Resumindo, não adianta mais correr atrás do prejuízo depois do leite derramado. O país está passando por um processo de degradação dos serviços públicos, onde vemos os desastres que estão os serviços de segurança, educação e saúde pública, quanto mais em saúde animal!

    Se a iniciativa privada não tomar as providências necessárias e cobrar dos governantes suas obrigações, não vamos erradicar a aftosa nunca!