Associação Brasileira de Hereford e Braford elege diretoria e estabelece metas para o próximo biênio
20 de outubro de 2003
Determinando o número de receptoras em programas de transferência de embriões
22 de outubro de 2003

O desafio de ser o maior do mundo

O Brasil alcançou a posição de maior exportador de carne bovina do mundo em 2003 e isto tem sido muito comemorado por todos os elos da cadeia produtiva da carne bovina brasileira. Realmente este é um feito que merece ser comemorado, por razões óbvias. No entanto, o desafio é grande e busco neste artigo fazer algumas sugestões de posições que o Brasil precisa tomar para ter reais benefícios por exportar o maior volume de carne bovina do mundo.

Há alguns anos o Brasil exportava muito pouco e nada incomodava os principais fornecedores de carne do mundo, como Austrália, União Européia, EUA, etc. Entre 1995 e 1997, por exemplo o Brasil exportou em torno de 280 mil toneladas de equivalente carcaça ao ano, sendo em sua maioria carne cozida enlatada (corned beef). A expectativa hoje é de mais de 1,3 milhão de toneladas, quase 5 vezes mais do que nesses anos. Num passado muito próximo o Brasil, apesar de ter enorme rebanho e grande produção, não tinha nenhuma importância no comércio global de carne.

Hoje a situação está bastante diferente. O Brasil tem grande influência no mercado internacional. A presença do país em diversos mercados, sempre agressiva em preços, tem incomodado e posto em alerta vários países fornecedores.

Não é de se estranhar que logo logo se iniciem movimentos que tentem, de diversas maneiras, barrar/diminuir/dificultar o acesso brasileiro ao mercado internacional.

Recentemente uma associação inglesa de produtores tentou um boicote contra a carne oriunda do Brasil em supermercados no Reino Unido. O argumento: O Brasil produz carne em áreas de floresta amazônica, sendo necessária a derrubada de matas, que deveriam ser preservadas, para a produção de carne. A argumentação é muito fraca e facilmente defendida, mas o que ocorreu? Não houve nenhum tipo de resposta de autoridades brasileiras, de associações brasileiras, de empresas brasileiras. A afirmação da associação inglesa é falsa, mas uma mentira contada várias vezes pode se transformar em verdade.

Já que somos os maiores exportadores de carne e desejamos nos manter neste posto, com expansão em volume de carne exportada e em preços por tonelada é preciso ter uma postura firme e pró-ativa frente a todo tipo de ação que possa vir a prejudicar a imagem do Brasil no exterior. Esse trabalho é provavelmente mais importante que uma campanha de divulgação da carne brasileira, através de anúncios no exterior.

Vejamos o exemplo da Austrália, que tem um excelente trabalho de relações públicas e lobby, que entra em ação sempre que é necessário defender os interesses da indústria da carne australiana ou mostrar o opinião do setor sobre diversos temas relacionados. Quando do surgimento de casos de EEB (vaca louca) no Japão, a Austrália através do Meat and Livestock Australia agiu rapidamente informando consumidores e autoridades japonesas sobre a segurança da carne australiana. A Austrália vem agindo assim em diversos pontos polêmicos buscando convencer a opinião pública sobre as posições australianas.

Além disso é importante lembrar que uma pequena fatia dos consumidores no exterior sabe que o Brasil produz carne e menos ainda que o Brasil tem segurança e qualidade para oferecer. É preciso um trabalho mais ativo para mostrar a uma parcela significativa da carne consumida no mundo é brasileira e essa parcela vai aumentar.

A França é o país mais tradicional na produção de vinhos, mas vem perdendo espaço ano a ano para outros países como Austrália, Chile, EUA, etc. Estes países tem sido mais eficientes em atender os consumidores globais, adequando seus produtos ao gosto e exigência de cada país. Os produtores franceses têm sido bem mais avessos a mudanças e acreditam que apenas a forte e secular tradição do país como produtor de vinhos excelentes irá garantir o mercado.

O Brasil tem que buscar o mesmo, isto é, desbancar os “tradicionais” produtores, uma vez que temos mais vocação do que qualquer país do mundo, para ser o maior fornecedor do mundo de proteína animal de alta qualidade, segura e com custo competitivo.

Está evidente que o Brasil está cada vez mais no centro das atenções, no olho do furacão. Os grandes players do mercado mundial sabem do nosso potencial produtivo e onde podemos chegar.

Hoje são os subsídios e as restrições contra a aftosa, no médio-longo prazo os subsídios tendem a diminuir, no curto prazo a aftosa será controlada. Com certeza teremos novos desafios pela frente e precisamos desde já nos posicionar para informar ao mundo sobre nossas qualidades, sobre como nos preocupamos com segurança alimentar, responsabilidade social, respeito ao meio-ambiente e sanidade.

Nossos concorrentes certamente vão tentar criar novas barreiras contra nossa carne, pois para eles, em igualdade de condições não é possível concorrer, com o enorme volume potencial e o custo mais competitivo do planeta.

0 Comments

  1. Carlos Arthur Ortenblad disse:

    Miguel,

    Com rara precisão, você foi direto à jugular da questão. Nós brasileiros damos demonstrações exuberantes de ufanismo e de nacionalismo.

    Mas quando é para realizar trabalho sério, somos inconstantes e ingênuos.

    O fato é que NINGUÉM CEDE PODER graciosamente. Qualquer espaço tem que ser conquistado, e nós ainda estamos engatinhando em realizar um verdadeiro trabalho de “marketing”, que, como você sabe bem melhor do que eu, não se resume a “vender”, e sim a desenvolver e consolidar marcas, hábitos e conceitos.

    Até hoje me espanta que nenhuma ONG, ou mais ainda o governo brasileiro não tenham confrontado os países ricos com um desafio: se acham que a Amazônia é um “bem da humanidade” que deve ser preservado, PAGUEM POR ELA.

    Embora eu seja ardente defensor da preservação ambiental, não me escapa o cinismo de certos países que já foram cobertos de matas (como a Inglaterra, que praticamente devastou todas as matas de carvalho), ou os Estados Unidos que sozinhos, representam 33% da poluição atmosférica do planeta – se arvorarem no direito de nos darem lição de moral.

    Parabéns pelo excelente artigo, e tenhamos fé que a competência do Pratini de Moraes (presidente da ABIEC) com o indispensável respaldo do governo federal, consiga reverter a tentativa de criar uma imagem negativa à pecuária nacional.

    Nós seremos alvo deste tipo de trapaça em qualquer produto agrícola em que sejamos competitivos.

    Abraço,

  2. George Danielides disse:

    Miguel,

    Parabéns pela abordagem e concordo plenamente que ainda temos alguns desafios pela frente até consolidarmos o posto de maior exportador mundial de carnes bovinas.

    Destaco três desafios fundamentais, começando por uma melhor e maior UNIÃO DA CADEIA PRODUTIVA da carne bovina.Com todos os setores (governo, produtores, indústrias, associacões, etc) trabalhando juntos, mostrando coesão e firmeza, teríamos uma resposta a altura do boicote britânico à carne brasileira, bem como a qualquer tipo de boicote internacional dos nossos produtos. Além disto, conseguiríamos uma expressiva melhoria nos sistemas de produção com uma rastreabilidade confiável e melhoria na comercialização dos nossos produtos com um sistema de classificação de carcaças funcional.

    Um MARKETING AGRESSIVO que promova nosso país, nossa cultura e nossos produtos é outro desafio a ser alcançado. Precisamos mostrar ao mundo que produzimos com qualidade e segurança, sem esquecer da responsabilidade social e ambiental.

    A SANIDADE ANIMAL é um desafio tão importante quanto os outros. Temos que estar em vigilância permanente, tanto aqui quanto lá fora, para as possíveis mudanças na legislação e o aumento do protecionismo.Isto é exatamente o que os nossos concorrentes tentarão fazer para impedir nosso acesso a novos e promissores mercados.

  3. Guilherme Azevedo Sodré disse:

    Miguel parabéns.

    O seu trabalho e do BeefPoint são muito importantes e sem dúvida estão inseridos nesta ascenção da pecuária brasileira.

    Muito oportuna a lembrança da manutenção da posição de mercado que acabamos de conquistar. É a visão de quem olha a linha do horizonte.

  4. PAULO DE TARSO SILVEIRA disse:

    Caro Leitor,

    A opinião do Miguel, de que falta aos brasileiros uma maior união, é uma meia verdade. Na realidade, o Brasileiro só não é unido nas questões profissionais, porque nos assuntos “sociais” somos mestres no associativismo. Para comprovar minha tese, convide dez de teus funcionários ou concorrentes, sócios, acionistas… para discutirem algum assunto de interesse conjunto e, garanto-lhe que deverão aparecer três ou quatro gatos pingados, e ainda por cima, dois terão que buscar os filhos deus sabe onde e o outro, com certeza, estará com a sogra em casa, portanto, também, terá que deixar a reunião mais cedo. Agora, convide estas mesmas pessoas para um grande churrasco, com bastante cerveja, caipirinha e tudo mais; e terá que soltar o Pit-Bull, para se ver livre dos vinte ditos-cujos(dez convidados mais outros dez bicões). Caso estas situaçòes ocorressem nos EUA, o resultado seria exatamente ao contrário.

    Ou seja, quando se trata de assuntos profissionais, de interesses mútuo os Americanos são extremamente gregários e nós totalmente desunidos, quando o interesse é fazer festa nós somos de primeiro mundo e eles uma negação.

    Ainda bem que Deus é Brasileiro!!!

    Um Abraço a todos,