Na semana passada, fizemos algumas considerações gerais sobre as novas tendências mundiais de produção agrícola, terminando com a pergunta: como a agricultura brasileira, e em especial a bovinocultura de corte, poderá tirar proveito dessa nova tendência?
O enorme potencial da agricultura brasileira é amplamente reconhecido em todo o mundo. Por razões diversas, o grau de exploração desse potencial é ainda muito pequeno. Não sem razão, o Brasil merece de fato um lugar de destaque como um dos principais produtores e fornecedores de alimentos para a população mundial em futuro não muito distante. Embora sem poder deixar totalmente de lado o que estamos chamando de agricultura moderna, com altos níveis de produtividade, necessária para atender as necessidades de populações crescentes no Brasil e no Mundo, essa nova tendência da produção agrícola mundial nos parece vir de encontro às imensas possibilidades da agricultura brasileira. Provavelmente, somos o único país do mundo que tem clima e extensão territorial suficiente para produzir grandes quantidades de produtos vegetais e animais, usando sistemas produtivos menos intensivos e menos agressivos ao meio ambiente, baseados nos princípios da agricultura orgânica. Produtos obtidos nessas condições, normalmente mais caros, começam a ser demandados e a ter nichos de mercado bem definidos. Não podemos e não devemos deixar de aproveitar, no bom sentido, essa oportunidade.
Para aproveitarmos essa oportunidade, dois aspectos parecem muito importantes e precisam de atenção especial.
O primeiro diz respeito ao radicalismo estéril que pode ocorrer entre os adeptos de uma agricultura moderna, cujo objetivo é o de aumentar a rentabilidade através de uma procura contínua de recordes de produtividade, e os adeptos da agricultura orgânica, cujo objetivo, como não poderia deixar de ser, é o de também aumentar a rentabilidade, mas explorando sistemas produtivos menos intensivos, com restrição ao uso sem limites de insumos não naturais, em especial daqueles de maior poder residual. Embora não seja possível avaliar que proporção a agricultura orgânica alcançará em relação à agricultura moderna, o fato é que ela está aumentando e, principalmente, chamando a atenção dos consumidores de todo o mundo para sistemas de produção, que nas suas concepções, geram produtos mais saudáveis do que os produzidos pela agricultura moderna. Como alternativa ao radicalismo, temos que incentivar troca de informações entre os adeptos dessas duas correntes, para que surjam outras alternativas em termos de sistemas de produção aproveitando os pontos positivos de cada uma delas. Não temos dúvidas de que haverá espaço para todos aqueles que forem eficientes em produzir alimentos saudáveis desejados pelos consumidores.
O segundo aspecto é que, ao contrário do que ocorre com a agricultura moderna, praticamente não existe no Brasil pesquisa básica e aplicada dirigida para sistemas de produção ditos mais naturais, como os baseados nos conceitos e princípios da agricultura orgânica. Existem pioneiros, tanto produtores como técnicos de campo, que têm se dedicado à agricultura orgânica, aplicando e divulgando técnicas na maioria das vezes empíricas. Embora, sem descuidar de investimentos no desenvolvimento da agricultura moderna, existe necessidade urgente do governo investir também em pesquisa e desenvolvimento na agricultura orgânica, diretamente através de seus órgãos de pesquisa, e indiretamente, financiando projetos em instituições privadas. Pesquisas, tanto básicas como aplicadas, são absolutamente necessárias para avaliação das técnicas em uso e para o desenvolvimento de novas.
Temos que estar sempre alertas e preparados para aproveitarmos com seriedade as oportunidades que aparecem.