Fechamento 12:01 – 04/10/01
4 de outubro de 2001
Frigorífico gaúcho está prestes a exportar carne bovina para a Bélgica
8 de outubro de 2001

O efeito do zinco na maciez da carne de bovinos de corte

Carla M.S. Pedreira 1

Introdução

A maciez da carne é provavelmente a característica organoléptica mais importante da mesma (KOOHMARAIE, 1990). É sabido que o amaciamento pós-morte se dá pela hidrólise das proteínas miofibrilares, mas sendo que o sistema proteolítico das proteases cácio-dependentes (Calpaína e Calpastatina) apresentam importante papel nesse amaciamento.

A infusão de carnes com ZnCl2 bloqueia completamente o processo de amaciamento da carne (porque o zinco inibe as calpaínas e catepsinas B e L), a fragmentação miofibrilar e a proteólise de proteínas musculares específicas (KOOHMARAIE, 1990; KOOHMARAIE & WHIPPLE, 1991).

A influência do zinco nos valores de força de cisalhamento não está bem definida, sendo a mesma dúvida relacionada à influência do zinco na maciez da carne, principalmente de bovinos de corte.

Metabolismo do Zinco

O zinco é essencial para a normal homeostase celular, com um importante papel na regulação do crescimento celular, síntese e/ou atividade de numerosas enzimas e como um constituinte de várias metaloenzimas. Um excesso ou deficiência deste elemento traço interfere com o metabolismo celular. O zinco, ainda, pode ser benéfico para o controle de eczema facial em ruminantes (FIELD et al., 1985; DOYLE & SPAULDING, 1978).

A ingestão em excesso de zinco causa redução do consumo de alimentos e a redução do ganho de peso e redução da eficiência. Estas reduções são caracterizadas como os primeiros sintomas de intoxicação por zinco. Ainda, o excesso de zinco reduz a calcificação dos ossos e a atividade enzimática nos tecidos, aumento do zinco sérico e orgânico, alteram a ingestão ruminal, atua diretamente no metabolismo de lipídeos, além de interferir no metabolismo de ferro e cobre de animais não-ruminantes e carneiros (FEASTER et al., 1954; OTT et al., 1966 a,b,c; HUBER & GERSHOFF, 1973).

A deficiência de zinco reduz sua excreção pelas fezes (conservação homeostática), e o aumento da excreção de zinco pela urina (quando comparada com as perdas de zinco via fezes), aumenta a absorção líquida de zinco, redução nos valores de zinco nos tecidos e nas perdas endógenas (MILLER et al., 1968).

A absorção do zinco é feita 35% no abomaso e com menor absorção no intestino (talvez no ceco). O zinco absorvido é fixado em parte ao nível do fígado, enquanto que o zinco circulante é ligado a fração * das globulinas. A secreção de zinco endógeno é realizada na parte superior do intestino delgado. E em bovinos, a porcentagem de absorção diária de zinco é de 12% em vacas adultas; 20% em bezerros de 5-12 meses e de 55% em bezerros de 1 semana de idade (MILLER et al., 1965).

FEASTER et al. (1954) observaram que apenas 10% do zinco é absorvido no trato intestinal, e que o zinco fornecido por via oral faz com que o animal excrete mais zinco (20,7%) do que quando o zinco é injetado por via endovenosa (0,24-0,39%) e que a retenção de zinco é maior (79%) quando aplicado por via endovenosa. Em experimento realizado por SCHRICKER et al. (1982), foi constatado que entre animais a concentração de zinco é a mesma, mas sendo que dentro de um mesmo animal, existe diferenças entre a concentração de elementos entre os músculos. Neste mesmo trabalho, o autor cita como os teores de zinco na base seca, para bovinos, carneiros e porcos os seguintes resultados: 39,0-53,5 *g/g; 13,9-28 *g/g e 28,2-36,9 *g/g. MILLER et al. (1967) citam que em ruminantes, todo o alimento não-ingerido é excretado após 6 dias, considerando que todo o zinco excretado durante a primeira semana após tratamento é de origem endógena.

Zinco X Maciez da Carne

KOOHMARAIE (1990) e WHIPPLE & KOOHMARAIE (1991) infundiram ZnCl2 em carcaças de ovinos para determinar seu efeito na proteólise pós-morte e na maciez da carne. Seus resultados indicaram que a infusão com ZnCl2 bloqueou a proteólise pós-morte e a tenderização devido o Zn+2 inibir as atividades das calpaínas e catepsinas B e L. Foi observado, também, que o zinco apresentava relação positiva com a força de cisalhamento (shear force) e a maciez da carne.

FIELD et al. (1985), estudando os efeitos do excesso de zinco sobre características de carcaças, observaram que os tratamentos com zinco não modificaram a umidade, a concentração de zinco, o pH muscular, os valores de cisalhamento, a cor ou o conteúdo de carne magra; mas houve redução na correlação entre a concentração de zinco e a maciez da carne. Em adição, a concentração de zinco no músculo em combinação com outros íons, também tem sido correlacionada positivamente com a força de cisalhamento, e portanto, com a maciez da carne (VAVAK et al., 1976; SEIDEMAN et al., 1984).

SCHRICKER et al. (1982), comparando a concentração de zinco com quatro músculos de bovinos, suínos e caprinos; observou que entre as espécies, o músculo triceps brachi apresentou maior concentração de zinco. Em experimentos realizados por OTT et al. (1966 a,b,c) tentou-se determinar se a palatabilidade era um fator de consumo de dietas contendo elevados níveis de zinco. Nesses experimentos foram observados que com níveis maiores de 3,0 gramas de zinco/kg de ração, houve seleção do material. Altos níveis de zinco fizeram com que o consumo de sal mineral fosse aumentado. E que, doses acima de 1,0 grama de zinco já poderiam ser consideradas tóxicas.

Conclusões

A utilização de zinco (infusão ou marinação com ZnCl2) é um método não recomendado para o amaciamento da carne, uma vez que ao contrário do que se espera a infusão de carnes com ZnCl2 inibe o processo de amaciamento da carne (inibe as calpaínas e catepsinas B e L), a fragmentação miofibrilar e a proteólise de proteínas musculares específicas.

Bibliografia Consultada

DILES, J.J.B.; MILLER, M.F.; OWEN, B.L. Calcium chloride concentration, injection time, and aging period effects on tenderness, sensory, and retail color attributes of loin steaks from mature cows. Journal of Animal Science, 72(8): 2017-2021, 1994.

DOYLE, J.J.; SPAULDING, J.E. Toxic and essential trace elements in mea – a review. Journal of Animal Science, 47(2):398-419, 1978.

FEASTER, J.P.; HANSARD, S.L.; McCALL, J.T.; SKIPPER, F.H.; DAVIS, G.K. Absorption and tissue distribution of radio zinc in steers fed high-zinc rations. Journal of Animal Science, 13(4):781-788, 1954.

FIELD, R.A.; BENNETT, G.L.; MUNDAY, R. Effect of excess zinc and iron on lamb carcass characteristics. New Zealand Journal of Agricultural Research, 27(3):349-355, 1985.

HUBER, A.M.; GERSHOFF, S.N. Effects of dietary zinc on zinc enzymes in the rat. Journal of Nutrition, 103: 1175-1181, 1973.

KOOHMARAIE, M. Inhibition of postmortem tenderization in ovine carcasses through infusion of zinc. Journal of Animal Science, 68(5): 1476-1483, 1990.

MILLER, W.J.; CRAGLE, R.G. Gastrointrestinal sites of absorption and endogenous secretion of zinc in dairy cattle. Journal of Dairy Science, 48(3): 370-373, 1965.

MILLER, J.K.; BLACKMON, D.M.; GENTRY, R.P.; PITTS, W.J.; POWELL, G.W. Absorption, excretion, and retention of orally administered zinc-65 in various tissues of zinc-deficient and normal goats and calves. Journal of Nutrition, 92(1): 71-78, 1967.

MILLER, J.K.; MARTIN, Y.G.; GENTRY, R.P.; BLACKMON, D.M. Zn and stable absorption, excretion and tissue concentrations as affected by type of diet and level of zinc in normal calves. Journal of Nutrition, 94(3):391-401, 1968.

OTT, E.A.; SMITH, W.H.; HARRINGTON, R.B.; BEESON, W.M. Zinc toxicity in ruminants. II. Effect of high levels of dietary zinc on gains, feed consumption and feed efficiency of beef cattle. Journal of Animal Science, 25(2):419-423, 1966a.

OTT, E.A.; SMITH, W.H.; HARRINGTON, R.B.; MARTIN STOB; PARKER, H.E.; BEESON, W.M. Zinc toxicity in ruminants. III. Physiological changes in tissues and alterations in rumen metabolism in lambs. Journal of Animal Science, 25(2):424-431, 1966b.

OTT, E.A.; SMITH, W.H.; HARRINGTON, R.B.; PARKER, H.E.; BEESON, W.M. Zinc toxicity in ruminants. IV. Physiological changes in the tissue of beef cattle. Journal of Animal Science, 25(2):432-438, 1966c.

SCHRICKER, B.R.; MILLER, D.D.; STOUFFER, J.R. Content of zinc in selected muscles from beef, pork and lamb. Journal of Food Science, 44(3): 1020-1022, 1982.

SEIDEMAN, S.C.; CROSS, H.R.; CROUSE, J.D. The effect of sex and age on the textural properties and mineral content of beef steaks. Journal of Food Quality, 7: 91-95, 1984.

VAVAK, L.D.; SATTERLEE, L.D.; ANDERSON, P.C. The relationship of cardiac shear and trace element content to beef muscle tenderness. Journal of Food Science, 41(4):729-731, 1976.

WHIPPLE, G. & KOOHMARAIE, M. Degradation of myofibrillar proteins by extractable lysosomal enzymes and m-calpain and the effects of zinc chloride. Journal of Animal Science, 69(11): 4449-4460, 1991.

________________________________________

1Doutoranda CPG- Ciência Animal e Pastagens – USP-ESALQ

Os comentários estão encerrados.