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23 de janeiro de 2008
Vedação: criador está habituado à técnica
25 de janeiro de 2008

O boi, o brinco e a União Européia

Nas últimas semanas, a expectativa tem sido grande em relação ao futuro das exportações de carne bovina para União Européia (UE). O principal mercado importador do Brasil corre o risco de não ter mais carne brasileira, por motivos muito mais brasileiros que europeus. A situação atual é difícil de se entender: o Brasil tem dificuldade de se organizar para fornecer para o mercado que é teoricamente seu melhor mercado. Nesse mesmo momento, não se recebe notícias de que a Argentina ou Uruguai têm problemas para continuar o fornecimento de carne para UE. Se nossos vizinhos não estão tendo grandes problemas (como os nossos), de quem é a culpa dos problemas no Brasil?

Nas últimas semanas, a expectativa tem sido grande em relação ao futuro das exportações de carne bovina para União Européia (UE). O principal mercado importador do Brasil corre o risco de não ter mais carne brasileira, por motivos muito mais brasileiros que europeus. A situação atual é difícil de se entender: o Brasil tem dificuldade de se organizar para fornecer para o mercado que é teoricamente seu melhor mercado. Nesse mesmo momento, não se recebe notícias de que a Argentina ou Uruguai têm problemas para continuar o fornecimento de carne para UE. Se nossos vizinhos não estão tendo grandes problemas (como os nossos), de quem é a culpa dos problemas no Brasil?

Um documento publicado pela UE, com data de 17/01/2008 diz que “Desde 2003 que têm sido identificadas deficiências relacionadas com requisitos de importação para carne bovina. Algumas destas deficiências foram resolvidas pelo Brasil, no entanto, durante missões recentes da Comissão, foram identificados exemplos graves de descumprimento no que se refere ao registo das explorações, a identificação dos animais e ao controle das movimentações, bem como a inobservância dos seus compromissos anteriores no sentido de adotar as necessárias medidas corretivas”.

Vale repetir trecho da última frase: “inobservância dos seus compromissos anteriores”. O que o Brasil (em especial o Mapa) tem feito para responder a resposta negativa da UE em relação a rastreabilidade bovina? Vem criando novas regras e novas restrições. Em 25/08/2005, publiquei um editorial Execução e o Sisbov, em que resumia os conceitos centrais do livro aclamado de negócios “Execução”, cuja definição é “A lacuna entre o que os líderes da empresa querem atingir e a habilidade de sua organização em conseguir atingir”. No artigo citava “as estratégias dão errado mais frequentemente porque não são bem executadas e não porque não são boas estratégias… a maioria não encara a realidade muito bem… executar é uma forma sistemática de expor a realidade e agir sobre ela”. Um plano simples para conseguir fazer com que sua estratégia aconteça é: 1-dizer de forma clara e simples o que quer, 2-orientar e discutir como obter esses objetivos e 3-recompensar os resultados.

Minha reflexão sobre os recentes acontecimentos relacionados ao Sisbov é de que falta execução e sobra estratégia. O problema com a UE não é que temos regras recusadas por eles, mas que nós (nas palavras deles) “inobservamos compromissos anteriores”. Não precisamos criar novas regras, novas exigências, novas dificuldades. Precisamos sim, fazer com que as regras antigas sejam efetivamente seguidas. Acredito que possamos inclusive requerer uma diminuição do número de exigências, desde que acompanhado do aumento da severidade com que poucas regras são cumpridas. Segundo declaração da UNICEB, entidade italiana filiada a UECBV, “Is DG SANCO really sure that the twelve new EU Member States are fully applying traceability in the bovine sector and that all the approved slaughterhouses are complying with the EU provisions?”, em tradução livre “Será que todos os estados membros da UE estão realmente cumprindo todas as exigências de rastreabilidade?”.

André M. Nassar, diretor geral do Icone, em artigo “Sem governo não vai dar”, afirma “o caso da rastreabilidade provou que o governo ainda não consegue bater de frente com os europeus e evitar que suas crescentes exigências sanitárias se transformem, na prática, em barreiras comerciais. Por ora ainda tenho dificuldade de enxergar os diversos Ministérios atuando de forma coordenada para virar o jogo e evitar usos indevidos”. Continua, “as conclusões da missão mostram que o governo falha quando a política é de sua responsabilidade”.

Pedro de Camargo Neto, pecuarista e presidente da ABIPECS, em seu artigo “Um apagão sanitário” , afirma que “A decisão da União Européia de restringir o acesso da carne bovina não deveria causar surpresa. É resultado de uma série de missões de auditoria na política pública do setor onde os problemas identificados e as ausências de solução se repetiram. A credibilidade do Brasil se esvaiu. A restrição agora imposta representa, além do econômico, importante retrocesso político. Fica mais uma vez evidente a deterioração da credibilidade dos interlocutores brasileiros”. Complementa, afirmando “o pecuarista precisa passar a participar do processo com maior competência. Um eventual embargo e perda maior de mercado terá conseqüências desastrosas. É ele quem vai pagar esta conta”. O recado está dado.

Fábio Dias, diretor executivo da Assocon, em seu artigo “Novas diretrizes do DIPOA, Circular nº 898”, afirma “infelizmente, as coisas estão ficando cada vez mais difíceis para quem quer produzir para exportação dentro do Sisbov”. Segundo ele, com as novas regras, economicamente, não vale a pena o esforço e investimento extra para se adequar ao Sisbov. O custo do sistema e o alto risco de desclassificação tornam economicamente desinteressante para o confinador seguir com o Sisbov.

O atual Sisbov e exigências do Mapa parecem estar conseguindo o contrário do desejado: impedir que existam exportações de carne bovina brasileira para UE, pelo simples motivo de que não haverá pecuaristas suficientes interessados em produzi-la. O artigo “Por que não vou aderir ao novo Sisbov” com suas mais de 70 cartas é uma boa indicação disso.

É uma situação surpreendente, visto que esse é o melhor mercado para a carne brasileira. Qual a definição de “melhor mercado”? Acredito que seja o mercado que permita maior agregação de valor para nosso produto, sendo agregação entendida como maior diferença entre valores recebidos e custos envolvidos. Estamos conseguindo aumentar os custos envolvidos de forma muito mais “eficiente” que nossos vizinhos uruguaios e argentinos, que precisam seguir as mesmas regras da UE que o Brasil.

O mercado internacional de produtos agrícolas, em especial de proteína animal, está muito favorável aos países produtores, com destaque para o Brasil. A demanda é crescente e a oferta não está sendo suficiente para baixar preços. Precisamos aproveitar essa “onda” de bons preços internacionais e alta demanda por nosso produto, sem “atar nossas próprias mãos”.

Como disse o Prof. David Hughes, do Imperial College of London, em sua palestra “The Future of Beef: A Consumer Perspective”, no seminário em que participei como palestrante nos EUA no ano passado: “quem é o primeiro do mundo precisa mostrar liderança, especialmente liderança em segurança alimentar”. E liderança nos dias de hoje, significa principalmente capacidade de executar. Conseguir coordenação e foco para que a UE continue sendo nosso “melhor mercado” é uma prova importante para a maturidade da cadeia da carne brasileira e seu preparo para o mercado atual: promissor e exigente.

0 Comments

  1. Diego Corradi disse:

    Esse texto é muito interessante. Concordo que exista um grande carácter protecionista nos embargos europeus, isso não é novidade para ninguém. Mas, por outro lado, há a falta de “execução” real de ações efetivas, como citado por Miguel.

    Temos um mercado muito bom, o da UE, que agrega muito valor a nosso produto. E ai vem a pergunta: por que esquecer o mercado que mais agrega valor? Não vale tentar lutar por esse mercado?

    Aí aparece o lado brasileiro. Mostra uma direção desorganizada (governamental e privada), que busca implementar regras em um mercado extremamente heterogêneo e desunido, onde os diferentes elos da cadeia produtiva brigam entre si, não observando que a existência dos outros elos são essenciais para sua própria existência.

    E isso não deve partir somente dos produtores, frigoríficos e outros. Isso deve estar em sintonia com o governo, lideranças e entidades de classe. Nessa relação entre EU e Brasil, não há mocinhos nem bandidos, existem sim pessoas que defendem os seus próprios interesses mediante um mercado franco e voraz.

    Será que para nós começarmos a “executar” de forma mais eficiênte aqui no Brasil será necessário que a pecuária de corte passe por mais dificuldades que já vem passando?

    Sinceramente, espero que não. Não há mais espaço para “pancadas”. Temos que lutar pelo que é nosso hoje para não sofrermos mais danos no futuro. E repare no pronome nosso, que inclui o que é meu, mas não somente meu. Devemos iniciar um processo de pensamento coletivo para lutar juntos a favor de interesses individuais + coletivos, coisa que em nossa sociedade esta cada vez mais difícil.

    Porém acredito que não vamos perder esse mercado, vamos nos adequar com ferramentas mais eficientes de controle e produção. Demonstrando para a EU que a carne brasileira tem ótima qualidade.

    Vamos mostrar que sem a carne brasileira, a EU tem mais a perder do que ganhar.

  2. Antonio Juvenal Marques disse:

    Caro Miguel,

    Acho muito boa sua critica, sempre muito sensata. Eu tenho certeza que todos os leitores sensatos concordam com suas idéias.

    Para entendermos o que ocorre no Brasil é importante entender cada etapa do processo envolve a cadeia produtiva da carne, e os pontos de fragilidade (gargalos) que existem.

    Ao verificar a primeira etapa, ou seja, o vasto e imenso rebanho que temos não se verificam graves propblemas sejam da ordem sanitária ou nutricional do ponto de vista segurança alimentar. Ou seja ,produto com qualidade nós temos. O que então está dificultando a venda?

    O Brasil não tem um comércio exterior que faça esta informação ser acreditada junto ao consumidor nos mercados externos como U.E.; o que se vê são representações de grupos que comercializam os produtos nestes mercados.

    Bem, aí o que se tem vistos são boicotes de interesse de produtores muito organizados como exemplo dos Irlandeses, que ja ví neste mesmo site. boicotando os comerciantes que vendem nossa carne. Estes já sufocados e temendo serem engolidos por uma regra de mercado onde a oferta de produto com qualidade e preços muito mais atrativos que o deles, conseguem ainda assim sensibilizar as autoridades e as influenciam a ponto de excluir o gene do zebuíno da cartilha do produto a ser consumido pelo seu mercado.

    Bem. o nosso papel qual é então?

    União dos interessados no processo como uma verdadeira corrente de uma máquina que está emperrada por falta de quem a direcione para o rumo certo. Para não me alongar muito só tenho a seguinte sugestão ao caro leitor:

    1.) Se for produtor, atue mais em seu órgão de representação seja sindicato ou associação cobre das lideranças atitude junto as mudanças, questione sugira e não reclame como a maioria faz.

    2.) Se for do comércio, não esqueça da regra onde só a parceria melhora o processo, onde se for bom para os dois, o negócio continua ou se for unilateral irá se deteriorar.

    3.) Se tem um emprego público ou trabalha na área, uma correlação direta existe entre as possíveis conquistas ou perdas de forma a afetar positivamente ou negativamente uma sociedade onde estamos inseridos.

    Boa semana……………..atuando!

  3. Valter Harry Bumbieris Junior disse:

    Parabéns pelo artigo!

    Espero que a leitura deste seja feita pelas autoridades responsáveis pelas relações internacionais de nosso pais, assim como, pelo grande número de agropecuaristas brasileiros.

    Ficamos no aguardo do desenrolar desse carretel que parece não ter fim.

  4. Jose Ronaldo Borges disse:

    O Brasil é um país estranho mesmo. Aceita uma série de imposições da UE, mas ao mesmo tempo continua exportando para UE, milho e soja, para fabricação de ração para bovinos que competem com a nossa exportação de carne e lácteos.

    O que acha dessa situação? O Brasil deve tratar cada setor isoladamente ou utlizar uma política mais agressiva de tratamento com UE?

  5. Hamilton Luiz Ledesma de Nadai disse:

    Miguel

    Como em quase todos os assuntos comerciais, não vejo aqui uma polarização simples entre “bem e mal”. São muitas perguntas refletindo muitos fatores envolvidos.

    É realmente impossível o governo conseguir adaptar uma regra que seja factível, eficiente e, de preferência, constante?

    É impossível ao produtor seguir estas regras? Nós que estamos diariamente nas fazendas não reconhecemos várias vezes a pura “má vontade” em atender certos padrões?

    Sendo deficit de carne na Europa uma crescente, já não era hora de pressionar um pouco pelo lado dos exportadores? Afinal necessitamos vender, mas eles também necessitam comprar.

    Trabalhando já a algum tempo em um país com uma pecuária ainda muito subdesenvolvida como é aqui na Bolívia, posso ver que o Brasil esta posicionado muito acima em sua produtividade, mas mantém muitos costumes e atitudes parecidas com as daqui.

    Finalmente vamos esbarrar outra vez na pulverização do setor pecuário, nas milhares de fazendas ineficientes que insistem em sobreviver ao “Darwinismo” e continuam no cenário brasileiro.

    Um forte abraço, parabéns pelo ótimo artigo e por seu “sucesso” pessoal.

  6. Jose Antonio Vieira da Silva disse:

    Eu aderi ao novo Sisbov, q se não é, é ERAs, foi realmente muito complicado, devido q vc tem q ter na propriedade, toda documentação, NF, LIVRO DE REGISTRO de toda movimentação, controle de todos os produtos de uso de rotina, DIAs,certificado da certificadora, todos o rebanho com idade maior de 12 meses brincados, etc….. além de tudo toda essa documentação deve ficar no ERAs (fazenda), será q os nossos colaboradores q trabalha na propriedade dão conta? Se geralmente eles são semi-alfabetizadso? Quando vc vai tirar uma NF ou uma GTA, vc tem o controle aqui na cidade da idade desses animais um por um? Se toda document. tem q ficar no ERAs? E por ai vai as indagações. Será q vai compensar toda essa trabalheira em resultado positiva? Já ouvi dizer que o ERAsjá ERA.
    Felismente após a fiscalização do MAPA, minha propriedade, diga de passagem é pequena, foi considerada em conformidade.
    Agora espero que todo esse esforço seja compensador, par que não seja apenas ERA>

  7. Fernando Sampaio disse:

    Absolutamente correto.

    Se depois de cada visita os relatórios e as exigências dos europeus são engavetados em Brasília, era previsível imaginar que um dia eles se cansariam da brincadeira.

    A culpa não é dos irlandeses que fizeram um lobby para bloquear as importações brasileiras, e sim dos brasileiros que lhes deram o motivo.

    Cumprir compromissos e contratos é a regra número um para se ter respeito e confiança como parceiro comercial. O Brasil parece ser incapaz disso.

    Agora, uruguaios, argentinos, australianos e americanos (sim, já há carne americana aqui) estão aproveitado a alta de preços causada pela saída do Brasil do mercado.

    Enquanto eles ganham dinheiro, pecuaristas, frigoríficos e governo no Brasil acusam-se mutuamente de incompetência, ganância e falta de visão. O pior é que todos estão com razão.

  8. Louis Pascal de Geer disse:

    Caro Miguel,

    Gostei muito do seu artigo e sem dúvida nenhuma a grande maioria das problemas que temos com a União Européia são causados por nós aqui no Brasil mesmo, onde prometemos tudo e as vezes não comprimimos nem a metade. Isto irrita todo mundo desde os fazendeiros, frigorificos, técnicos aqui no País e, obviamente, em primeiro lugar o pessoal que vem de fora inspecionar o que foi feito.

    Nós aqui temos grandes problemas em aceitar sermos cobrados pelo que falamos e prometemos e sempre achamos que o famoso jeitinho brasileiro resolve todos os problemas.

    Cada dia em que demoramos a enfrentar os nossos problemas de frente colhemos o desgaste e até prejuizos.

    Temos que nos acostumar a cobranças e auditorias sobre o que afirmamos e prometemos e para mim chegou a hora de começar de novo o nosso diálogo com a União Europeia, mas desta vez com a presença da cadeia produtiva e as indústrias.

    Parabéns pelo artigo.

  9. Vilberto Preti disse:

    Lamentavelmente, quem sempre acaba perdendo e o Pecuarista!

    Quando criaram o SISBOV, algumas pessoas viam uma ótima oportunidade de ganhar muito dinheiro investindo apenas um pouco de tempo e esperteza. Criaram algumas barreiras até para importar “brincos de qualidade adequada” para proteger interessses especificos.

    O fato é que tem pecuarista que já pagou e até hoje espera pelo serviço pago e não recebido. Não conheço qualquer certificadora que tenha recebido alguma penalidade. Acredito que as diretrizes atuais que estão sobre o comando de técnicos e conhecedores do assunto, podem dar rumo adequado ao SISBOV.

  10. Mauricio Garcia de Almeida disse:

    Ótimo artigo.

    Mas se execução é o X da questão, vamos analisar os três pontos do plano de fazer com que a estratégia aconteça, na ótica de um produtor de gado de corte:

    – Não cabe ao produtor dizer de forma clara e simples o que se quer, mas ao mercado e ao governo que criou as regras.

    – Não cabe ao produtor orientar, mas ser orientado e então discutir a melhor maneira de obter os resultados esperados.

    – Agora, recompensem estes resultados, efetivamente, e verão como a rastreabilidade decolará e deixará de ser algo apenas para “irlandês” ver.

  11. Luiz Américo Cavallini Filho disse:

    Enquanto existir diferença entre as exigências do mercado interno e externo nunca teremos credibilidade.
    Exemplos dizem mais do que tudo, como posso vender um produto para meu vizinho se na minha própria casa não o tenho?

    O grande furo do SisBov está na idéia errada de ser um certificado de exportação e não um ceritificado de qualidade.

  12. Felipe Cordeiro disse:

    Por hora Miguel, parabenizo a você pelo assunto.

    Minha opinião é talvez relevante, pelo ponto de vista de algumas pessoas. Mas acho o seguinte, fazendo perguntas como por ex. O mercado da UE é excelente por remunerar bem? Sim, com plena certeza é “onde temos” quase 100% a mais de lucros em U$$ por Kg de carne quando comparamos a média dos outros lugares que exportamos carnes, de acordo com a fonte aqui do BeefPoint recentemente.

    Então que maravilha ter um mercado que paga realmente por uma carne natural, saudável e saborosa como é a nossa do Brasil. Mas ai vem uma série de pensamentos que não me deixam calar. Hora mas se eles pagam quase 100% a mais pela carne brasileira, onde está este aumento de remuneração por este boi rastreado? Com quem está ficando o maior pedaço da fatia do bolo?

    Com a gente que sofre para produzir, tentando comprar bezerros baratos ou produzí-los com mais eficiência, enfim tentando a famosa sustentabilidade na produção e aumentando a nossa competitividade, com certeza sabemos o nosso gargalo e como temos que fazer, mas novamente a pergunta que não quer calar, onde está a tal remuneração por este animal que vai para a Europa?

    Nem preciso responder não é mesmo?

    Então entramos no seguinte ponto, as empresas frigoríficas estão cada vez mais ricas, abrindo capital na bolsa, se potencializando, se organizando e o pior fechando o cerco e as portas para outras empresas do setor trabalharem, pois com esta potência toda, as 5 maiores irão mandar no preço da carne no mundo.

    Não concordo mais com o sistema de rastreabilidade do Brasil, Sisbovi – ERAS que seja, isso virou conversa para boi dormir. Remuneração? Pra que?

    No meu entendimento temos que saber com maioridade, ou seja, temos que ser peritos em Gestão de Empresas produtoras de carne e leite, temos que saber o nosso real custo e temos que ter no mínimo um mercado de preços “competitivos”, economizando no que dá para cortar os custos, sem deixar de investir nas tecnologias de produção, para aumentarmos a remuneração do capital investido, quer seja no giro e volume de um confinamento ou técnicas de produção mais intensivas, ou que seja por técnicas modernas de produção para o sistema extensivo.

    Não Esqueçamos que frigoríficos = empresa = NEGÓCIO = geradoras de riquezas = para 1 ou mais donos de frigoríficos, infelizmente não estamos embutidos nos lucros que as mesmas tem com a venda de animais excelentes e rastreados, não fazemos parte da fatia do bolo deles.

  13. Luciano Abrão Fagundes disse:

    A verdade é que até hoje o SISBOV não funciona 100%, existem ainda inúmeros problemas operacionais que emperram todo o processo, e os culpados nunca aparecem.

    Vamos ver o que será após essa fiscalização do Mapa, a qual deram um bonito nome de “força tarefa”, e a maioria dos fiscais estão aprendendo o que é SISBOV agora, mas antes disso dão as propriedades não conforme.

    O pecuarista está fazendo o papel dele, e o resto?

    Lamentável.

  14. Pablo Marshall disse:

    Caro Miguel,

    É uma realidade: o setor oficial tem se mostrado incapaz de executar eficaz e eficientemente diversos programas sanitários necessários à manutenção do acesso a importantes mercados.

    O que não devemos esquecer é que parte dessa situação se deve à incapacidade do nosso setor privado em se associar em torno dos seus interesses, e assim, trabalhar junto com o setor oficial no busca dos seus objetivos.

    Existem no país diversos exemplos de cooperação entre os setores privado e oficial na área de sanidade animal e inocuidade alimentar que estão dando certo.

    Mas em todos esses casos a contraparte privada encontra-se coesa em torno do objetivo do programa implementado.

    A coesão de todos os representantes de uma determinada cadeia produtiva em torno a um objetivo é a única forma de poder atingir algum objetivo que envolva a participação da nossa anacrônica burocracia.

    Abraço

  15. Luciano Guimaraes disse:

    Caro Miguel,

    Em uma sociedade em que todos querem ganhar o máximo (levar vantagem em tudo) e ninguém quer ter responsabilidade, onde o próprio presidente da república não sabe de nada; o que esperar do setor agropecuário? A política do cada um por si sempre prevalece.

    Os europeus estão no papel deles. Estão corretíssimos. Estão defendendo a cadeia produtiva e comercial deles. Eles compram, eles pagam e tem todo o direito de exigir. Quem fará isso por nós? Não é assim que os nossos frigoríficos fazem com os pecuaristas há anos? Pagam o que querem?

    Realmente somos desorganizados. Falta liderança de verdade. Agora, ou nos adequamos ou vamos trabalhar novos parceiros. Não basta sermos os maiores, temos que ser os melhores.

  16. Antonio Carlos Lirani disse:

    Caro Miguel,

    Você sempre na liderança das idéias e ações, infelizmente em um país de “surdos” e “cegos”. Infelizmente também, chego a conclusão de que eu estava certo, apesar da oposição de muitos, quando me entusiasmei pela implantação da “rastreabilidade” no Brasil e tentei dar minha colaboração.

    O SISBOV nasceu com falhas conceituais severas e todas as tentativas de “remendo” apenas complicaram mais a situação. Cansamos de advertir a todos: dos pecuaristas, passando pelas associações e culminando com o Governo. Todos pareciam não estar interessados.

    O pior, como ressalta muito bem, é a falta de “commitment” do lado brasileiro, uma característica dos “tupiniquins”. Você ressalta também a passividade dos elos da cadeia que ficam esperando ações do Governo. Vou repetir mais uma vez o que já disse e escrevi milhares de vezes (e espero que seja a última): Rastreabilidade é da responsabilidade da iniciativa privada e não do governo, pois é um assunto comercial. Ao governo cabe tratar dos assuntos de sanidade. Ambos devem trabalhar juntos, mas não se confundem!

    Pretendo continuar longe de tudo isto, porém não resisti em cumprimentá-lo.

    Parabéns e um grande abraço.

  17. Leoncio de Castro Oliveira disse:

    Caro Miguel

    Como pecuarista tenho grande dificuldade em relacionar o gado para enviar ao frigorifico. O manejo tem que ser feito com antecedencia e a leitura do brinco é muito trabalhosa.

    O gado precisa ser preso no brete e se debate muito. Após isso o gado precisa ficar preso, pois não se pode correr risco de alguma cabeça se evadir. Após essa coleta temos ainda que achar o DIA. Procurar um papel entre três mil, e formar o lote digamos, leva o resto do dia.

    Agora, se você não encontrar um único DIA no meio desses miles papeis, pode começar tudo de novo!

    Artigo do Rogerio Goulart “Rastreabilidade com Cara de Brasil” mostra bem esses fatos. Resumindo: o boi não colabora!

    Você tem toda razão, eles só querem criar cada vez mais dificuldades. A burocracia gosta muito disso. Só queria saber de quem que teremos de comprar as facilidades no caso.

  18. Guilherme Sangalli Dias disse:

    Miguel,

    Parabéns por tua percepção.

    Tive a oportunidade de acompanhar auditorias no Brasil onde todas comprovam como somos incapazes de, pelo menos, cumprir o que haviamos nos comprometido de fazer.

    Desde 2001, estamos num processo de implementação de rastreabilidade e 7 anos após ainda estamos discutindo se isso realmente é bom ou não para os pecuaristas brasileiros. De quem e a culpa?

  19. Anderson Carneiro Polles disse:

    Prezado Miguel.

    Considero lúdico seus argumentos. As regras são claras, é do Codex Alimentarius da FAO para cima.

    Eternamente commoditiecentes a sombra da UE? Não..!

    Outros mercados? Talvez!

    Cordialmente.

  20. renato akira shimmi disse:

    Estou estudando a implementação do SISBOV em minha propriedade a cinco anos, no entanto as regras, sempre envolvendo pequenos detalhes, nunca parecem estar definidas.

    Outros criadores, que implementaram o sistema, me recomendaram aguardar uma posição mais clara do governo, pois a burocracia e o custo ainda não se sustentavam.

  21. Hans Nagel disse:

    Parabéns amigo Miguel.

    As suas colocações são mais do que acertadas. Os demais artigos tem sido igualmente muito bem elaborados.

    Mesmo assim me permita colocar algums pontos vitais, que eu sinto na pele todos os dias, como produtor de alimentos que mora na propriedade, e vive da atividade.

    O produtor tem extrema averção a burocracia, sobre tudo, se parte dela é dispensavel. Eu tenho cada animal registrado no meu notebook, levo ele para o curral cada vez que se vacina ou pesa. Colocar mais algums dados não seria problemático. Mas para que, se o comprador final somente quer um pedaço de carne saborosa, e não “Gammelfleisch ” que se vende e descobre cada hora na Alemanha. Então imagine a situação na França, Inglaterra, Espanha e Italia.

    Eu desisti da rastreabilidade, porque de um lado ela é um engodo, do outro lado porque eu vou arcar com o custo desta? Se quem se aproveita de fato na exportação, são o Governo , os Frigoríficos (comprando mais frigoríficos com nosso dinheiro), os Bancos e os Burocratas?

    O produtor financia o frigorífico, arca com as consequências climáticas, uma aftosa política, o constante aumento de preços de insumos.

    O produtor não é parceiro, mas sim escravo do seguemento. Já se viu sentar Produtor, Frigorífico e Mapa numa mesa e elaborar um programa benéfico para todos? Há certeza que vamos exportar para Europa? O produtor tem algum beneficio, já que para lá somente se exporta as peças nobres?

    O produtor sendo bem pago para poder viver dignamente e investir na proriedade, todo mundo lucra.

    Pensem nisso.

    Cordialmente
    Hans Nagel

  22. EDUARDO PICCOLI MACHADO disse:

    Prezado Miguel,

    Parabéns pelo teu artigo.

    Tenho refletido a respeito do tema principalmente quanto ao trecho do artigo “Por que não vou aderir ao novo Sisbov” de autoria de Humberto de Freitas Tavares, que vale a pena transcrever.

    “Para quem não seguiu as discussões, faço aqui um extrato do relato de Fernando Cardoso, em 23/08/2004, no seu artigo Sisbov & Cia. O assunto é a conversa que ele teve com o ex-ministro da Agricultura e Pecuária:

    … Respondeu-me Pratini: – “Os europeus não exigiram o rastreamento; estavam, sim, preocupados com a sanidade da carne brasileira. A sugestão do rastreamento foi trazida a mim dentro do MAPA, como alternativa para garantir a sanidade mencionada. Na oportunidade procurei ouvir meus conselheiros de confiança, bem como algumas entidades, tendo uns e outros achado boa a idéia, a qual acabou sendo aprovada”.

    Com este relato firmo meu ponto de vista, que a rastreabiidade como está é frutos de cabeças de burocratas encastelados em Brasília. Quanto a incapacidade de fazer o que se comprometeu, não é do produtor rural, que recebe as decisões prontas, e sim das autoridades que ainda possuem a mania de resolverem tudo por decreto.

    Quanto ao ERAS, também acho que já era. É inexeqüivel porque afeta as relações comerciais entre produtores devido a sua facultatividade. Tu conheçes bem o Brasil e sabe das enormes diferenças regionais.

    No RS quem quiser se manter no ERAS, insistirá em fazer parte de um clube caro de poucos sócios e que muito pouco terá a oferecer.

    Abraços

  23. Geraldo Majela C. Garcia disse:

    Srs(as),

    É preciso ser simples e direto no trato do assunto rastreabilidade. Simplesmente, o que querem os europeus é impor mais uma “barreira sanitária” ao nosso rebanho. Ou talvez esteja faltando competência de quem está tratando do assunto.

    No nosso país, de dimensão continental, onde o comércio “intermediário” desde a desmama de bezerros ou bezerras até seu abate é muito dinâmico e pode passar por diversos proprietários, não se pode querer que o Sisbov funcione da maneira que está. Simplesmente é inviável para o criador ou para quem trabalha com recria.

    O rastreamento assim deveria ser:
    01) Cadastramento das fazendas que terminam bovinos para abate, seja a pasto ou confinamento;
    02) Essas propriedades, no momento da compra, seja o bovino de que idade for, originam a rastreabilidade, informando a procedência daquele animal. Servindo também se essa propriedade fizer o ciclo completo: cria, recria e engorda. Aí sim, todos saberão a origem daquele animal que está sendo abatido; se foi comprado em região de risco sanitário ou não.
    03)Essas propriedades, receberiam um ganho compensatório por esse trabalho.
    04)Essas propriedades deveriam estar localizadas em zonas livres com ou sem vacinacão, bem como seus fornecedores.

    Não pensem que vamos, pelo menos por hora ou por médio espaço de tempo, conseguir rastrear o rebanho nacional em toda sua dimensão comercial e produtiva. É inviável e colocaria a atividade em sério risco.

  24. Daniel Furquim disse:

    Grande Miguel, depois de tantos elogios, o meu não fara mais diferença. Você conseguiu expor a bagunça e a incompetência desse governo.

    Muito bem escrito, simples, sucinto, objetivo, direto e claro.

    Parabéns!

  25. sérgio souto disse:

    Sem dúvida, os burocratas de plantão, sem os devidos conhecimentos práticos, inventam regras que são incompatíveis com o adequado manejo.

    Vejamos o caso da Brucelose. O pecuarista tem consciência da necessidade de vacinação. Os burocratas e interesses classistas-veterinários estão impedindo a vacinação das fêmeas, tendo em vista que é impossível ter cem por cento de natalidade em um período determinado. Do jeito que está sempre ficarão algumas falhas de vacinação temos de 3 a 8 meses para efetivar a vacina. Exijam, as inspetorias, as notas de vacina, mas deixem na mão dos pecuaristas a efetivação da mesma. Temos a nossa rotina de trabalho, mas ficamos na dependência da boa vontade de profissionais que escolhem dia e hora ,que melhor lhes convier, para ir a propriedade. Não vai funcionar. Há outras medidas mais efetivas e menos burocráticas para controlar essa vacinação.

  26. Jean-Yves Carfantan disse:

    Parabens Miguel. Você está certo. O Brasil tem que se adequar com o novo jogo mundial até por ser um dos grandes jogadores.

    Nada adianta argumentar que a UE tomou uma postura protecionista. Nunca uma medida de fechamento de mercado foi anunciada com tanta antecedência (até no próprio site BeefPoint).

    Agora fica a pergunta: o que fazer? Como reagir? O que deve fazer a cadeia?

    Acho que o primeiro passo que deve ser dado é divulgar junto aos pecuaristas as novas regras que funcionam nos mercados mais exigentes do planeta, onde se consegue agregar valor aos produtos.

  27. Edson Luiz Peres disse:

    Secretaria Especial de Saude Animal, sem vinculos com nenhum Ministério. Dinâmica e orientativa, sem gigantismos de Ministério e preocupações com “Agricultura”, seu foco será “animais”, suas doençase mercados.

    É desta que precisamos!

  28. Rodrigo Martins Giansante Ribeiro disse:

    Quando eu, produtor e médico veterinário, ver o retorno efetivamente de todo o trabalho que dá para participar do SISBOV, eu irei aderir novamente.

    Mas por enquanto não!
    Mudem isso. E rápido!

    Abraço.

  29. Simone Maria Montanha de Andrade disse:

    Obrigada pelas informações tão valiosas em um momento como esse de verdadeiro pânico, em que vivem os pecuaristas do Brasil, que, em sua maioria sabem produzir muito bem a carne mas de nada entendem, como eu mesma, de mercado exterior, organização e solidariedade entre os elos da cadeia produtiva.

    O capital é insuficiente para arcar com tantas despesas que o pequeno e médio fazendeiro, com os preços do boi gordo aviltados há longos seis anos, vem sofrendo. E aí Miguel, vamos esperar o quê?

    A quebradeira que já estava sendo anunciada há tempo e nós insistíamos por ser um negócio que há cem anos vimos nossa família realizar com gosto e sempre se adequando e se informando sobre a maneira mais sadia e honesta de trabalhar no ramo?

    Temos consciência que em nossa região procuramos fazer o melhor dentro de nossas possibilidades, tanto assim, que mesmo com todas as dificuldades temos aumentado nosso rebanho, mas, e agora? Se o preço despencar mais, para onde vai o nosso trabalho de tantos anos e tantas gerações?

    Desculpe pelo desabafo. Sei que deveria ser menos pessimista.

  30. José Américo G. Dornelles disse:

    Caro Miguel,

    A sua exposição está perfeita, oportuna e elucidativa; mesmo para aqueles com alguma vivência do problema.

    A questão comercial deve ser concebida como um todo. Governo, entidades de classe e pecuaristas. Isto é: a cadeia tem que estar organizada. Todos puxando para o mesmo lado.

    O que vemos hoje são disputas entre pecuaristas e frigoríficos. Até certo ponto justificáveis, uma vez que, na maioria dos casos, o dono da mercadoria não é quem coloca o preço e muito menos sabe o que seu boi rende ou vai render.

    Acima de tudo temos que ver o que o freguês quer. Se quer boi rastreado – e para tanto temos que fazer o dever de casa, que não está sendo feito – vamos nos organizar e garantir oferta permanente, em quantidade e qualidade, pois as condições para produzir já temos, e abocanhar, de uma vez por todas, a melhor fatia do mercado de carne bovina; a UE.

    Só que para isso, governo, produtores, indústria devem fazer mea culpa, se unir e começar tudo de novo. Com planejamento, execução e análise contínua.

  31. Leonardo Campos disse:

    Concordo com o Roberto Trigo, em comentário exposto acima.

    Sempre achei o rastreamento oficial (SISBOV) meio ilusório em vista do que se vê numa sala de desossa, onde cortes de carcaças diversas se misturam e o feed-back do rastreamento só da conta de chegar ao lote de animais, quase nunca à carcaça individual.

    Isto a parte, considerando ainda que boa parte dos frigoríficos exportadores contam com sistemas internos de rastreamento para controle (desvinculados do oficial), creio que cada vez mais o rastreamento deveria se distanciar do vínculo oficial, da coordenação pelos órgaos do Estado, e passar a ser um modelo totalmente privado, respeitando particularidades de cada frigorifico exportador e seus sistemas de tracking do corte à carcaça.

    Mercados que exigissem rastreamento total, com vinculo total do corte à carcaça individual, pagariam o preço para quem oferecesse a tal possibilidade. Mercados que não exigissem rastreamento total, pagariam preços mais amenos.

    Auditorias seriam necessárias para isto, talvez associações para melhor coordenação do processo, mas desvinculadas do elo estatal. Quem sabe no decorrer disto não criaríamos uma AusMeat brasileira?!

    A agropecuária é um setor estratégico para o país e, como todo setor estratégico, deveria ficar bem longe do controle, ingerências e trapalhadas do Estado e dos politicos que o aparelham.

  32. Homilton Narcizo da silva disse:

    O pecuarista não suporta mais, indecisões, recomeços, e nem indiferença por parte dos governantes, que não dão ainda muita atenção ao agronegócio. Parece que ainda não caiu a fixa deste governo, que só ve as coisas através de acontecimentos ou da imprensa, e também dos frigorificos que como ficou provado, juntam-se para matar a galinha dos ovos de ouro, esqucendo que sem produtor não existe abatedouro.

  33. Ruy Padula disse:

    Miguel, muito boa esta sua matéria, tanto é que a participação dos leitores em se manisfestarem é grande.

    Eu tenho a sensação de que após as visitas dos técnicos da UE os nossos representantes engavetavam as exigências e com esta atitude removiam dos ombros o peso da responsabilidade de estarmos em discordância com as exigências.

    Que fique bem claro, tivemos o maior tempo do mundo para equacionar este programa, e sabe o que aconteceu? Fomos deixando para a última hora e nossos representantes usam os canais de comunicação dizendo que temos que buscar novos mercados.

    Não podemos nos acovardar, este mercado (UE) é extremamente importante para nós, usamos ele até como marketing para demais negociçãoes.

    Jamais podemos aceitar que o ERAs , já era.

  34. sérgio souto disse:

    O que nasce defeituoso é difícil de corrigir e uma vez que surge a falta de credibilidade haja tempo para as devidas crenças futuras.

    Deram a burocratas, em regime de urgência, a tal de rastreabilidade e resultou no que ora vemos. Se a adesão não for voluntária e baseada no vislumbre de interesses e satisfações pessoais é impossível de concretizá-la. Imperou, em primeira instância, o interesse das “rastreadoras”na fortuna em dinheiro que poderiam arrecadar (o rebanho nacional é considerável)e aí surgiu o primeiro pecado.

    Os frigoríficos não souberam considerar e vislumbrar o futuro, não gratificaram com bonus os animais rastreados, pois dentro do pagamento por classificação e rendimento de carcaça consideraram os pecuaristas como verdadeiros palhaços. E aí esta o segundo pecado.

    Uma vez no frigorifíco e “descascados” a última palavra é deles. Hoje é fácil de fazer uma análise do passado, álias, ele serve para isso, isto é, é um laboratório para o futuro. O que fazer todos sabemos, só que a omissão das entidades superiores e interesses particulares maiores, com ingerências políticas, impedem que as coisas ocorram como deveriam.

  35. wilson tarciso giembinsky disse:

    A UE é o nosso melhor mercado? Nosso de quem?

    Não pagam nada a mais pelo meu boi!

    A UE é o melhor mercado para o frigorífico, porque paga melhor para eles, não para o produtor.

    A UE é o melhor mercado para a rastreadora, para o auditor, porque lhes dá oportunidade de ganhar alguns reais.

    Não digo para a fábrica de brinco porque sempre briquei e continuo brincando meu gado. Ele é todo controlado, mas não vou rastrear mais.

    Os 27% da carne exportada que a UE nos compra é só 2,8% dos abates totais catalogados no Brasil, sem contar os não catalogados. Estão fazendo tempestade em copo d´água.

    Não compensa para o produtor sustentar e aguentar “auditores, consultores, papeladas”, por R$5,00/@ a mais. Se você faz tudo como deve, isto é prejuizo.

    A qualidade da carne não está no rastreamento, está no meu trabalho, na minha consciência e que coloco no meu prato.

  36. Sônia de Pádua Cardoso Tardelli disse:

    Leoncio de Castro Oliveira, Hans Nagel de Navirai e Felipe Cordeiro do Rio Branco. vocês deveriam se unir para dar palestras para nós pecuaristas, para fazermos uma frente contra a desorganização que o nosso SISBOV.

    Sem esquecermos também, que depois do duro trabalho de rastreabilidade, quem sai ganhando?

    Somente os frigorificos. E nós?

    Estamos tralhando para eles. Fazemos o difícil, e o que lucramos?

  37. Vigilato da Silva Fernandes disse:

    É lamentável, que um negócio do tamanho da nossa pecuária ainda não tenha encontrado uma solução viável para o produtor e que satisfaça o cliente (União Européia) no que diz respeito a rastreabilidade.

    Algumas lições podemos tirar desse impasse.

    Não creio que se trata apenas de uma questão governamental apesar do governo ter muita responsabilidade nisso tudo, mas acredito que nós pecuaristas precisamos evoluir assumindo uma maior participação nessa questão, além do que precisamos fortalecer as instituições que nos representam, como também cobrar delas posicionamentos e soluções factíveis para esse tipo de problema.

    Será que é tão difícil um sistema de rastreabilidade que atenda os europeus e seja viável e interessante para o produtor? Vai ai um puxão de orelha para nós todos, precisamos parar com essa cultura de “deixar o outro resolver”, pois com uma pecuária do tamanho da nossa não podemos ser comodistas.

    A situação que envolve o relacionamento dos frigorificos e nós produtores de certa forma também e reflexo de nossa desorganização, pois se temos o produto na mão, porque até hoje não conseguimos nos organizar para peitar e impor nossos preços, exigir uma remuneração justa pelo nosso trabalho?

    Acredito numa pecuária forte e no produtor valorizado, quando a classe conseguir se organizar, se fizer representar e tomar decisões certas e fortes.

    Quero apenas citar algumas mudanças que ocorreram no comércio do leite a partir do momento que a implantação dos tanques de expansão permitiu a criação de associações de produtores e a partir daí o volume de leite negociado por cada associação passou a ser expressivo, gerando força ao produtor, tomadas de decisão em bloco com a consequente valorização do produto.

    Talvez seja por aí, espero que tudo isso se resolva logo, pois e lamentável que justamente no momento que o mercado da carne nos favorece tenhamos que enfrentar embargos ligados a questões burocráticas ou sanitárias que sejam.

    Um abraço a todos.

  38. marcio de castro porto disse:

    Os frigorificos foram muito eficientes em ganhar espaço no mercado internacional e o mesmo não aconteceu internamente, seja na indústria frigorífica , seja no controle sanitário por parte do governo.

    Se os certificados sanitários emitidos pelo ministério da agricultura não correspondiam a verdade, os nomes dos responsáveis tem que ser conhecidos, para evitar que isso volte a acontecer. Temos que lutar contra o corporatismo estatal que parece não se preocupar com suas responsabilidades.

    Só nós pecuaristas temos que fazer a nossa parte E o governo? Os frigorificos?

    Sendo assim é possível que muitos frigorificos tenham dificuldades financeiras por não poderem cumprir seus contratos internacionais e isso não é bom para ninguém.

  39. Rodrigo Belintani Swain disse:

    Acho que os europeus ainda acham que o Brasil é colonia, não podem vir aqui como se fossem superiores, se querem impor barreiras, dificultar as coisas vão sofrer as conseguências, vamos deixar explodir o preço da carne na europa e esperar eles nos procurarem.

    Quanto a rastreabilidade; a maioria das fazendas tem um controle intenso de seus animais e de cada etapa da produção, o boi brasileiro tem qualidade, não é facil aceitar um custo maior para o pecuarista, sabendo o valor de venda da carne na europa, os frigoríficos devem aumentar o valor da arroba rastreada adequadamente; e hoje no Brasil temos animais não rastreados superiores aos rastreados.

  40. Francisco Pereira Neto disse:

    O artigo é muito bem feito, esclarecedor, ponderado e sinalizando de maneira bem elegante e educada as nossas deficiências – incluindo inserções de comentários de personalidades especialistas na produção de carne bovina.

    Eu entendo que, como já opinei outras vezes aqui neste espaço, o MAPA não tem condições de implementar o Sisbov sozinho. Ele é a instância superior que elabora e baixa as normas para serem cumpridas pelos estados – órgãos executores – como está claro no SUASA.

    Nós vivemos numa federação e as políticas para o país são de responsabilidade do governo federal e para atender os interesses dos nossos clientes (UE), nós temos que nos adequar de acordo com suas exigências. Quem exporta é o Brasil, não é S.Paulo, Minas, RS, etc, no entanto os estados se eximem das responsabilidades que são suas.

    Essa confusão toda e as falhas existentes no programa é porque o MAPA deixa-se levar pela inoperância dos estados, principalmente S. Paulo. Porque com a febre aftosa a situação é diferente? Porque cada estado cumpre com suas obrigações e competências previstas em legislação. Isso é válido para todos os programas sanitários.

    Os estados tem que dar melhor atenção para esse setor, investindo em recursos humanos, equipamentos, se estruturando da melhor forma possível para poder atender as exigências internacionais. É incrível a pasmaceira que tomou conta de S. Paulo na área de defesa agropecuária. Parece que as receitas das exportações de carne não têm a menor importância para o estado? Como resolver isso? Cada um cumprir com suas obrigações.

    O MAPA repassa recursos para o estados desenvolverem suas atividades, mas não cobra sua eficiência. É nesse ponto que o MAPA falha. Cobre os resultados da contrapartida dos recursos repassados. Não teve resultados favoráveis? Corte o repasse de verbas. Aí vamos ver se as coisa não funcionam.

  41. João Francisco S. Vaz disse:

    Prezados Senhores,

    Na condição de grande produtor e exportador de carne bovina, suina e de aves, o Brasil torna-se a grande ameaça aos seus concorrentes, neste segmento.

    Ao mesmo tempo em que criticamos o protecionismo de países como a Irlanda, que por interesses diretos pressiona a UE a suspender a compra de carne brasileira, temos que tratar rapidamente de corrigir nossas deficiências e recuperar credibilidade suficiente para ocupar nossa posição de fornecedor de carne para a Comunidade Europeia.

    Todos falhamos, produtores, frigorificos, MAPA(sisbov), enfim, todos os elos da cadeia.

    Na verdade carecemos de uma melhor coordenação para executar as tarefas exigidas na questão da rastreabilidade, e para completar o quadro, grande parte dos produtores de carne do país, não acredita no atual sistema de rastreabilidade dos rebanhos. Faz apenas por obrigação.

    O MAPA, por sua vez, devido a deficiências estruturais e digamos um pouco de irresponsabilidade, delegou às empresas certificadoras a tarefa de controlar e implementar a rastreabilidade junto aos frigorificos e produtores, sem uma fiscalização eficiente.

    Os frigorificos aproveitaram algumas brechas e venderam carne não rastreada como se fosse, com a anuência ou negligência das autoridades afins. Mais uma vez, quem fica com a imagem comprometida? O Brasil.

    Estamos dando um mau exemplo e pagaremos um preço bastante alto por isso.

    Vamos todos assumir nossas responsabilidades e agir rapidamente para reverter esse quadro.

    Abraço.

  42. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Caro Miguel, parabéns pela forma ponderada com que trata um tema tão polemico e num momento tão delicado.

    Aproveito a ocasião apenas para lembrar algumas particularidades brasileiras negociadas anteriormente com a UE, que não se aplicam por exemplo a Argentina ou Uruguai, como o estabelecimento dos circuitos pecuários dentro do território nacional, definindo zonas livres de aftosa ou não, que permitiu ao Brasil seguir exportanto mesmo após a ocorência de surtos em determindas regiões. Isto porém implicou numa contrapartida de garantia de rígido controle individual de movimentação de animais entre estas zonas.

    Foi o governo brasileiro que propos isto. Caso contrário o Brasil teria deixado de exportar carne, completamente, nos casos de surtos de MS, por exemplo. Em suma, de fato temos um sistema muito complexo, mas também porque tratamos com uma realidade muito complexa. Para o bem e para o mal.

    Também acredito que haja necessidade de revisão de certos conflitos insanaveis de interesse do atual modelo para que possamos simplificá-lo. A responsabilidade pela coleta dos dados em qualquer sistema produtivo sempre será do produtor. Não há outra forma de operação possível.

    O produtor é o gerente da propriedade. Ele pode contar com o auxilio de profissionais, empresas e ferramentas de software e hardaware para realização desta tarefa, mas não pode transferir esta responsabilidade. Ele é responsável pela veracidade, acurácia e precisão dos dados coletados. Como a transferência destes dados será feita para a BND é outra questão a ser discutida.

    Hoje temos um sistema em funcionamento administrado pelas certificadoras, só que cumulando com as funções de certificação. Ao meu ver quem deveria validar/certificar o processo é a etapa seguinte. Uma terceira parte. E a acretidação destas empresas mais uma etapa do processo.

    E por último, na verdade é o que vem em primeiro, está o órgão normalizador. É este órgo que deve ouvir toda a cadeia, incluso o cliente, para procurar harmonizar os interesses e realizar os ajustes necessarios na norma. Ao meu ver estes ajustes e o tempo trariam naturalmente as melhorias necessárias ao sistema para recuperarmos a credibilidade necessária.

    Um abraço.

  43. Marcio Sena Pinto disse:

    Olá Miguel,
    Mais uma vez você faz sugestões e argumenta de forma clara e bem embasada sobre o assunto.
    Conforme está citado no artigo, se os nossos vizinhos exportadores de carve bovina (Argentina, Uruguai e talvez o próprio Paraguai) não estão tendo os enormes transtornos nossos com a rastreabilidade, surgem as perguntas:
    1- como é a rastreabilidade deles?
    2- se eles também encontram dificuldades, quais são elas?
    3- e na Austrália, país/ continente de primeiro mundo, como está sendo feita a rastreabilidade? ela funciona a contento?
    4- os EUA estão praticamente fora do mercado externo e estão adotando providencias para fazer que tipo de rastreabilidade, para atender o mercado interno e para atender os mercados que já compram carne bovina americana?
    um forte abraço,
    Márcio Sena