Por Louis Pascal de Geer1
Os tradicionais modelos das cadeias de produtos agrícolas e animais estão se tornando a cada ano mais obsoletos e com efeitos cada vez mais nocivos para todos os seus participantes, mas principalmente para os produtores.
Enquanto alguns comemoram as exportações recordes que o Brasil está conseguindo realizar, outros mais cautelosos olham para as margens cada vez menores e menos sustentáveis no media e longo prazo.
A famosa frase americana de que “The dollar is our currency, but your problem” (O dólar é nossa moeda, mas é seu problema) nunca foi tão verdadeiro como hoje e também tem todos os ingredientes para permanecer uma verdade por muito tempo ainda.
Considere o baixo valor do dólar hoje o mais eficiente resultado da política econômica dos EUA, e se tornou uma arma poderosa contra a concorrência tanto na área industrial como agrícola.
Não sou economista, mais tenho a certeza que as armas que o Banco Central dispõe, não têm como inverter este quadro no campo do valor do cambio, e necessitamos urgente uma política nova para a agropecuária brasileira porque do jeito que estão as coisas hoje, corremos o perigo de inviabilizar em 3-5 anos um grande parte do que foi construído até agora.
A combinação de um baixo valor do dólar (e o euro já começou também) e a valorização do real são de um perigo potencial enorme e nesta situação estamos hoje no Brasil onde já tem sinais do início de um ciclo vicioso de aumento dos custos e queda das receitas.
Gostaria de ver muito mais trabalho em conjunto entre o governo e a sociedade sobre como vamos poder neutralizar este perigo e aproveitar de melhor forma as oportunidades que também se apresentam nesta situação.
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1Louis Pascal de Geer atualmente é consultor, trabalhou durante 28 anos para Agropecuária CFM Ltda, se aposentando como vice-presidente da empresa.
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Quero cumprimentar esta correta análise realizada por Pascal. Caso não houver mudança, nossa insolvência corre a passos largos. A política cambial atende outros interesses econômicos. A insolvência do Estado obriga a manter o câmbio como está. Mas junto o custo de produção aumenta.
Comentário do autor:
Olá, Douglas.
Obrigado pelo o seu comentário. No meu ponto de vista, a atual situação cambial é muito mais globalizada e as respostas brasileiras passam por outros caminhos os quais devemos discutir e descobrir junto à sociedade e governo; o grande poder de fogo está fora de nosso alcance.
Um abraço,
Louis.
Dr. Louis,
Acredito que o sonho de todo cidadão brasileiro é ver seu pais num estágio de desenvolvimento onde sua moeda seja a mais valorizada possível. Quem dera que R$ 1,00 valesse US$ 10,00. Logo, o problema não deve ser a taxa de câmbio.
No curto prazo, o problema da pecuária brasileira passa pela taxa de câmbio, mas no longo prazo (e o ciclo da pecuária é longo) outros problemas são mais importantes: como o nível de renda do povo brasileiro, o CUSTO BRASIL, etc…..
O fato de só conseguirmos exportar nossos produtos com o Real desvalorizado, expõe o problema da nossa economia muito mais do que se pode imaginar.
Um agravante: O GOVERNO DO LULA NÃO ESTÁ PREOCUPADO COM ISSO, se está, é só no discurso (nosso bom ministro, que demonstra estar fora da cultura PT, deve saber disso).
Comentários do autor:
Olá Marcos, A discussão e a descoberta como se lidar com estes problemas passam sem duvida alguma pelo político e mercado interno, e o poder de compra dos brasileiros é um grande desafio, mas também parte principal do solução. Porém, o poder de fogo no cambio não está mais no Brasil.
Vamos então, como você falou, descobrir como a sociedade e governo deverão agir.
Um abraço,
Louis.
Cumprimento o autor do artigo pelas considerações acerca do surto de febre aftosa no MS.
Nesta oportunidade eu gostaria de comentar a seguinte frase escrita pelo Louis de Geer: “A verdadeira má vontade da área econômica em liberar dinheiro para a agropecuária coloca o país em uma situação de risco absolutamente perigoso e desnecessário. O recente surto de febre de aftosa em MS é um exemplo gritante.”
Penso que independente de qual seja o partido no governo, os cortes das verbas do Ministério da Agricultura continuarão ocorrendo, ainda que não tão drásticos como no atual, mas continuarão sacrificando áreas da maior importância como a de Defesa e de Inspeção Sanitária Animal. Assim, creio que teremos que repensar os modelos de gestão dos nossos sistemas de qualidade, aqueles destinados a garantir a saúde dos rebanhos e segurança dos alimentos produzidos.
Não vai dar para depender dos governos estaduais e federal, mesmo porque ainda que disponibilizem verbas, não conseguem ser ágeis o bastante como requer a defesa sanitária. Creio que alguns controles fundamentais devem ficar na esfera governamental, mas muitas das ações precisam ser assumidas por organizaçãos ou fundos de direito privado, controlados por diretorias representativas das cadeias produtivas.
Lembram-se, leitores do belo trabalho conduzido pelo Fundepec de São Paulo no combate à aftosa, que foi coordenado pelo Dr. Pedro de Camargo Neto, e que reformou e adquiriu veículos e computadores para os escritórios da defesa sanitária estadual? Então, temos que pensar em órgãos desse tipo em agências governamentais que cobrem taxas pelos serviços prestados a indústrias e pecuaristas, não só para a aftosa, mas para o sistema de qualidade como um todo.
Importante: as agências não poderão recolher as taxas para o tesouro, mas sim para fundos de profilaxia de doenças e outros que tais.
Convido o amigo Louis para pensar no assunto e escrever um novo artigo a respeito do tema. Quem sabe mais algumas cabeças pensantes se interessem e possam surgir propostas interessantes.