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Novos rumos para a agropecuária 2

Por Louis Pascal de Geer1

O desabafo do ministro Roberto Rodrigues me surpreendeu pela falta de horizonte e luz no final do túnel e mostra claramente que o Governo e a sociedade brasileira ainda não descobriram que o agribusiness brasileiro é o único esteio sustentável e não removível para o desenvolvimento do país.

A grande investida nas exportações brasileiras criou riquezas e recursos enormes de moedas estrangeiras, basicamente o dólar e o euro, e um saldo comercial invejável permitindo um superávit primário e a valorização do real.

Mas está faltando uma visão global sobre como devemos aumentar o padrão de vida para milhões de brasileiros de uma maneira estruturada e sustentável em que a “fome zero” é somente uma saída emergencial e também de pouca duração.

Quando vejo o BNDES fazendo quase de tudo contrário ao que diz seu nome e missão, que devia ser de zelar e principalmente fomentar o desenvolvimento social do Brasil, entendo quantas mudanças ainda devem ocorrer no coração da nossa sociedade. Cada vez mais estou convencido que estas mudanças se resumem nas palavras visão e competência.

Qual é o nosso ideal para agropecuária brasileira e o agribusiness, e como vamos chegar lá?

Podemos ficar refém da política agrícola dos EUA e UE, com os subsídios e o câmbio sendo usados como verdadeiras armas?

A falta de cobranças da sociedade brasileira aos seus governantes é gritante e permite uma inércia que conhecemos tão bem.

A verdadeira má vontade da área econômica em liberar dinheiro para a agropecuária coloca o país em uma situação de risco absolutamente perigoso e desnecessário. O recente surto de febre de aftosa em MS é um exemplo gritante.

A verdadeira novela de incompetência com o SISBOV, que uma vez funcionando direito seria também uma barreira contra as falhas no controle fitossanitário do rebanho bovino nacional, não consegue ser resolvido de uma maneira clara e eficaz.

Sem o registro das propriedades e auditorias das boas práticas sendo feitos pelas certificadoras, corremos o perigo de ficarmos descobertos na exportação de carne bovina.

Ouvimos muito falar do MST e da reforma agrária, mas os assentamentos como vão, que contribuição estes dão ao agribusiness?

As cooperativas de assentados estão funcionando? Que diferença pode se ver entre o desenvolvimento social nas regiões com e sem as cooperativas de assentados? O modelo de assentamentos é correto, com doação de terra para os assentados? A infra-estrutura está sendo cuidada nestes assentamentos?

O MST tem a obrigação de mostrar serviço e deve ser cobrado pela sociedade e governo pelos resultados obtidos.

A conta de água

Estamos embutindo o custo de água necessário para produzir os grãos, a carne etc no preço de venda destes produtos?

Com cada tonelada de grão ou carne exportada também vai se embora uma quantidade de água enorme sendo este de irrigação ou não.

Este assunto terá uma importância a cada ano mais significativa, e provocará a médio e longo prazo (50 anos) mudanças profundas e, no meu ver, provavelmente tornará a pecuária uma atividade inviável por sua enorme demanda da água durante o ciclo de produção.

Precisamos gente que pensa e faz bem feito o que nós temos de melhor no Brasil: os recursos naturais, agrícolas e, acima de tudo, os humanos.

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1Louis Pascal de Geer atualmente é consultor, trabalhou durante 28 anos para Agropecuária CFM Ltda, se aposentando como vice-presidente da empresa

0 Comments

  1. José Roberto Pires Weber disse:

    Cumprimento o articulista por expressar sua posição.

    Isto, ao meu juízo, é fundamental num país onde a maioria é absolutamente silenciosa e omissa. Discordo, porém de alguns aspectos colocados.

    Especialmente quando é referida a questão da água. Em primeiro lugar, nós não conseguimos colocar nos preços dos nossos produtos primários, sequer o custo de produção mais ortodoxo, que dirá a água!

    Apenas dois exemplos: aqui no Rio Grande do Sul, o preço do quilo vivo do boi gordo situa-se entre R$ 1,50 e 1,60, enquanto o custo de produção, segundo nossos técnicos, é da ordem de R$ 2,08 o quilo!!! No arroz irrigado, o custo por saco de 50 kg gira entre 22,00 e 24,00, ou mais, enquanto o preço de mercado está entre 15,20 e 16,50!

    Por estas razões, entendo mais eficaz a conscientização dos produtores e da própria sociedade a respeito da necessidade imperiosa que temos, de racionalizar o uso da água.

    Parabenizo o articulista pela possibilidade que nos deu de trocarmos idéias sobre questões importantes para todos nós, produtores rurais e agradeço pela oportunidade.

  2. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado José Roberto,

    Muito obrigado pelo seu comentário. Realmente precisamos alertar todos sobre a necessidade de economizar água, mas se me permite perguntar: a China, por exemplo, não está economizando sua escassa fonte de água com cada tonelada de alimento importado?

    Este é hoje um ponto estratégico para eles, deverá ser para nós aqui no Brasil também.

    Cordialmente,

    Louis Pascal de Geer

  3. Vanessa C. Ficagna disse:

    Achei muito oportuno este artigo porque os produtores rurais que sustentam o agronegócio brasileiro estão ficando a mercê de uma posição do governo, que não os assume como base de sustentação da área agropecuária e esquece do setor até que se colha a próxima safra e o retorno financeiro volte ao mercado.

    É muito injusto com o setor, ainda mais se pensarmos que é a fonte de empregos mais barata que existe, não custa ao governo fomentar, preservar, ajudar.