Pela Diretoria Técnica da ABCZ
Muito tem se falado sobre o papel da ABCZ no processo de implantação do Sistema Brasileiro de Certificação de Origem Bovina e Bubalina SISBOV: ataques gratuitos, alguns sem fundamentos e, sobretudo, sem conhecimento da postura real da ABCZ frente ao sistema de identificação animal proposto como início do processo de rastreabilidade da carne bovina brasileira.
É necessário lembrar que o Brasil tomou a decisão de levar à frente a implementação do sistema de rastreabilidade depois de ter dificuldades com a União Européia em rastrear a procedência de quase cem cabeças de gado, importadas da Hungria e da Áustria, entre 1980 e 1996, dentro da classificação, imposta por Bruxelas aos seus parceiros comercias, de risco geográfico da ESB (encelopatia spongiforme bovina), a doença da vaca louca.
Legalmente, todo importador do mercado comunitário é responsável por seus produtos comercializados e a UE não pode impor obrigações de rastreabilidade a fornecedores de outros países. Porém, o importador tem a responsabilidade de saber a origem de seu produto e, na prática, os importadores europeus acabam por requerer que os fornecedores tenham o sistema de rastreabilidade implementado em seus países, o que levou o Brasil a optar por implantar o SISBOV de forma a facilitar o comércio com a Europa. A implantação do sistema brasileiro de rastreabilidade funcionou como pré-requisito e os certificados de exportação à UE apenas são emitidos se a carne contiver a etiqueta do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina, o SISBOV, que hoje, nada mais é do que um banco parcial de dados dos bois brasileiros. A agenda de rastreabilidade no Brasil foi determinada pelo governo brasileiro e nunca foi uma exigência explícita da União Européia. Porém sempre foi colocado pela ABCZ que a decisão de criar o SISBOV foi tecnicamente correta, mas a sua implementação sempre foi questionada por nós, procurando a sua viabilização de forma simples coerente e, sobretudo, com benefícios para o pecuarista.
O que é inquestionável é a necessidade que tem o Brasil – se quisermos consolidar nossa posição de vanguarda como exportadores – de antecipar as tendências e acompanhar a dinâmica nas principais vertentes de inovação, a fim de garantir a capacidade de incorporar, de forma contínua e sustentada, avanços simultâneos nos sistemas de retro-alimentação da produtividade e da qualidade da nossa carne. Para que isso ocorra a velocidades comparáveis ou superiores à velocidade de avanço tecnológico dos nossos competidores, os quais todos estão com o processo de rastreabilidade em andamento, o Brasil necessitará definir, de forma rápida, uma estratégia para lidar com incertezas geradas pela desinformação daqueles que adotaram posições extremas e irracionais de que o boi do capim não precisa cumprir requisitos que os mercados globalizados impõem e que nunca participaram do processo de negociações entre governo e setor produtivo para tentar uma saída para o Brasil sem comprometer a nossa imagem, sem que esta postura, diga-se de passagem, represente a nossa concordância incondicional com algumas das normativas que foram editadas sobre o tema da rastreabilidade bovina brasileira.
Boa parte das críticas feitas ao sistema foi apontada pela ABCZ no dia do lançamento do SISBOV no governo anterior onde fomos surpreendidos pela obrigatoriedade, quando todas as negociações apontavam para a voluntariedade inicial do processo. Fomos os primeiros a apresentar formalmente um projeto de Certificação de Propriedade na Câmara Setorial baseado nas seguintes premissas: o Banco de Dados Nacional (BDN) do SISBOV deveria ser reestruturado para o registro de propriedades, visando a certificação de origem através do cadastro nacional de propriedades do SISBOV e dos protocolos de controle de propriedades definidos pelo SDA/MAPA, sendo que a responsabilidade de implantação ficaria a cargo das Secretarias Estaduais da Agricultura. Sempre defendemos a implantação de um processo voluntário que permitisse criar um novo patamar de negócio que valorizasse de forma justa o produtor, modular para aprender a lidar com diferentes situações e sistemas de produção, inteligente para aproveitar as estruturas estaduais de defesa animal, tecnicamente consistente utilizando sistemas com possibilidade de crescimento a um custo baixo para o produtor e, sobretudo, flexível para atender diferentes sistemas de produção. Também fomos os primeiros a propor a linkagem do banco de dados das associações delegadas do Serviço de Registro Genealógico de Gado Puro ao banco de dados do SISBOV, como também fornecemos subsídios e prestamos esclarecimentos sobre conceitos de rastreabilidade à Câmara de Deputados, antes da audiência pública no Congresso Nacional, audiência esta, que levou a uma ampla discussão sobre a viabilidade do SISBOV e desencadeou as últimas alterações do sistema. A ABCZ esteve sim no centro de discussões, exercendo e defendendo a sua classe e seus interesses.
Não é certo que a Comunidade Européia não faz nenhuma exigência, ela impõe regras de regulamentação de mercado. Seria bom que os incrédulos tomassem conhecimento de que a Comunidade Européia fixou de forma clara as medidas e os métodos que definem as novas diretrizes a serem adotadas e são evidentes as referências que concernem à abertura dos mercados globais à carne bovina brasileira. As garantias de manutenção de elevados padrões de segurança alimentar e suas diretrizes foram definidas de forma clara no Livro Branco Sobre a Segurança dos Alimentos da UE (Comissão das Comunidades Européias. Bruxelas, 2000), cuja leitura é importante quando se deseja antecipar tendências para adaptar-se às barreiras não tarifárias que vão e/ou estão sendo impostas ao agronegócio brasileiro. De forma sucinta, estas novas exigências às que o Brasil precisa adequar-se são:
1 – Legislação em matéria de segurança dos alimentos. Torna-se indispensável um conjunto de medidas destinadas a melhorar e tornar coerente o corpo da modernização da legislação que abrange todos os aspetos associados aos produtos alimentares da sua origem até o consumidor. O novo quadro jurídico deverá abranger toda a cadeia, incluindo a produção de alimento para animais, estabelecer um nível elevado de proteção da saúde do consumidor e atribuir claramente a principal responsabilidade pela produção de alimentos seguros à indústria, aos produtores e aos fornecedores. Normatizar os controles capazes de seguir os produtos ao longo da cadeia produtiva e ter sempre como base pareceres científicos reconhecidos internacionalmente. Basear-se no princípio da precaução e criar condições de tomar medidas de salvaguarda rápidas e eficazes em resposta a emergências sanitárias em toda a cadeia alimentar.
2 – Controles da segurança dos alimentos. A abordagem deverá ser global e integrada, conduzindo a uma política alimentar mais coerente, eficaz e dinâmica, que deverá provocar uma mudança capaz de sanar as atuais e múltiplas lacunas dos serviços de defesa animal limitados pelos seus atuais procedimentos setoriais e rígidos, que têm restringido a capacidade de responder com rapidez e flexibilidade aos riscos para a saúde humana. Deverão ser desenvolvidos procedimentos de execução mais rápidos e fáceis de utilizar. A análise de risco deve constituir a base da política de segurança dos alimentos tendo sempre em conta o princípio da precaução através da rastreabilidade dos alimentos para consumo humano e dos alimentos para animais, bem como dos respectivos ingredientes. Convém sublinhar, no entanto, que este rastreamento inequívoco total é uma questão complexa que deve tomar em conta a especificidade dos diferentes setores e produtos.
3 – Informação dos consumidores. Para que os consumidores considerem que as ações propostas conduzem a uma verdadeira melhoria dos padrões de segurança dos alimentos e retomem o consumo, é necessário que sejam devidamente informados. Os consumidores têm o direito de esperar que lhes sejam fornecidos informações úteis e claras sobre a qualidade e os constituintes dos alimentos, de forma a poderem escolher com conhecimento de causa. A política de transparência a todos os níveis da produção deverá contribuir fundamentalmente para aumentar a confiança dos consumidores na política de segurança dos alimentos.
4 – Política ambiental. A produção e o consumo de alimentos é fundamental em qualquer sociedade e tem conseqüências econômicas, sociais e, em muitos casos, ambientais. Embora a proteção da saúde seja sempre prioritária, as questões ambientais devem ser levadas em consideração, no âmbito da política alimentar. Além do mais, o estado e a qualidade do ambiente, dos ecossistemas, podem afetar diversas fases da cadeia alimentar. A política ambiental desempenha, pois um papel importante quando se trata de garantir ao consumidor a segurança dos alimentos.
É obvio que ninguém obriga o Brasil a implantar um ou outro sistema, mas o país precisa antecipar tendências e este tem sido o tom da política da ABCZ frente ao SISBOV, uma posição responsável, provocando discussões nos fóruns adequados, com críticas fundamentadas e, sobretudo, gerando conhecimento para o bem do país.
A criação da ABCZ CERTIFICADORA foi uma atitude responsável frente a uma obrigatoriedade – sempre contestada por nós – de rastrear duplamente os zebuínos portadores de registros PO e LA, mas nos termos da lei naquele momento foi a melhor solução sem dúvida para rastrear os animais que deveriam obrigatoriamente estar na base de dados do SISBOV para participar de leilões e exposições, situação que hoje já está modificada, graças a ações nas quais a ABCZ sempre esteve presente. Sempre defendemos que o papel de uma certificadora não é a identificação animal e sim ser o terceiro agente capaz de auditar e validar a conformidade de processos, produtos e propriedades. Esta é a nossa visão e os rumos que estamos tomando na velocidade permitida pelas normas em vigor, ditadas pelo ambiente institucional.
Podemos afirmar que ABCZ teve atitude, ousadia, maturidade e compromisso com a nossa classe e com os interesses nacionais, frente a todas as discussões sobre o SISBOV. Não podemos admitir críticas geradas pelo desconhecimento sobre a postura transparente e ética da entidade frente à discussão de temas de importância capital para a pecuária brasileira.
Finalmente podemos afirmar que, após três anos de dedicação a este tema, o SISBOV precisa evoluir para ser um sistema factível de ser implantado no país, mas querer negar a sua importância para o futuro da carne brasileira é simplesmente desconhecimento das tendências mundiais.
0 Comments
Sou responsável técnico de uma certificadora e tenho visto muita gente emitir opiniões sobre o SISBOV, seja na imprensa, seja na internet, e estas opiniões quase sempre vêem carregadas de verdades que merecem ser consideradas e discutidas para o aperfeiçoamento do SISBOV, como também na maioria das vezes carregam em suas entrelinhas uma incredulidade e uma verdadeira repulsa por qualquer tipo de controle sobre o nosso rebanho, o que acaba gerando um desconhecimento geral nos produtores responsáveis que felizmente são a maioria.
Vou então colocar alguns pontos que acho importantes e devem ser discutidos se queremos continuar sendo o maior exportador mundial de carnes.
1- A certificação de origem, inclua-se aí a rastreabilidade é uma exigência da união européia sim, mas não uma exigência especifica ao Brasil, é uma exigência feita a quem quiser exportar para eles, inclusive entre os países membros da união européia quando comercializam entre si, ela é exigida, e diga se de passagem que paises como Austrália, Canadá, EUA, estão desenvolvendo sistemas de rastreabilidade a toque de caixa para poder disputar mercados, veja o exemplo de nosso vizinho e concorrente a Argentina, que esta se baseando no SISBOV para criar o seu sistema, visto que a rastreabilidade vai ser pré-requisito para exportação.
2- Muito tem se falado em certificação de propriedade em vez de identificação individual, acho que isto é uma tentativa de acabar com o SISBOV, pois vejamos: quem em sã consciência daria um certificado de conformidade para uma propriedade, sem que haja uma identificação individual de seu rebanho, pois como garantir que boi que morreu no dia tal, no frigorífico tal, é o bezerro que nasceu naquela propriedade no dia tal, sem identificação individual não existe rastreabilidade, dai a má-fé daqueles que pregam rastreabilidade ou certificação por propriedade, talvez estes órgãos “representativos” da categoria se dispusessem a faze-lo, pois isto viraria um me engana que eu gosto, as secretarias de agricultura dos estados não aceitaram este papel, pois isto demandaria recursos de pessoal e financeiro que muitas não tem.
3- Quanto ao papel das certificadoras, acredito que boa parte da resistência ao SISBOV pelos ditos “representantes” vêem mais em função do papel delegado pelo MAPA as certificadoras, que propriamente ao SISBOV, e aí a culpa é das certificadoras e do MAPA, que deixou que a primeira impressão de que as certificadoras eram um cartório mal intencionado em relação ao pecuarista ficasse, isto quando eram apenas uma meia dúzia delas, hoje isto não mais existe, o MAPA, soube como corrigir o problema e hoje com poucas exceções todas operam dentro das normas, é inegável também que as certificadoras como operadoras do sistema precisam evoluir em seus conceitos para que possam pleitear um papel de relevância, passando a certificar qualidade e não somente rastreabilidade, pois vem aí o SISBOV II que é a Classificação de Carcaça, onde a rastreabilidade terá prosseguimento da hora do abate até a mesa do consumidor, fechando se o ciclo do controle de qualidade da carne, porque não as certificadoras. Serem responsáveis também por este processo que ira repito fechar o ciclo da qualidade do alimento CARNE.
4- Por último gostaria que as opiniões em relação ao SISBOV fossem mais técnicas e menos emocionais, e buscassem aperfeiçoar o sistema, pois vejam hoje ainda estamos discutindo datas e que fica e quem sai do sistema, em vez e estarmos discutindo formas de aperfeiçoar o SISBOV em sua operacionalidade para darmos mais credibilidade ao consumidor nacional e internacional da nossa carne, e evitarmos assim barreiras ditas sanitárias ao nosso rebanho, e só conseguiremos isto com SISBOV cada vez mais forte, vamos também avançar no sentido de buscarmos já, a próxima exigência do mercado mundial que é o bem estar animal associado à consciência ambiental, pois isto pode se tornar problema, não o SISBOV, que com ajustes é um programa vitorioso e ao meu ver não tem volta como muitos desejam.
Não conheço de perto a ABCZ e só vejo o resultado do trabalho capitaneado por esta entidade na melhoria da pecuária nacional, mas conheço produtores e profissionáis ligados ao núcleo nelore de minha cidade – Governador Valadares MG – e por consequência ligados à ABCZ, e são todos sérios e comprometidos com os princípios da ABCZ.
Porém, em meados deste ano de 2004, houve uma palestra sobre rastreabilidade (uma das várias ocorridas) no sindicato rural, onde estavam como palestrantes um veterinário da certificadora que não era a ABCZ (que acho mais correto chamá-la de idêntificadora, já que não certificava processo algum) e um zootecnista ligado à ABCZ. Houve um debate acalorado de minha parte com os profissionáis, já que acredito na rastreabilidade (de fato) nos moldes defendidos pelo Dr. Pedro Camargo Mariano. Mas lá pelas tantas, o zootecnista tentou argumentar em prol da rastreabialidade, demonstrando com gráficos e números, a grande vantagem econômica que era se rastrear um animal, já que tal custo seria irrisório se levado em conta o “plus” pago por arroba de animais rastreados e que tal custo seria ainda menor caso o pecuarista fosse filiado à ABCZ e o fisesse através da ABCZ Certificadora. Ora, isso foi a gota d’água! Qualquer pessoa mais esclarecida sabe que frigorífico algum na quase totalidade dos casos não pagou bônus nenhum pela arroba do animal rastreado, e sim depreciou absurdamente o não rastreado, promovendo uma extraordinária transferência de renda do setor produtivo para a indústria da carne!
Tanto o é verdade que neste instante eu simplesmente afirmei que eles estavam iludindo o produtor com tal falácia.
Acho que por essas e por outras que a ABCZ sofreu muitas críticas…
Cordialmente,