Por Patrícia Kobal de S. Rodrigues1, Adriana Luize Bocchi2, Gabriela Zoccolaro Costa3 e Sarah Laguna Meirelles4
A pecuária de corte nacional está se tornando cada vez mais especializada, devido a sua adequação às exigências de qualidade determinadas pelo mercado. A abertura de novos mercados e a crescente demanda por carne de alta qualidade coloca o pecuarista frente a grandes desafios, se tornando indispensável a seleção de seus rebanhos buscando qualidade e eficiência. Na busca desta produtividade, surge a necessidade da utilização de uma ferramenta indispensável na pecuária ou em qualquer outro sistema de produção animal: o Melhoramento Genético.
O melhoramento genético
“O Melhoramento Genético é uma arte milenar. É uma ciência inerente ao próprio homem, pois a luta pela sobrevivência mostrou ao homem a necessidade de selecionar e domesticar alguns animais para mais facilmente obter deles o seu sustento. Com o evoluir dos tempos e com a evolução da genética tem nascido soluções que tem auxiliado o homem a selecionar e promover melhoramento genético nas diferentes espécies, principalmente aves, suínos, bovinos, eqüinos, entre outros, visando contribuir com animais mais produtivos e conseqüentemente disponibilizando um alimento de melhor qualidade para o consumidor”*.
Com um planejamento bem realizado, o melhoramento genético se torna uma ferramenta poderosa na melhoria da produtividade. Se for associada à melhoria do ambiente, que é oferecido aos animais, pode levar a pecuária a níveis de produtividade altamente competitivos e multiplicar os níveis de faturamento do setor. Somente com a união e adequação dos fatores genéticos, nutricionais e de manejo é que se conseguirá uma maior rentabilidade no setor produtivo.
O sucesso de qualquer programa de Melhoramento Genético Animal está no estabelecimento de objetivos e metas bem definidos: na escolha das características desejáveis a serem avaliadas, nos critérios de seleção, na seleção criteriosa e na correta identificação dos animais geneticamente superiores, responsáveis pela produção da próxima geração. Desta forma, é fundamental definir o objetivo final de um programa de melhoramento genético e o que se entende por critérios de seleção (Euclides Filho, 1999).
Objetivos e critérios de seleção
O objetivo de seleção é a combinação de atributos de importância econômica que se busca nos indivíduos, ou seja, é aquilo que se deseja melhorar, sendo ditada pelo mercado e dependente do sistema de produção. Quanto ao sistema de produção, o próprio desempenho atual do rebanho determina aquilo que precisa ser melhorado. Outros fatores importantes no sistema de produção e que determinam a ênfase a ser dada às características a serem selecionadas são o ambiente (clima, solo, topografia), o manejo (reprodutivo, nutricional, sanitário) e a infra-estrutura da propriedade.
A escolha dos objetivos de seleção deve ser feita pela comparação entre os níveis de desempenho atual com os objetivos futuros do rebanho e as necessidades do mercado.
Definidos os objetivos do programa de melhoramento, deve-se então escolher os critérios de seleção que será a característica ou conjunto de características medidas, a partir das quais serão feitas as avaliações e a escolha dos indivíduos.
Características a serem avaliadas
Hoje existem no país diversos programas de melhoramento, e cada qual utiliza uma diversidade de características de acordo com seus objetivos.
O avanço na capacidade metodológica vem sendo acompanhado por adequações nos critérios de seleção que não só se modificam, mas também passam a ser ajustados às diferentes necessidades, demandadas por diferentes raças ou grupos genéticos, ou oriundas de necessidades regionais, do sistema de produção e/ou de qualquer outro seguimento da cadeia produtiva, (Euclides Filho, 1996a), citada por (Pena, 2003).
A característica ganho de peso é amplamente utilizada na seleção de reprodutores de gado de corte, porém não deve ser o único critério a ser utilizado. Indicadores de produtividade na propriedade são essenciais para a rentabilidade do setor.
Nesse contexto outras características como fertilidade, precocidade sexual, de crescimento e de acabamento, musculatura, qualidade de carne (maciez e marmoreio), adaptabilidade, entre outras, são de igual importância para selecionar animais funcionais, eficientes e produtivos. E pode-se observar que os programas e algumas propriedades estão utilizando estas características em suas avaliações.
As ferramentas do melhoramento genético
São duas as ferramentas disponíveis para se promover o melhoramento genético de qualquer espécie: seleção e cruzamento.
Quando se fala em seleção genética, é fundamental que se quebre o paradigma de que a expressão está aliada a gado de elite ou de exposição e sim a maximização da produção com o enfoque em características economicamente relevantes.
Seleção é a escolha dos melhores indivíduos avaliados, os quais serão os responsáveis pela produção da próxima geração. É o processo decisório que indica quais animais de uma geração tornar-se-ão pais da próxima (Euclides Filho, 1999).
O objetivo da seleção é a melhoria de uma característica de importância ou a fixação da mesma numa população.
Por isso é indispensável o descarte dos indivíduos, tanto machos como fêmeas, que não atingirem os parâmetros de qualidade direcionados pelos objetivos e classificados pelos critérios de seleção. Somente com este descarte é que se estará selecionando os indivíduos superiores e assim melhorando o desempenho do rebanho.
O cruzamento é o acasalamento entre indivíduos pertencentes a raças ou espécies diferentes. Através dele consegue-se uma melhoria genética e incrementos de produção e de produtividade, porém não elimina a necessidade de se fazer seleção entre seus indivíduos como método de melhoramento genético.
Qualidade de informação
Todo sistema de produção, para se manter e prosperar depende das informações e interpretações obtidas sobre o mesmo. A qualidade das informações geradas por um programa de melhoramento genético depende dos dados coletados sobre cada rebanho avaliado. Dados mal coletados e/ou mal informados geram informações falsas e que gerarão resultados errados desorientando a seleção.
Com isso deve-se primar pela melhoria continua de processos e pessoas, a fim de contar com a máxima qualidade e veracidade de dados para a predição dos índices genéticos gerados (Carneiro, 2003) e que serão utilizados para a seleção dos indivíduos como já mencionado.
Considerações finais
Com os novos rumos da economia mundial, para que os pecuaristas brasileiros continuem competitivos dentro do mercado exigente deverão fazer uso de ferramentas como o melhoramento genético.
Além do beneficio direto obtido com o uso desta ferramenta, como a venda mais valorizada dos animais, toda a cadeia produtiva da carne estaria sendo influenciada pela melhoria no padrão produtivo dos rebanhos.
Bibliografia
CARNEIRO, R.L.R., 2003 – Anais GEMPEC – Workshop em Genética e Melhoramento na Pecuária de Corte – Qualidade da Informação.
EUCLIDES F.K. 1999. Melhoramento genético animal no Brasil: fundamentos, história e importância. Embrapa, Gado de Corte. Campo Grande. MS. Brasil. 63 pp.
PENA, F.B. 2003 – http:www.ufv.Br/dbg/trab2002/MELHOR/MHR021.htm
*http://naeg.prg.usp.br/promat_formulario/download.phtml?prj_id=296&arq_secao=cadastro.
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1 Zootecnista formada pela FCAV / Unesp – Campus de Jaboticabal – Coordenadora Geral ABCBSenepol.
2Aluna de Doutorado – Programa de Pós-graduação em Zootecnia – Área de Concentração em Melhoramento Genético Animal – FMVZ / Unesp – Campus de Botucatu.
3Zootecnista – Mestre em Genética e Melhoramento Animal – FCAV / Unesp – Campus de Jaboticabal.
4Aluna de Doutorado – Programa de Pós-graduação em Zootecnia – Área de Concentração em Melhoramento Genético Animal – FCAV / Unesp – Campus de Jaboticabal.