A pecuária mato-grossense é reconhecida por sua dimensão e pela qualidade com que produz, dentro das legislações vigentes nos âmbitos social e ambiental, uma carne que é exportada para grande parte dos países consumidores, além de alimentar a população brasileira, chegando a todos os cantos do país. Produzir proteína vermelha não é exclusividade da indústria, ela começa no campo, nas propriedades rurais geridas pelos pecuaristas. Mas a continuidade deste processo está ameaçada. A falta de renda, de tecnologia e assistência profissional compromete a primeira e fundamental etapa, a Cria.
Nos últimos anos, a necessidade de aumentar a produtividade, reduzir e melhorar as áreas de pastagens e utilizar tecnologia em genética têm exigido investimentos dos pecuaristas, principalmente dos focados em cria, para que o rebanho seja formado com qualidade e dentro dos parâmetros mundiais. No entanto, a falta de renda limita os recursos disponíveis para os aportes e a contrapartida do poder público não contempla os produtores.
A falta de políticas públicas voltadas para a cria, modelo que consiste na criação de bezerros para abastecer as demais fases da criação, tem impedido o crescimento do rebanho de novilhas e estimulado o abate de fêmeas. Nos últimos dois anos, devido a uma crise de pastagem e falta de recursos para recuperar o pasto é possível constatar o aumento da participação das vacas nos abates. Ano passado, 34% do total abatido eram fêmeas, percentual que saltou para uma média de 50%.
A primeira consequência desta medida será o apagão de bezerros nos próximos anos. Em Mato Grosso mesmo, em cidades como Pontes e Lacerda, uma das principais da pecuária estadual, produtores estão buscando bezerros em Rondônia para suprir a demanda. Outras regiões que se destacavam pela cria, como Arinos-Juruena e Nordeste, os levantamentos apontam que o que está ocorrendo é uma migração das áreas de pastagem para a agricultura, movimento resultante da falta de renda do pecuarista e altos preços das commodities agrícolas.
Caso não haja mudanças nas linhas de crédito para que se tornem compatíveis com a pecuária bovina, com prazos e juros possíveis de serem honrados pela renda dos produtores, haverá mais perdas e a produção de carne ficará desabastecido por falta de bezerros. As linhas lançadas pelo governo, quando são acessíveis aos pecuaristas, não são suficientes, como é o caso do FCO que aprovou R$ 175 milhões em cartas consultas, porém não tem recursos para liberação do dinheiro. Anunciam um recurso que não existe e compromete a toda a cadeia.
Os problemas não estão restritos às linhas de crédito, falta também assistência técnica para os pecuaristas, que há algum tempo deixou de existir tornando o setor refém de representantes comerciais de produtos que focam no lucro da empresa e não no desenvolvimento sustentável da propriedade.
Por esses e outros motivos, a Acrimat lança para 2013 o desafio de retirar a Cria da crise e possibilitar renda para o pecuarista investir em genética, pastagem e consequentemente qualidade dos animais produzidos no Estado. Vamos percorrer 30 cidades mato-grossenses com o programa Acrimat em Ação 2013 trazendo como temática principal a Cria. Também iremos lançar um projeto para valorizar a produção com a realização de leilões de bezerros crioulos e premiação dos animais e vamos propor a criação de políticas públicas voltadas exclusivamente para este segmento fundamental para pecuária.
Ações que deverão ser difundidas em todas as regiões do Estado, para fortalecer a cadeia da pecuária e reduzir os impactos do abate de bezerros nos próximos anos, evitando deixar mercados desabastecidos e encarecer o custo da alimentação no país.
12 Comments
Fico surpreso com o discurso contraditório dos produtores. Em geral, dizem que o poder público só atrapalha, mas se o negócio vai mal querem dinheiro mais barato subsidiado pelo restante da população. E o mercado não funciona?
Se faltar bezerro, significa que o preço vai aumentar em breve e vai ser um bom negócio fazer a pecuária de cria.
Parabéns Luciano pelo assunto abordado como também pelas açoes propostas para buscar a melhor solução ao produtor, haja visto que pelo rebanho que temos no estado a nossa taxa de desfrute fica muito aquem do que deveria estar para buscarmos a sustentabilidade da atividade pecuária. Acredito eu que com o tripé bem estruturado (Genética, Nutrição e Sanidade) alcançaremos essas metas de forma sólida. Pensando em tudo isso e economicamente a base da pecuária começa pela cria (bezerro) onde está o melhor potencial de conversão (ganho) a menor custo, assim como o período do ano (aguas) onde também temos a maior produção de volumoso a um custo baixo. Valer lembrar que a fasede RECRIA tambem existe grandes oportunidade para essa evolução, sendo assim buscar uma melhor otimização desses valores e períodos com os objetivos de produzir qualidade, baixo custo, maior giro (velocidade) e consequentemente uma rentabilidade digna dessa atividade que ajuda e muito a impussionar o PIB do país. Infelizmente tem se pensado e trabalhado muito na fase final da produção (engorda) onde os custos tem sido altos devido a vários fatores. Dessa forma digo que maiores investimentos devem ser feitos nas fases de menor custo (Cria e recria) para que na fase de maiores custos (engorda) se gaste o mínimo necessário. Um abraço
Vacari,
assitencia técnica existe, o produtor é que não procura.
Luciano, aprecio muito a sua matéria mas me pergunto onde andam os recursos do ABC ou mesmo do crédito agrícola destinado a formação e/ou recuperação de pastagens?
Por que os pecuaristas e em particular os criadores do MT não estão acessando estas linhas de crédito?
abs Luciano,
Arnaldo
Parabéns ao Luciano e a toda a equipe da ACRIMAT pela capacidade de síntese e coerência ao apontar um problema que se arrasta a anos; e mais do que isso de propor soluções e caminhos para os pecuaristas.
Olá Luciano, bom escutar você.Gostaria de complementar, sem mudar o tom:
Sofremos alguns apagões, mas este será mais forte.INFELIZMENTE ele sempre é amortecido pela recria e engorda que dividem o prejuízo e o resto da cadeia(Indústria e Varejo) sofre pouco.
Toda cadeia divide os Lucros da produção, mas não seus prejuízos.
JUROS DE 5% com prazos de 8 anos ao ano são proibitivos!
Este trabalho que vocês começam é importante para pecuária.
Sorte.
Abraço
André Bartocci
Olá Luciano, bom escutar você.Gostaria de complementar, sem mudar o tom:
Sofremos alguns apagões, mas este será mais forte.INFELIZMENTE ele sempre é amortecido pela recria e engorda que dividem o prejuízo e o resto da cadeia(Indústria e Varejo) sofre pouco.
Toda cadeia divide os Lucros da produção, mas não seus prejuízos.
JUROS DE 5% com prazos de 8 anos são proibitivos!
Este trabalho que vocês começam é importante para pecuária.
Sorte.
Abraço
André Bartocci
Caro Amigo Vacari
Boa Tarde
A rentabilidade da Pacuária como um todo e, consequentemente a renda do produtor, está associada fundamentalmente aos custos de produção e, finalmente, ao valor pago pelo seu produto final: o Boi Gordo. Porém, e insistentemente temos que repisar e repetir, que o aviltamento e a indignidade do preço do nosso produto final por uma industria (FRIGORÍFICO) CARTELISADA E OLIGOPOLISTA é quem nos tem tirado renda. O que nós pecuaristas , seus lideres e representantes precisamos entender é que nós, neste momento, precisamos nos organizar em contraponto a cartelização. Todo o resto nós sabemos fazer com competência de sobra.
Grande abraço
egberto barros
Bom dia a todos,
Parabéns pela reportagem.
Acredito sim em tudo o que foi dito, porém devemos ressaltar a falha no modo de agir da grande maioria dos produtores, com relação a contratar assistência técnica particular, onde a grande maioria espera do Estado este tipo de assistência, onde deveria ter em seu sistema de produção, como obrigação do produtor com este custo, visto que representa muito pouco para o sistema de produção.
E quando raro o produtor contrata o serviço de algum profissional, seja ele Zootecnista, Agrônomo ou Veterinário, o técnico na maioria das vezes encontra muita resistência com relação as tecnologias e manejos recomendados, ficando o produtor em eterna discussão com o mesmo, sempre a reclamar da situação em que está inserido.
Creio sim que os problemas começam desde de lá de trás, da porteira para dentro, incluindo primeiramente a forma de pensar do proprietário rural com relação a atividade que esta inserido.
Muito obrigado.
Parabéns à ACRIMAT, e ao Luciano Vacari pela matéria em defesa da atividade de CRIA. E deixar aqui registrado de que, também em Minas Gerais, temos tido este mesmo DESAFIO que ” Acrimat lança para 2013, de retirar a Cria da crise e possibilitar renda para o pecuarista investir em genética, pastagem e consequentemente qualidade dos animais produzidos…”. Em Minas Gerais, para o rebanho bovino próximo a 24 milhões de cabeças, cerca de 10 milhões são fêmeas bovinas em idade de reprodução: 7,5 milhões de vacas e 2,5 milhões de novilhas com mais de 24 meses de idade. Mas… Este rebanho de 10 milões de femeas bovinas produzem anualmente “apenas” 5 milhões de crias ( machos e fêmeas), ou seja 50% de nascimentos/ano o que corresponde a 24 meses de intervalo de partos… . Um indice de produtividade considerado baixo… . Estamos trabalhando para chegar à, NO MINIMO, 80% crias/ano, intervalo de partos de 15 meses. Ou seja, mais 3 milhões de bezerros (as) , crescimento da oferta de 60%. Mercado para isto?… Não temos dúvida da sua existência, como muito bem alerta o Luciano no seu artigo. Outro detalhe importante, em Minas Gerais 50% do rebando destas fêmeas bovinas são do “tipo” cruzadas leiteira”, utilizadas na produção de leite e de crias ( macho e fêmea) para engorda e abate. E é por isto que, para nós da EMATER/MG, fica muito claro de que a decisão de se usar um touro Nelore para acasalar com estas fêmeas bovinas do “tipo” cruzadas leiteira”, é uma DECISÃO do próprio mercado. E explica a posição de Minas Gerais de maior produtor de leite do Brasil ( 8,5 bilhões de litros / ano ) e um dos maiores produtores de carne bovina ( 1 milhão de toneladas/ano).
José Alberto de Ávila Pires
Engenheiro Agrônomo ( CREA 7410/D )
EMATER /MG. Departamento Técnico – DETEC ( B.H. )
Coordenador Técnico de Bovinocultura.
Fone: ( 31 ) 3349- 8116 ou ( 31 ) 3349-8078.
e.mail xapeco@emater.mg.gov.br
Parabéns Luciano,
Você sempre em defesa da pecuária do MT. Isso é muito positivo. Continue sempre assim – você é imprescindível!
Focando no assunto assistência técnica. Ainda que ela exista, não se faz presente. E, portanto, dá no mesmo.
É necessário aproximá-la do pequeno e médio produtores, pois são menos técnicos. Aliás financiar reforma de pastagem a quem pouco entende de manejo desta, é como financiar automóveis a quem não possui habilitação. A capacidade de suporte fica sempre relegada a segundo plano; em detrimento das oportunidades de mercado. E, mais uma vez ela corre a degradação.
Saudações
Acredito que já passou da hora dos produtores abrirem os olhos e verem que o modelo extrativista para a produção de gado de corte e da utilização de recursos advindos desde o início do desmatamento e abertura de áreas já era. Se não utilizarmos de tecnologia e gerenciamento para a busca de maior eficiência produtiva (tanto por área como animal) a pecuária de corte vai continuar perdendo espaço para as culturas de grão (as quais já adotaram as devidas atitudes).
O investimento e/ou a utilização de linhas de créditos para buscar maior eficiência na pecuária de corte (principalmente no rebanho de cria) depende de “números”, e, esses números dependem de gerenciamento, o gerenciamento depende de assessoria técnica “qualificada” e profissional, não de orientações “comerciais”, conforme cita Vacari.