Por Nelson Pineda1
Afirmei recentemente, que não seria fácil substituir o Brasil no mercado mundial em virtude do volume de carne que o Brasil exporta, de seu preço no exterior e da possibilidade de que outros estados da federação substituíssem os estados desabilitados. Afirmei também que outros cenários se abririam no ano 2006 para fortalecer o aumento do preço da arroba paga ao produtor. Tudo aconteceu, mas o preço da arroba caiu ainda mais.
O aparecimento da vaca louca na década passada, o decréscimo do rebanho americano, o alto custo de produção de carne bovina na Europa, a seca Australiana e o foco de aftosa na Argentina no ano 2000, criaram o ambiente favorável de oportunidades à pecuária brasileira que teve a competência de aproveitá-las e alcançar em 2003 a liderança mundial do mercado exportador de carne bovina. Hoje o Brasil responde por 30% deste mercado, com um faturamento de US$ 3,14 bilhões com somente 21% da sua produção.
Esperávamos o pior, como aconteceu com os Estados Unidos após a confirmação de um único caso de vaca louca no final de 2004, com o fechamento dos seus dois grandes mercados a Austrália e o Japão.
Após o aparecimento dos focos de febre aftosa no Brasil, graças à pulverização dos clientes da carne brasileira, mesmo com 56 países penalizando o Brasil com algum tipo de restrição, sobre tudo nos estados de PR, MS e SP, o Brasil continua na liderança mundial. Os grandes exportadores, com plantas industriais em vários outros estados habilitados, continuaram exportando, com a vantagem que o preço da carne brasileira no exterior aumentou de preço. Desta forma, a suposta retração das exportações não teve grande impacto para a indústria exportadora, mas criou o cenário ideal para baixar ainda mais o preço da arroba paga ao produtor.
O Gráfico 1 mostra a relação entre a arroba paga ao produtor no Estado de São Paulo e o que apuram os frigoríficos que atuam nos mercados externo e interno com a venda do equivalente físico que corresponde ao traseiro, dianteiro e ponta de agulha sem considerar o couro e as vísceras.
Gráfico 1
Observa-se que no mês de setembro de 2005, no momento do aumento do preço da arroba, as curvas encontram-se provocando uma situação desfavorável aos frigoríficos exportadores, que se aproveitaram da situação para pressionar o preço ao produtor e em seguida vender mais caro no exterior.
O Gráfico 2 mostra o novo paradoxo. No momento da maior crise que o pecuarista brasileiro viveu nos últimos cinqüenta anos, o Brasil se projeta como maior exportador de carne bovina em 2006, praticando os menores preços pagos ao produtor mundialmente.
Gráfico 2
O mês de janeiro de 2006 foi o janeiro dourado dos exportadores brasileiros com um faturamento de US$ 180,7 milhões e um envio de 105,2 toneladas de equivalente de carcaça de carne in natura, que superou o mês de janeiro de 2005 em 28,5% em faturamento e 23,4% em volume exportado. Ao contrário do que se imaginava a crise não os atingiu.
Mas, quem são eles? Dezoito frigoríficos respondem por 98% das exportações e os cinco maiores juntos controlam 65% deste mercado e apenas dois detêm 40% da participação. As conseqüências da concentração do setor são óbvias. Além disso, os frigoríficos exportadores gozam de desoneração fiscal sobre PIS e CONFINS, o que permite abaixar os custos de produção no mercado interno, provocando distorções neste mercado e deixando os frigoríficos não exportadores na insolvência e sem possibilidades de melhorar o preço da arroba paga ao produtor.
Medidas urgentes precisam ser tomadas, antes que a pecuária brasileira sofra prejuízos incalculáveis no ganho de produtividade alcançado nos anos anteriores. As políticas públicas devem corrigir estas distorções fiscais que favorecem alguns poucos, incluindo as carnes na cesta básica, desonerando os insumos e facilitando a entrada de grupos globais no mercado brasileiro da carne bovina que possam criar o equilíbrio justo entre competição e concorrência.
A concentração de poder dos frigoríficos exportadores está colocando em risco um segmento estratégico para o Brasil.
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1 Nelson Pineda, diretor técnico cientifico da ABCZ
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Sou um simples consultor do setor de pecuária na região de Alta Floresta/MT, onde existe um rebanho de mais de três milhões de cabeças de bovino.
Em uma das fazendas que presto assessoria existe uma estrada de 12 Km que está em péssimas condições que, não é consertada porque os fazendeiros não conseguem se unir para arrumá-la e a prefeitura do município, que é a responsável, não dá manutenção na estrada.
Esta é a situação da pecuária, se 3 ou 4 não se unem para consertar 12 Km de estrada e o poder público não está nem aí, imaginem unir não sei quantos pecuaristas para tomarem alguma decisão inteligente.
Da pena de ver a situação da pecuária no norte de Mato Grosso. Pastos degradados, falta de manutenção das fazendas, mão de obra capacitada não tem valor, investimento em genética, adubos de pastagens da trabalho para ver, mobilização de entidades responsáveis pelo setor, só se for por milagre.
Mas acredito que vai melhorar quando quebrar os pecuaristas que existem e entrar outros no lugar, com dinheiro ganho de outros setores da economia, porque o gado, terra etc, vai estar sempre aí, só troca de mão.
Caros colegas,
Achei muito interessante os comentários sobre a atual conjuntura da pecuária brasileira, com relação as estradas vi uma situação semelhante a do colega Haroldo de Alta Floresta-MT.
Em Santa Vitóira-MG existe a famosa estrada nomeada de São Paulo-Cuiabá, que no mapa é asfaltada, mas na verdade é de chão, e houve uma época que não havia condições alguma de trânnsito e o resultado foi a união dos produtores para concertarem com recursos próprios.
Com relação ao domínio dos frigoríficos, venho percebendo isso com o passar dos anos e fiquei mais surpreso ainda com os dados do Nelson Pineda. É uma situação um tanto quanto difícil de se reverter se não houver medidas drásticas.
Acredito que 2006 e 2007 serão anos de uma verdadeira “peneirada” na classe de produtores, onde só aquele profissionais terão condições de sobreviverem no mercado, mas mesmo assim acho que se não houver ação governamental se torna mais complicado ainda.
Se nosso governante federal desse uma ajudinha, esse paradoxo existiria.
Lógico que os produtores precisam um pouquinho mais de união e organização, pois essas duas qualidades não são muito vistas, (e o pior que é do rico ao pobre) pelo menos onde estou localizado (região do Triângulo Mineiro e Sul de Goiás), mas que a classe está como se diziam “os antigos” está “jogada para as baratas” isso é real.
Luciano Abrão Fagundes
Médico Veterinário
Ciprovet Consultoria