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O agricluster goiano: por que Rio Verde?

Por Melissa Selaysim di Campos1

CLUSTER, segundo o americano Michael Porter, significa “uma concentração de empresas e instituições que geram capacidade de inovação e conhecimento, favorecendo a construção de vantagens competitivas”.

Aplicado ao agronegócio, este conceito tem se traduzido na descentralização da riqueza e da industrialização para o interior do país aonde se encontram disponíveis matéria prima abundante e barateada por facilidades logísticas, com fornecedores de alto nível, instituições financeiras comprometidas com o processo de desenvolvimento e ainda a presença da pesquisa e da mão-de-obra capacitada e sempre reciclada pelos estabelecimentos escolares, inclusive de nível superior.

Utilizando-se da fórmula mágica para o desenvolvimento do agribusiness brasileiro, qual seja pensar globalmente e agir localmente, objetivando o fortalecimento das bases competitivas por meio da prática dos ganhos de competitividade em região produtora do agronegócio, o município de Rio Verde, no Estado de Goiás, é um belo exemplo de agricluster que está dando certo.

Pela definição de competitividade que nos ensina Michael Porter: “você é competitivo quanto tem um desempenho no longo prazo acima da média dos seus concorrentes”. Os concorrentes no caso de Rio Verde eram os produtores entre si e as firmas que ali existiam.

Consciente de que detinha em suas mãos todos os requisitos necessários para competir com outros municípios do Estado e da União, quais sejam o emprego de tecnologia de ponta, alta produtividade e a constante inovação por parte dos agricultores locais, as lideranças municipais uniram forças e foram premiados com a implantação na cidade em meados de 1996, do Projeto Buritis, capitaneado pela Perdigão Agroindustrial S/A em parceria com os produtores rurais, o qual recrudesceu com tamanha intensidade que “explodiu” a pequena cidade de 100.000 habitantes à época (hoje com estimativa de 150.000), redundando em sucesso absoluto.

Para que haja um cluster, há a necessidade da concorrência de três elementos: ciência, tecnologia de ponta e pesquisa.

Em Rio Verde, a pesquisa está presente no agronegócio desde que a COMIGO – Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Ltda em conjunto com a EMGOPA- Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Goiás e a FESURV – Universidade de Rio Verde, implantou os primeiros canteiros destinados ao trabalho dos pesquisadores dos três órgãos, há mais de 25 anos. De lá para cá a coisa evoluiu tanto, a ponto de ser realizada anualmente a AGRISHOW-COMIGO, feira de mostra de máquinas, implementos e resultados da pesquisa, nos moldes da realizada em Ribeirão Preto-SP.

Para se ter uma pequena idéia da grandeza da tecnologia empregada pelos agricultores em Rio Verde, hoje lá se produz mais quilos de soja por hectare do que produzem os seus concorrentes americanos, numa demonstração clara da eficiência dos profissionais da área.

Pólo de atração para as agroindústrias, o agricluster Perdigão contribuiu para incrementar em 47% o Produto Interno Bruto local no ano passado, tornando Rio Verde uma das três cidades brasileiras com maior índice de crescimento econômico.

Três fatores foram extremamente decisivos para que a Perdigão Agroindustrial fosse se instalar em Rio Verde: O Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), o qual funciona como garantidor e alavancador dos recursos financeiros que são repassados aos parceiros integrados, por intermédio do Banco do Brasil S/A, à taxa de juros de 8,75% ao ano; a privilegiada localização geográfica do município, permitindo o acesso aos mercados do Norte e Nordeste do país, além da farta produção de grãos e, por fim, o Governo do Estado de Goiás o qual compareceu concedendo desconto e financiando o restante dos impostos estaduais gerados, durante duas décadas, além de todos os serviços de terraplenagens necessários à implantação do complexo industrial. Também a Prefeitura do município teve participação decisiva, adquirindo as áreas rurais onde se implantou a empresa.

Nem tudo, porém são flores no município. Problemas existiram e continuam a existir, a exemplo das duas rodovias federais que cortam Rio Verde (BR-060 e BR-452), as quais carecem de um recapeamento em toda a sua extensão no Estado de Goiás. O Governo Federal, além de não ajudar ainda acaba atrapalhando, eis que não cuida sequer das rodovias que estão sob sua responsabilidade.

A despeito de tudo isto a região, cujo pivô acha-se na cidade de Rio Verde, onde está instalado o complexo agroindustrial da Perdigão, desenvolve-se de forma acelerada. Vinte e dois municípios ao redor de Rio Verde são beneficiados pelo agricluster ali existente, pois são também produtores de grãos e têm instalado em suas fazendas, granjas de suínos e aves da empresa em parceria com os produtores rurais.

Vale lembrar que o produtor não se torna independente financeiramente quando adentra ao sistema, no entanto, agrega valor ao que antes vendia como produção primária apenas, pois os grãos que produz são transformados em ração que por sua vez é transformada em proteína animal. Sobra-lhe ainda os resíduos dos animais que são agregados ao solo, beneficiando-o e permitindo a aplicação de menos insumos químicos na produção agrícola, de conseqüência, menos onerosa fica a atividade de produção de grãos, resultando em maiores lucros ao produtor.

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1Melissa Selaysim di Campos é pos-graduanda da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da universidade de São Paulo (FZEA/USP), com linha de pesquisa em Qualidade e Produtividade Animal.

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