O País tem o maior rebanho bovino comercial do mundo, acelera os investimentos em genética, alimentação, saúde animal e bate recordes seguidos de exportação de carne vermelha. A produtividade aumenta e já somos os terceiros maiores no comércio mundial. Mesmo nossos concorrentes entendem que em alguns anos seremos líderes em vendas externas de carne vermelha. Eles não estão errados, pois expuseram isso de forma explícita no Yearly Congress of the British Cattle Breeders Club (Congresso Anual dos Pecuaristas Britânicos) realizado em janeiro, do qual participei. Especialistas renomados debateram os mais importantes temas ligados à pecuária mundial, o futuro da atividade e os países que estão mais propensos a receber investimentos no setor.
Relaciono duas características fundamentais para o bom momento atual e o fantástico potencial da nossa pecuária. Primeiro: o pecuarista brasileiro é um abnegado, um perfeccionista. Eu não disse apaixonado, porque paixão é algo que nutrimos com sentimentalismo. O produtor aprendeu, especialmente nos últimos anos, quando o preço da arroba do boi gordo perdeu fôlego em dólar, que só com profissionalismo a atividade é rentável. Segundo: as condições do País são extremamente favoráveis para a agropecuária. Afinal, há extensões a conquistar e qualidade de terra. Segundo especialistas, o Brasil ocupa apenas metade das áreas de produção que tem para criar ou plantar.
Nesse sentido, é questão de tempo para o Brasil aumentar consideravelmente a oferta de carne bovina de qualidade – com respeito ao meio ambiente e segurança alimentar – para aproveitar as oportunidades comerciais já existentes, conquistar outros clientes e atender rapidamente o mercado externo. Veja porque: A Austrália, maior exportador de carne bovina do mundo, possui rebanho de apenas 25 milhões de cabeças e não tem mais espaço para expandir. Pois bem, só no estado do Mato Grosso do Sul estão 24 milhões de cabeças, de um total de 170 milhões de bovinos. Além disso, a Austrália passa por problemas crônicos, como a seca e os altos custos envolvidos na atividade pecuária. Os australianos são hoje os maiores exportadores de carne porque souberam investir e administrar bem o que têm. Com apenas 18 milhões de habitantes, o país não tem grande mercado interno, por isso voltou-se para as exportações. Mas a tendência é o Brasil abocanhar uma saborosa fatia desse bolo.
Esse cenário é favorável porque nos últimos anos os pecuaristas passaram a tratar seu negócio de forma profissional. Rastreabilidade, sanidade, gestão agropecuária, genética e manejo são conceitos cada vez mais populares na atividade. A Agropecuária Jacarezinho, empresa que dirijo, vem adotando essas práticas evolutivas desde sua aquisição, há 10 anos, pelo Grupo Grendene. Hoje, graças a essa forma de administrar, sempre investindo em tecnologia, somos uma das maiores organizações agropecuárias de melhoramento genético nas raças Nelore e Braford, além de sermos um dos grandes fornecedores de carne para consumo interno e exportação.
Todo esse investimento já tem reconhecimento mundial. A carne brasileira já é mais comprada que vendida. Ou seja, os compradores vêm ao Brasil solicitar o produto mais do que o Brasil vai a eles oferecer. Pior para os competidores. Além da situação desfavorável para a Austrália, é preciso citar a União Européia, um verdadeiro continente com pesados subsídios a defender o seu território. Mas, também em relação à UE, é possível prever drástica mudança nas relações econômicas nos próximos anos, com vantagens para a carne brasileira. Veja: Até 2005, a UE agregará mais dez países do bloco europeu, entre os quais Estônia, Lituânia, Polônia, Tchecoslováquia, entre outros. Vale lembrar que esses países são fortes em agronegócios e convivem sem subsídios, uma marca das nações integradas à União Européia. Ou seja, a questão dos subsídios tem de ser equacionada rapidamente. Atualmente, a pecuária dos países-membros da UE recebe subsídios na faixa de 64%. É muito possível que sem essa subvenção oficial ocorreria graves problemas na atividade, com possível quebra de produtores, mas a UE não tem condições de pagar subsídios para os dez países que entrarão no bloco em 2005, o que significa que haverá mudanças na sistemática atual. Aí, com menores subsídios para se defender, as barreiras à nossa carne poderão ser mais facilmente vencidas.
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Parabens pelo artigo Ian,
Voce apontou muitas coisas importantes. O Brasil com certeza tem um potencial incrível para a producao de carne bovina e como citado não totalmente explorado.
Estamos e temos muito ainda o que aprimorar, melhorar e desenvolver na pecuária nacional.
O exemplo da Jacarezinho é muito importante, quando mencionado o investimento em tecnologia e gerenciamento, pois só assim com uma visão dinâmica conseguiremos atingir o topo.
Quanto ao subsídio na Europa, isso realmente é um fato, os países que possuem este auxílio, na minha opinião continuarão recebendo ajuda pois muito deles dependem deste dinheiro para manter os pequenos produtores vivos, o que naquela região contribui muito para a indústria do turismo.
Muito bem colocado foi o comentário a respeito dos países que entrarão no grupo em 2005, concordo também que essa “porta” será definitivamente importante para as barreiras da carne Brasileira.
São louváveis e sábias as argumentações e o posicionamento do sr. Ian David Hil em seu artigo “O futuro da pecuária no Brasil é animador”, contudo não devemos nos esquecer do longo caminho a percorrer pelos pecuaristas brasileiros.
Estamos defronte de questões polêmicas e ainda mal compreendidas, como a questão da rastreabilidade.
Temos sim que valorizar nosso produto perante o mercado internacional e capacitar o produtor a viabilizar seu negócio, porém, não podemos aceitar passivamente que nos introduzam “goela a baixo” mais imposições que favoreçam o protencionismo de certos países.