Por Miguel da Rocha Cavalcanti1
Muito tem se falado que o Brasil tem potencial para se tornar o maior exportador de carne bovina do mundo. Estudos e análises econômicas feitas por brasileiros, americanos e europeus demonstram essa realidade.
Realmente temos todas as condições para aumentar bastante nossa produção e continuar com um dos mais competitivos custos do planeta. Talvez outros países do Mercosul possam ter o custo em dólares por tonelada de carne produzida similar ou um pouco mais baixo que o brasileiro. Mas estão longe de poder aumentar a capacidade produtiva em níveis significativos como o Brasil.
Todos sabemos que nossa capacidade produtiva é enorme. Mas a grande questão hoje é: Será que conseguiremos vender (e vender bem) toda essa produção no exterior?
O mercado internacional com certeza é mais complicado que o interno, pois é bem mais difícil de se evitar e administrar crises políticas econômicas e sanitárias.
Mas podemos fazer uma revisão do que vem acontecendo com os fatores que afetam direta e indiretamente a cadeia da carne brasileira.
Aftosa
O Brasil vem tendo uma postura muito firme nessa questão. Temos alcançado altos índices de vacinação e os principais estados produtores de gado de corte tem conseguido executar programas de vacinação muito eficientes. Hoje mais de 70% do rebanho nacional está em regiões consideradas livres de febre aftosa.
O recente e não resolvido caso de suspeita de aftosa no Paraguai também mostra que o Brasil está no caminho certo. As ações foram rápidas, enérgicas e eficientes.
Vaca louca
O Brasil não tem vaca louca. As visitas e estudos internacionais comprovam que o risco não é zero, mas é bem próximo disso. No entanto isso não é tudo. O relatório apresentado por técnicos da Comunidade Européia este ano, após visita ao Brasil, conclui que não estamos prontos para lidar com a (improvável) hipótese de surgimento de casos.
Outro ponto importante é que outros países exploram melhor o fato de não terem a doença da “vaca louca”. A Irlanda que já teve inúmeros casos de EEB afirma ter hoje a carne mais segura do mundo, garantida pelos rigorosos controles implantados. A Nova Zelândia reforça sempre que pode ser livre da enfermidade e aumentou recentemente exigências de controle interno, com o objetivo de aumentar sua segurança e poder utilizar o fato como mais uma vantagem comparativa. Não basta não ter, é preciso mostrar, provar e divulgar que não tem.
Rastreabilidade
A tão falada rastreabilidade (identificação e certificação individual) ainda não pegou no Brasil. Seja por um ainda baixo número de adesões ou, mais problemático ainda, o curto espaço de tempo entre a auditoria e o abate. Certificar momentos antes do embarque para o frigorífico não aumenta a segurança de nossa carne, representando um custo extra.
A rastreabilidade é realmente necessária, mas para se tornar um argumento concreto e plausível de que nossa carne é tão ou mais segura do que a de qualquer competidor mundial, ainda é preciso melhorar.
A questão de se receber um premium pelos animais rastreados está longe de se resolver. O problema é bem mais complicado, pois como ainda não se conseguiu equacionar o problema de variação de rendimento de carcaça nos frigoríficos (a famosa quebra de peso), é ingênuo se pensar que teremos uma comercialização mais tranquila e transparente.
Marketing
Essa é a grande questão que a cadeia da carne tem que resolver de forma vitoriosa para alcançar devido lugar no mercado internacional. Temos de parar de pensar como criadores de gado e começar a pensar como produtores de alimento. A carne bovina, apesar de muito combatida, é dos alimentos mais nobres que podemos produzir. Altíssimo valor nutricional, alimento essencial para uma dieta equilibrada.
O Brasil historicamente tem o pior marketing entre os grandes produtores de carne do planeta. Estamos bem atrás, mas melhorando. Agora em outubro teremos uma delegação brasileira viajando aos EUA para o congresso do AMI, o famoso American Meat Institute. Essa delegação irá fazer várias apresentações sobre a carne brasileira a especialistas e grandes players da cadeia da carne americana.
Durante os dias 20 a 24 de Outubro de 2002 estará acontecendo em Paris a feira SIAL 2002, ou Salon International de L´Alimentation. SIAL é a principal feira mundial de alimentos, ocorrendo a cada dois anos. Este ano os pavilhões de SIAL estarão divididos em 17 setores, sendo um exclusivo de carne bovina, contando com um total de 283 expositores de inúmeros países. Os principais agentes do mercado internacional da carne estarão presentes.
O BeefPoint estará presente nesse evento com o objetivo de estudar e comparar as ações do Brasil com nossos principais competidores, como Austrália, Argentina, Uruguai e Estados Unidos.
Para alcançar a meta (ou desafio) lançada pelo ministro Pratini de Moraes de nos tornarmos os maiores exportadores de carne bovina do mundo em 2005, temos que trabalhar muito para mostrar ao mundo todas as vantagens da carne brasileira: segura, saudável, saborosa e muito barata.
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1Miguel da Rocha Cavalcanti é Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP, pecuarista e coordenador do BeefPoint.
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Obs.: Os dados só serão divulgados com autorização do proprietário.
0 Comments
Maravilhoso!
O governo não quer exportar? Antes de qualquer coisa as pessoas influentes que trabalham nas areas exportadoras precisam ler este artigo!
Parabéns Miguel Cavalcanti e parabéns BeefPoint!