Exposição Agropecuária de Uberlândia movimenta R$ 45 milhões neste ano
15 de agosto de 2002
RS: São Borja intensifica ataque ao morcego
19 de agosto de 2002

Novos mercados para exportação

Miguel da Rocha Cavalcanti1

Essa semana duas notícias animaram bastante o setor e nos fizeram esquecer por alguns momentos a conjuntura política que o Brasil vem passando. Foram elas: a abertura do mercado chinês para a carne brasileira e a possibilidade de se começar a exportar carne congelada e resfriada para o NAFTA (EUA, Canadá e México).

China

Essa é realmente uma excelente notícia. O potencial do mercado chinês é enorme. Mais de um bilhão de habitantes que consomem muito pouca carne bovina, portanto com potencial para crescer bastante.

Um fato bastante interessante e que trará benefícios diretos aos frigoríficos e indiretos aos produtores é que a China consome produtos e subprodutos resultantes do abate bovino não muito utilizados no Brasil. Os preços praticados no mercado chinês são superiores aos praticados no Brasil. Portanto, aumenta-se o valor do bovino como um todo, mesmo que esses produtos e subprodutos tenham preço em dólar mais baixo do que a média das exportações brasileiras de cortes mais nobres da carcaça bovina. Um bom exemplo disso são os miúdos de bovinos, tradicionalmente consumidos na China.

Vale lembrar que assinaturas de acordos sanitários, não significam realização de grandes embarques de carne no curto prazo. Qual é a razão para isso? A China já tem fornecimento regular de carne e subprodutos de outros países, como a Austrália. O mercado é crescente, mas o Brasil terá que ganhar market share competindo com outros países. Apesar de termos reais possibilidades de competir no mercado chinês, pois nossos preços são muito competitivos, nossos concorrentes farão de tudo para não perder sua participação.

EUA

Seria excelente para o Brasil começar a exportar para os EUA. É um grande mercado e paga preços convidativos. No entanto não é tão fácil quanto parece.

Para exportar para os EUA, o Brasil (ou uma região do país) deve ser considerada livre de febre aftosa sem vacinação. Não estamos muito próximos de alcançar esse patamar e também não parece ser uma escolha muito acertada. Os focos de aftosa na Argentina, Paraguai e Uruguai, e mesmo no Reino Unido mostraram que o vírus muitas vezes está mais próximo do que se imagina. No caso inglês, ninguém imaginava a possibilidade da doença entrar no país.

Outro ponto é que vencida a barreira sanitária, haverá a barreira comercial, já existente. Os EUA estipulam cotas de exportação para cada país, com quantidades baseadas no histórico de exportações desses países. Como o histórico brasileiro no caso de carne bovina é zero, com certeza terá uma cota muito pequena, parecida com a nossa cota Hilton.

Logo, no caso desse mercado não devemos esperar grandes mudanças no curto e médio prazo. Apesar disso, devemos buscar a abertura de todos os mercados possíveis. Devemos também, trabalhar de maneira pró-ativa para diminuir barreiras comerciais contra os produtos brasileiros, como é o caso da carne bovina que paga altas taxas em inúmeros países.

Conclusão

Exportar é um grande negócio e temos que aumentar nossa participação no mercado internacional de carne bovina. É interessante também que seja estimulada a exportação de produtos manufaturados ou semimanufaturados. Podemos exportar carne nos mais diversos formatos, como pratos semiprontos. Um bom exemplo é a Holanda, que importa cebola (de baixo valor) e exporta onion rings (até para o Brasil!). Dessa maneira gera mais empregos nas indústrias de alimentos e aumenta o superávit do país. A concorrência é grande e temos muito a fazer para nos tornarmos líderes exportadores.

De outro lado, o mercado interno brasileiro garante uma tranquilidade que Argentina e Austrália invejam. Embora nosso consumo interno esteja estagnado, muito pouco tem sido feito para aumentar nossa competitividade com produtos concorrentes, como o frango. O mercado interno (com todos os seus problemas) é bem mais fácil de ser trabalhado. Para começar fala nossa língua. Ainda existem (para nossa surpresa!) supermercados buscando carne de maior qualidade e tendo dificuldades em obter esse produto, mesmo pagando um pouco mais. Temos muitas dificuldades, mas parece que as oportunidades não são exploradas ao máximo.

_________________________
1Miguel da Rocha Cavalcanti é engenheiro agrônomo, coordenador do BeefPoint e pecuarista.

Os comentários estão encerrados.