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Novos aditivos químicos para ensilagem da cana-de-açúcar

Grande parte da pecuária nacional entra em declínio no período de estiagem devido à baixa oferta quantitativa e qualitativa de forragem proveniente das pastagens. A utilização de recursos forrageiros como a cana-de-açúcar para suplementação de ruminantes neste período crítico do ano vem sendo uma estratégia adotada por parte dos produtores.

Esta cultura vem sendo amplamente estudada e empregada como alimento volumoso para ruminantes na forma “in natura”, porém essa forma requer corte diário o que muitas vezes dificulta sua utilização, além disso, verificam-se perdas em seu valor nutritivo durante o verão.

Portanto, a ensilagem da cana-de-açúcar torna-se uma alternativa para tais problemas, possibilitando a realização do corte em um curto espaço de tempo e a colheita da forrageira em seu estádio vegetativo de melhor valor nutritivo (período seco do ano), permitindo sua utilização na época das águas, facilitando a logística operacional da propriedade e evitando sobras de um ano para outro.

Porém, no processo fermentativo da cana-de-açúcar apenas a produção de ácido lático não representa eficiência de conservação, pois leveduras epifíticas são capazes de converterem açúcares a CO2, água e etanol (Walker, 1998; Bernardes, 2002), gerando uma depreciação no valor nutritivo da forragem e um aumento nas perdas durante a estocagem e fornecimento.

Vale ressaltar ainda, que segundo Schmidt et al. (2004) o etanol residual provoca rejeição no consumo, principalmente na fase inicial, logo após o fornecimento da silagem ao animal, pois com o decorrer do tempo de exposição ao ar das silagens no cocho o etanol é volatilizado.

A constatação de que a ensilagem da cana-de-açúcar, normalmente resultava em produtos de baixa qualidade, devido ao intenso desenvolvimento de leveduras e à grande produção de etanol (fermentação alcoólica), levou os pesquisadores a buscarem tratamentos que permitissem melhorar o padrão de fermentação destas silagens, reduzindo as perdas de MS e do seu valor nutritivo.

Diversos aditivos químicos foram utilizados na ensilagem da cana-de-açúcar, entre eles uréia (Siqueira et al., 2005), hidróxido de sódio (Pedroso et al., 2002) e benzoato de sódio (Siqueira et al., 2005). Recentemente, novos aditivos químicos oxidantes estão sendo inseridos em estudos relacionados à ensilagem desta forrageira, tais como: CaO (cal virgem) e CaCO3 (calcário calcítico). Supõe-se que esses aditivos aumentem o pH, reduzam a fermentação da sacarose a etanol e gás, melhorem a estabilidade aeróbia e minimizem perdas totais após abertura do silo.

Segundo Nussio et al. (2005) (Dados não publicados), as perdas durante a fermentação da silagem de cana aditivada com cal virgem foi cerca de 50% inferior em relação à silagem não tratada, tendo o aditivo calcário calcítico também apresentado uma fermentação satisfatória, porém inferior à cal virgem.

Outra vantagem é que esses aditivos podem ser aplicados em sua forma original (pó), dispensando sua aplicação na forma líquida. Uma opção para homogeneização pode ser o vagão forrageiro, onde em cerca de cinco minutos o material já está completamente homogeneizado e a percepção na coloração e cheiro do material pode ser visualizada rapidamente.

Figura 1. Cana fresca e aditivada para ensilagem.


Balieiro Neto et al. (2005a) avaliando silagens de cana-de-açúcar sem aditivo e aditivadas com 0,5, 1,0 e 2,0% de óxido de cálcio observaram maiores valores de pH para silagens com maiores doses de cal (3,66, 4,04, 4,44 e 4,96, respectivamente).

A espécie não apresenta resistência à queda de pH e, um valor muito reduzido pode comprometer o consumo e aumentar perdas por fermentação da sacarose a álcool e gás. Por outro lado, valores de pH mais altos em silagens de cana devido à ação de aditivo, não implicariam necessariamente em associações a fermentação inadequada com alto teor de nitrogênio amoniacal, proliferação de bactérias do gênero clostridium e produção de ácido butírico.

Oliveira et al. (2004), estudando a adição de hidróxido de cálcio na ensilagem da cana-de-açúcar, obteve valores de perdas de matéria seca de 22,6% para as silagens aditivadas com 0,5% de cal contra 27,9% para as silagens controle. Para Balieiro Neto et al. (2005) as silagens de cana-de-açúcar acrescidas de óxido de cálcio tiveram perda média de matéria seca de 20,8%.

Segundo Balieiro Neto et al. (2005b) a adição de 2% de óxido de cálcio nas silagens de cana-de-açúcar promoveu um aumento da digestibilidade verdadeira “in vitro”, redução dos constituintes da parede celular e manutenção da FDN e hemicelulose após a abertura dos silos.

Ainda, Balieiro Neto et al. (2005c) verificaram que a adição de 1 e 2% de óxido cálcio mantiveram o pH e a temperatura nas silagens de cana-de-açúcar, o que proporcionou maior estabilidade aeróbia e recuperação de matéria seca do primeiro ao nono dia de exposição ao ar.

Esses resultados preliminares até o momento estão indicando a viabilidade desses aditivos, porém necessitamos ainda de respostas animais. Avaliações sobre o desempenho animal (bovinos e ovinos), comportamento ingestivo (ovinos), características produtivas e reprodutivas (ovinos) estão sendo realizadas na ESALQ/USP para validar a adoção da ensilagem da cana-de-açúcar com aditivos químicos (cal virgem e calcário calcítico).

Literatura consultada

BALIEIRO NETO, G.; SIQUEIRA, G.R.; NOGUEIRA, J.R. et al. Perdas na ensilagem da cana-de-açúcar cv. IAC 86/2480 (saccharum officinarum L.) com doses de óxido de cálcio. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 42, 2005, Goiânia. Anais… Goiânia: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2005a. CD-ROM.

BALIEIRO NETO, G.; SIQUEIRA, G.R.; NOGUEIRA, J.R. et al. Pós-abertura de silagem cana-de-açúcar cv. IAC 86/2480 (saccharum officinarum L.) com doses de óxido de cálcio. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 42, 2005, Goiânia. Anais… Goiânia: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2005b. CD-ROOM.

BALIEIRO NETO, G.; SIQUEIRA, G.R.; NOGUEIRA, J.R. et al. Valor nutritivo da silagem de cana-de-açúcar cv. IAC 86/2480 (saccharum officinarum L.) com doses de óxido de cálcio antes e depois da ensilagem e com 3, 6 e 9 dias após abertura do silo. ZOOTEC 2005, 24 a 27 de maio de 2005, Campo Grande, MS, 2005c.

BERNARDES, T. F.; SILVEIRA, R. N.; COAN, R. M. et al. Características fermentativas e presença de levedura na cana-de-açúcar crua ou queimada ensilada com aditivo. XXXIX REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, Recife, 2002. Anais… XXXIX REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, CD ROOM, 2002.

McDONALD, P.; HENDERSON, A .R.; HERON, S. J. E. The biochemistry of silage. 2 ed. Marlow, Chalcomb Publications, 1991. 340 p.

OLIVEIRA, M. W.; MENDES L.C.; MARQUES W.P.; ROZANE, D.E.; SILVEIRA L.C.; ALBINO G.D.RES. Adição de hidróxido de cálcio à silagem de cana. ZOOTEC 2004, 28 a 31 de maio de 2004, Brasília, DF.

SCHMIDT, P.; NUSSIO, L.G.; SANTOS, M.C.; RIBEIRO, J.L.; ZOPOLLATTO, M.; PAZIANI, S.F.; MARI, L.J.; LOURES, D.R.S.; JUNQUEIRA, M.C. Comportamento ingestivo de bovinos alimentados com silagens de cana-de-açúcar inoculadas com doses de Lactobacillus buchneri NCIMB 40788. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41, 2004, Campo Grande. Anais… Campo Grande: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2004. CD-ROOM.

WALKER, G.M. Yeast physiology and biotechnology. London:Wiley Editorial Offices, 1998. 350 p.

0 Comments

  1. Edward Zackm disse:

    Prezado Rafael,

    Poderia indicar qual o trabalho que aborda a utilização da cal virgem na forma em pó? Estamos conduzindo um trabalho sobre silagem de cana hidrolisada com cal virgem, porém sob a forma líqüida, aqui na Univ. Est. de Londrina.

    Edward Zackm

  2. Rafael Camargo do Amaral disse:

    Prezado Edward,

    Trabalhos de cana-de-açúcar aditivada com o óxido de cálcio você pode encontrar nos anais de resumos da 43ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia 2006.